É possível, sim, auditar e recontar votos, ao contrário do que afirma vídeo

Youtuber engana também ao falar que sistema eleitoral brasileiro é fraudelento

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São Paulo

Um vídeo publicado no YouTube engana ao dizer que não há como fazer recontagem e auditoria nas eleições brasileiras para tentar sustentar argumento de que a votação em São Paulo foi fraudada. Existem várias formas de auditar o processo eleitoral brasileiro, antes, durante e após o pleito, estabelecidas na Resolução 23.603/19. A recontagem de votos é prevista no Código Eleitoral, porém, sob circunstâncias específicas. Em seu portal, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) esclarece e disponibiliza informações sobre as auditorias e o funcionamento das urnas eletrônicas.

A publicação, verificada pelo Comprova, também engana ao falar sobre a centralização da totalização e divulgação dos votos. Em entrevista coletiva, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e o secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal, Giuseppe Janino, explicaram que a concentração dos dados se tratou de uma ação estratégica de segurança. “A centralização, no TSE, da totalização dos votos foi adotada a partir de uma recomendação da Polícia Federal para reduzir a quantidade de superfícies de ataque”, disse o ministro Barroso.

Em primeiro plano, na área central, uma urna eletrônica com fios sobre ela e outras urnas na mesma mesa, em sequeência. Atrás da mesa, uma mulher de camiseta estampada, óculos e máscara branca, em pé
Servidora confere urnas eletrônicas - Zanone Fraissat/Folhapress

O autor do vídeo também afirma, sem apresentar provas, que “todo o sistema é fraudado”. De acordo com o TSE, nenhum caso de fraude foi identificado e comprovado no sistema eleitoral eletrônico desde que ele foi adotado, em 1996.

Também é enganoso afirmar que a Smartmatic está envolvida no processo eleitoral brasileiro. O Comprova já verificou isso e constatou que a Smartmatic, que forneceu urnas para a Venezuela, nunca vendeu aparelhos para o Brasil.

Autor do vídeo

Renato Barros é um youtuber declaradamente apoiador da direita. Ele é criador de alguns canais disponíveis na plataforma YouTube.

Em julho de 2019, Renato e outros youtubers de direita se encontraram com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O canal verificado pelo Comprova está desmonetizado há pouco mais de três meses. De acordo com explicações dadas pelo youtuber no próprio canal, a plataforma Youtube classificou o conteúdo como nocivo.

Sobre a questão, o YouTube afirmou que “para que um canal gere receita, ele primeiro precisa ser aceito no Programa de Parcerias do YouTube (YPP, na sigla em inglês)” e atender alguns critérios. A empresa afirmou que “todos os canais no Programa de Parcerias da plataforma são revisados por um ser humano para garantir que atendem os critérios de aprovação. Além disso, passam por revisão periódica, podendo ser removidos do programa”. A remoção pode acontecer, entre outras questões, por tentar gerar receita com vídeos que não são próprios ou não atendem às diretrizes de conteúdo adequado para publicidade.

Sobre conteúdos nocivos, a empresa afirmou que opera com diretrizes da comunidade, ou seja, políticas que descrevem qual conteúdo não é aceitável na plataforma. “Trabalhamos para remover rapidamente material que viola nossas políticas. Usamos uma combinação de pessoas e aprendizado de máquina para detectar, em escala, conteúdo potencialmente problemático”, diz o YouTube, em nota.

Verificação

Em sua terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos suspeitos relacionados à pandemia da Covid-19, a políticas públicas e às eleições. No dia do primeiro turno deste ano, viralizaram postagens a respeito de possíveis fraudes, usando como argumento o atraso que ocorreu na totalização dos votos. As postagens não tinham provas concretas sobre a acusação.

Embora o autor enfatize no vídeo que não tem provas quanto às questões que traz e que se trata da sua opinião, o conteúdo investigado é perigoso pois levanta diversas questões para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro e confirmar uma eventual fraude nas eleições de São Paulo. A publicação no YouTube teve mais de 155 mil visualizações.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano; ou que é retirado de seu contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.

A investigação desse conteúdo foi feita por Mural, Niara, Favela em Pauta e Jornal do Commerio e publicada na sexta-feira (20) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, GZH, Piauí, A Gazeta, Correio e Estadão.

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