Descrição de chapéu Eleições 2020

Márcio França se diz progressista, acena a bolsonaristas e ataca Boulos em sabatina Folha/UOL

Candidato do PSB em à Prefeitura de São Paulo mirou adversário do PSOL; Bandeira de Mello, do Rio, participa de sabatina às 15h

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São Paulo

Candidato a prefeito de São Paulo, Márcio França (PSB) fez acenos a eleitores de esquerda e de direita durante sabatina Folha/UOL nesta terça-feira (3) e disparou ataques contra o rival Guilherme Boulos (PSOL), com quem está tecnicamente empatado em terceiro lugar no Datafolha.

Criticado durante a pré-campanha por ter se encontrado com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), França afirmou que se define como progressista, já que sempre teve "uma vocação para a área social".

A foto com o presidente rendeu ao ex-governador de São Paulo críticas de setores da esquerda. Na sabatina, o candidato disse não se importar com os questionamentos sobre sua posição.

França repetiu o discurso de que convive bem com ideologias diferentes e que dialogará com Bolsonaro se for eleito prefeito. "Acho uma coisa meio 'canseirinha' essa coisa [...]. O fato de o sujeito ser presidente da República ou governador não lhe dá o direito de torcer para que as coisas vão mal", disse.

O ex-governador, que busca angariar o voto anti-Doria na capital, acredita que apoiadores do presidente podem apoiá-lo para brecar as ambições do atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na eleição nacional de 2022.

"Seria meio louco falar: 'eu não aceito voto de quem votou em Bolsonaro'", disse, ao mesmo tempo em que buscou pontuar suas diferenças políticas com o presidente. "Nós não temos nenhuma relação de afinidade, nenhum vínculo partidário."

O representante do PSB afirmou contar com a simpatia de policiais militares e civis, normalmente associados ao bolsonarismo, porque promoveu ações de prestígio às duas carreiras quando governou o estado.

"Pessoas que são ligadas a ele [Bolsonaro], em especial por conta dessa relação militar, votaram em mim [em 2018]."

"A minha vocação sempre foi na área social, o que normalmente se enquadra como progressista. Mas eu não tenho uma tampa nos olhos para não ver algumas coisas que acontecem", acrescentou, emendando alfinetadas em Boulos.

França sugeriu que o adversário do PSOL teria problemas, se eleito, por ser inexperiente em cargos públicos. Isso, segundo ele, pode levar a "problemas contábeis" como os que ocorreram no governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

O ex-governador também atacou o rival ao falar do embate que ambos travam desde o debate da Band, no início do mês passado, sobre a questão da violência contra a mulher.

França disse ter visto desonestidade da parte do adversário por ele ter relembrado na TV uma fala do então governador em 2018 em que França defendeu a tese que a Polícia Militar poderia ser mais eficiente se não tivesse que atender a tantas brigas domésticas.

"É fake news porque eu não falei isso", rebateu. Ele afirmou ainda achar "engraçada a hipocrisia humana" e mencionou um vídeo que voltou a circular no último fim de semana no qual Boulos diz que a polícia não deveria ser chamada em acampamentos sem-teto para resolver problemas, inclusive de violência doméstica.

"Eu vi o Boulos falando que é contra a participação de polícia em briga entre marido e mulher. Nesse caso não tem como ele falar que é fake news, porque ele fala claramente essa história. Qualquer caso de agressão é caso de polícia", afirmou França.

Em outra estocada no oponente, o ex-governador disse que "o PSOL defende a extinção da Polícia Militar, o Boulos deve defender também". "Eu respeito as posições deles, mas acho que são radicais demais, liberação de droga, algumas coisas que não compactuam com aquilo que eu mesmo acredito."

França também fez críticas a Doria e ao prefeito Bruno Covas (PSDB), que é candidato à reeleição e lidera as pesquisas de intenção de voto, a respeito da gestão da pandemia do coronavírus.

O candidato do PSB chegou a mencionar implicitamente a questão da saúde de Covas, que ainda passa pelo tratamento de um câncer, mas tem a doença controlada.

"Esse sentimento de convocação [a ser candidato] foi porque eu tenho absoluta certeza de que, se eu não for eleito, vai ser o Bruno [Covas], que está numa fragilidade especial nesse momento por diversos motivos. Mas em especial porque ele é refém de um grupo de vereadores, com 40 e tantos vereadores, que tomaram conta da prefeitura e ele apenas deixa rolar. Ainda tem o Doria pra se meter, achando que já é candidato à Presidência da República", disse França.

A doença de Covas também foi usada politicamente por Celso Russomanno (Republicanos), que está em segundo lugar nas pesquisas. Na semana passada, ele afirmou que Covas não terminaria um novo mandato e, quando questionado sobre o motivo, afirmou que "quem tem que responder é o médico dele".

Ao falar de propostas para moradia, tema em que Boulos atua como líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), França ironizou o oponente por ter dito que já construiu 20 mil casas.

Nesse ponto, o ex-governador defendeu a proposta de distribuição de lotes para construção de moradias, medida semelhante ao que foi implementado em São Paulo na gestão Luiza Erundina (1989-1993), que foi prefeita pelo PT, já foi colega de França no PSB e hoje é candidata a vice na chapa de Boulos.

Os lotes urbanizados, segundo França, são mais rápidos e mais econômicos. A ideia é distribuir lotes de 125 metros quadrados e dar R$ 8.000 para que cada família construa sua casa.

No centro da cidade, o candidato defendeu que prédios antigos e abandonados sejam reformados para oferecer apartamentos de 50 metros quadrados aos sem-teto. França afirmou que a existência de 28 mil moradores de rua na cidade é “um carimbo de incompetência coletiva”.

O ex-governador afirmou ainda que é preciso acabar com ocupações em áreas de manancial e afirmou que, como o PT e o MTST, o PSDB também é conivente e explora economicamente esses acampamentos.

“Na Estrada do M'Boi Mirim, que vai para a zona sul, não há um poste que não tenha uma plaquinha dizendo ‘vende-se terreno de R$ 25 mil’, com aval ou pelo menos sob os olhos tranquilos da subprefeitura. É evidente que isso está sendo feito por alguém. É uma certa falta de pulso que instiga as pessoas a fazerem as ocupações totalmente tortas", disse.

França falou ainda sobre a proposta de microcrédito para empreendedores. Ele pretende emprestar R$ 3.000 sem juros e sem burocracia mesmo para aqueles que não têm documentação. O acesso à renda, no momento de pandemia e de adoção do auxílio emergencial, tem aparecido com destaque entre as propostas de candidatos em São Paulo.

O candidato também defendeu a construção de modelos de escolas ideais, com lousa digital e ar-condicionado. Mas admitiu que seriam poucas unidades, de uma a quatro, e que, antes, é preciso reforçar a estrutura das escolas já existentes e resolver o problema da falta de vagas em creches.

França afirmou ainda que é a favor da atuação de organizações sociais na área da saúde e educação, mas defendeu a valorização do servidor público, com aumentos de salários. “Eu defendo as coisas públicas, acho que ao contrário do que falam, o Estado não tem que ser fragilizado.”

O candidato do PSB foi governador de São Paulo de abril a dezembro de 2018. Assumiu o cargo após Geraldo Alckmin (PSDB) renunciar para concorrer à Presidência. Nas últimas eleições ao governo, obteve mais de 10 milhões de votos paulistas, mas perdeu a disputa para Doria.

Também foi eleito prefeito de São Vicente, no litoral de São Paulo, por duas vezes, em 1996 e em 2000.

Sabatinas

A Folha e o UOL estão sabatinando candidatos das principais capitais do país.

Às 15h, o convidado da sabatina Folha/UOL será Eduardo Bandeira de Mello, candidato da Rede à Prefeitura do Rio de Janeiro. Administrador e dirigente esportivo, ele foi presidente do Flamengo de 2013 a 2018.

As entrevistas podem ser acompanhadas no site do UOL e da Folha e também nas redes sociais Facebook e YouTube.

De São Paulo, foram entrevistados Joice Hasselmann (PSL), Marina Helou (Rede), Antônio Carlos (PCO), Levy Fidelix (PRTB), Orlando Silva (PC do B), Vera Lúcia (PSTU), Andrea Matarazzo (PSD), Jilmar Tatto (PT), Arthur do Val (Patriota) e Márcio França (PSB).

Do Rio de Janeiro, além de Glória Heloiza (PSC), já passaram pela sabatina Clarissa Garotinho (PROS) e Renata Souza (PSOL).

No Recife, foram entrevistados João Campos (PSB), Marília Arraes (PT), Patrícia Domingos (Podemos) e Mendonça Filho (DEM).

Dos candidatos em Belo Horizonte, foram sabatinados Áurea Carolina (PSOL), Alexandre Kalil (PSD), Bruno Engler (PRTB) e João Vítor Xavier (Cidadania).

De Salvador, Major Denice (PT), Olívia Santana (PC do B), Pastor Sargento Isidório (Avante) e Bruno Reis (DEM) já foram entrevistados.

Em Curitiba, falaram Fernando Francischini (PSL), João Arruda (MDB), Goura (PDT) e Rafael Greca (DEM).

De Porto Alegre, foram entrevistados Manuela D'Ávila (PC do B), José Fortunati (PTB), Juliana Brizola (PDT), Fernanda Melchionna (PSOL), Nelson Marchezan Jr (PSDB), Sebastião Melo (MDB) e Gustavo Paim (PP).

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