Minha rival defende que tudo seja estatal, diz Sebastião Melo, ex-vice-prefeito de Porto Alegre

Candidado do MDB acena a bolsonaristas, mas discorda do presidente e afirma que racismo existe no Brasil

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Porto Alegre

Contrariando expectativas, Sebastão Melo (MDB) chegou ao segundo turno da eleição em Porto Alegre à frente de Manuela d’Ávila (PC do B).

Melo já foi vice-prefeito da capital gaúcha de 2013 a 2016, na gestão de José Fortunati (à época no PDT, hoje no PTB), que também concorria na eleição deste ano.

Fortunati desistiu pouco antes do primeiro turno, depois de a Justiça Eleitoral indeferir a candidatura de seu vice a pedido de um candidato a vereador da coligação de Melo.

O emedebista chama de “riqueza” a formação da nova Câmara Municipal, com cinco vereadores negros, e lamentou a morte de Beto Freitas, homem negro espancado em um Carrefour de Porto Alegre.

“O racismo é uma triste realidade mundial. É uma questão histórica e cultural e, no Brasil, existe”, disse. A posição é diferente da manifestada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo vice, Hamilton Mourão (PRTB), ainda que Melo acene a bolsonaristas.

Sobre a adversária, ressalta que Manuela defende um “projeto estatizante”. “São projetos completamente diferentes. Não no aspecto de diálogo e respeito à democracia, mas são diferentes."

O vice na chapa de Melo é Ricardo Gomes (DEM), vereador e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico na gestão do prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB).

Homem de camisa social com microfone na mão discursa observado por outras pessoas
Sebastião Melo, candidato do MDB à Prefeitura de Porto Alegre, discursa em ato de campanha - MeloSebastiao no Facebook

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O que a morte de Beto Freitas, espancado no Carrefour, representa para o senhor? Traz muitas dores para nós. O racismo é uma triste realidade mundial. É uma questão histórica e cultural e, no Brasil, existe. Às vezes até de uma forma muito velada. A Constituição brasileira enfrentou isso com muito debate na Constituinte.

Para transformar leis em realidade, precisa de atitudes, de todos os cidadãos, especialmente daqueles que são detentores de cargos públicos. Sempre combati o racismo, os preconceitos. Não vou mudar se for prefeito. Vou continuar batendo nesta barbaridade que é o racismo.

As pesquisas indicavam Manuela indo para o segundo turno, em vantagem, e um segundo lugar embaralhado entre o senhor e outros candidatos. O resultado das urnas, porém, colocou o senhor como primeiro colocado e Manuela em segundo. Ao que atribui este resultado? Algumas pesquisas no Brasil são caso de polícia. Ou se fez mal a pesquisa ou o eleitor mente. Ela foi publicada no sábado [14], com uma diferença de 15 pontos da candidata à frente do meu nome.

Para eu chegar em primeiro lugar, tem que ter uma explicação. A gente vinha crescendo. Ocorreu a renúncia [de José Fortunati], que também me ajudou. Aí veio o voto útil daqueles que não queriam a Manuela e não queriam o Marchezan, porque as pesquisas indicavam que ele perderia para a Manuela. Foi um somatório desses fatores que levaram a esse resultado.

Como o senhor avalia a desistência de Fortunati e o fato de que o recurso do indeferimento foi apresentado por um candidato a vereador da sua coligação? Sou amigo do Fortunati, fui vice dele. Liderei no primeiro turno uma coligação com 173 candidatos a vereadores, de sete partidos. Esse assunto nunca transitou na coordenação. Se tivesse, teria sido refutado. Não compete a mim responder pelos atos dos outros.

Prefiro comentar a grandeza do ato do Fortunati. Ele podia recorrer e concorrer sub judice, mas ele teve a grandeza de olhar o cenário e ver que, se mantivesse a candidatura, poderia levar o Marchezan para o segundo turno. Fortunati não era um adversário, somos do mesmo campo político. Se ele estivesse no segundo turno, estaria com ele.

Homem discursa com microfone rodeado de pessoas
Melo participa de evento de campanha em Porto Alegre na reta final do 2º turno - MeloSebastiao no Facebook

Como avalia a formação da Câmara Municipal, com uma maioria de vereadores do PSOL, PT e uma bancada negra? Caso eleito, como pretende aprovar seus projetos nesse cenário? A diversidade no Legislativo é uma riqueza. A eleição majoritária não te dá essa condição. Mas na eleição proporcional, todos estão representados. É plural, tem ideias de gente que pensa diferente. A diversidade de jovens, mulheres, negritude e camadas sociais populares é uma riqueza enorme e contribui muito porque a cidade é assim.

Se eleito, vamos construir uma base dentro de um projeto, mas também terei a capacidade de conversar. A oposição vai fazer pressão, muitas vezes votar contra, mas muitas vezes votará a favor porque a cidade está acima. Temos que respeitar todos que foram eleitos.

Como o senhor tem articulado os apoios para o segundo turno? O senhor é apoiado pelos candidatos do primeiro turno João Derly (Republicanos), Valter Nagelstein (PSD), Gustavo Paim (PP) e até pelo PSDB municipal. A grande questão é que o eleitor é soberano. O eleitor vota mais nas pessoas do que nos partidos. O grande foco é no eleitor que não votou [no primeiro turno]. São quase 360 mil que não votaram e os que votaram em outros candidatos.

Essa disputa está posta. Os debates e a campanha em televisão vão mostrar as diferenças. Antes o tempo era pequeno, agora são cinco minutos para cada um. São projetos completamente diferentes. Não no aspecto de diálogo e respeito à democracia, mas são diferentes.

Quais as suas principais diferenças em relação à Manuela? Minha adversária defende projeto estatizante. Para ela, tudo tem que ser estatal. Eu penso que o serviço pode ser público, mas prestado por parceiro privado. Quem está com a torneira seca não quer saber se é público ou privado, quer ter água. Quem precisa do posto de saúde, não quer saber se é concursado ou contratado, quer saber se tem médico. O mesmo vale para as creches. Defendemos liberdade econômica para empreender rapidamente.

O senhor tem se manifestado no sentido de “abrir tudo” durante a pandemia e contra a obrigatoriedade da vacina. Como lidará com isso? A pandemia é séria. Saúde, sim. Mas saúde econômica também. Não tem um caminho único para isso. Se o "lockdown" por si só desse certo, na Argentina não teria acontecido o que aconteceu, teve muitas mortes.

Vou constituir um comitê, antes de tomar posse, com médicos e economistas. Vamos reabrir toda a atividade econômica. Os protocolos não vão sair da minha cabeça, mas dos setores. Vou preparar a cidade para a vacina. Temos boa tradição de imunização. Mas não vou obrigar ninguém. Estará disponível a todos e toma quem quiser.

RAIO-X

Sebastião Melo, 62
Advogado, natural de Piracanjuba (GO), é deputado estadual desde 2019. Concorreu a prefeito na eleição de 2016, chegando ao segundo turno, mas foi derrotado por Nelson Marchezan Jr. (PSDB). Foi vice-prefeito de 2013 a 2016, na gestão de José Fortunati (então no PDT) e vereador (2000-2012). Sempre foi filiado ao MDB​

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