Descrição de chapéu Eleições 2020

Na reta final, Russomanno, Boulos e França calibram estratégias em SP

Campanha atípica em razão da pandemia começou morna, mas deve esquentar; 30% dos eleitores não sabem em quem votar

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São Paulo

Marcada pela pandemia, pela ausência de debates na TV e pela míngua nos atos de rua, a campanha eleitoral deste ano para a Prefeitura de São Paulo terá uma reta final ainda mais decisiva do que em outros anos, com uma elevação na temperatura depois de semanas consideradas mornas.

A avaliação, compartilhada por estrategistas das principais candidaturas, é a de que esta semana será determinante para Celso Russomanno (Republicanos), Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB), que, com intenções de voto em torno dos 15%, estão empatados no segundo lugar, segundo o Datafolha.

Líder na pesquisa, com 28%, o candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), está confiante em sua permanência na dianteira e deve assistir de longe à guerra entre os três por uma vaga no segundo turno.

O candidato Márcio França (PSB) durante caminhada na rua José Paulino, no Bom Retiro, acompanhado do vice, Antônio Neto (PDT)
O candidato Márcio França (PSB) durante caminhada na rua José Paulino, no Bom Retiro (região central), acompanhado do vice, Antônio Neto (PDT) - Fernanda Luz/Divulgação

Adiadas de outubro para novembro por causa da crise do coronavírus, as eleições de 2020 só agora passam a receber atenção maior do eleitor. Na pesquisa espontânea do Datafolha, 30% dos entrevistados ainda respondem que não sabem em quem votarão —no levantamento anterior, eram 36%.

Entre os que respondem já ter candidato para a votação do próximo domingo (15), há uma cobiçada fatia de 42% que dizem que seu voto ainda pode mudar.

Como mostrou a Folha, no caso de Russomanno continuar em tendência de queda, os candidatos que mais se beneficiam como a segunda opção são Covas e França, que herdam votos do deputado.

"As pessoas estão pensando mais agora em quem vão votar, já que a eleição ficou muito em segundo plano, em função de tudo o que está acontecendo no país", diz Chico Malfitani, marqueteiro de Boulos, que busca romper a estagnação —ele teve 14% nas duas pesquisas mais recentes.

O esforço nos últimos dias da campanha no primeiro turno inclui tornar o líder de movimentos de moradia mais conhecido para tentar angariar apoios especialmente na periferia, onde tenta abrir espaço e disputa terreno com Jilmar Tatto (PT), escolhido por 6%.

Com apenas 17 segundos no horário eleitoral, o candidato do PSOL intensificará os giros pela capital e a associação ao nome de sua vice, a ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL), 85.

"É como diz o ditado: água morro abaixo e fogo morro acima, ninguém segura", diz Malfitani, confiante na reedição de uma onda comparável à da campanha vitoriosa de Erundina (então no PT) para a prefeitura em 1988, na qual o jornalista também trabalhou.

Mais conhecido das classes altas e dos jovens, Boulos tem usado a vice como cartão de visita nos extremos da cidade. Antes distante da campanha de rua por ser do grupo de risco da Covid-19, a ex-prefeita passou a sair de casa, envolta por um acrílico, na caçamba de uma caminhonete.

"Isso [reforçar nossa presença na periferia] já está aumentando nossa taxa de conhecimento, nossa votação", diz Boulos.

A decisão das principais emissoras de cancelarem os debates, usando como justificativa as restrições impostas pela pandemia e o excesso de candidatos (hoje 13, depois da desistência de Filipe Sabará, do Novo), prejudicou Boulos na intenção de se projetar a partir dos embates televisivos.

A medida também afetou o planejamento de França, que pretendia evocar seus confrontos na campanha estadual 2018 contra o hoje governador João Doria (PSDB).

Três debates estão marcados para esta semana: um do jornal O Estado de S. Paulo, nesta terça-feira (10), o da Folha e do UOL, na quarta (11), e o da TV Cultura, na quinta (12).

"Na última semana, o eleitor vai prestar mais atenção ao horário eleitoral. Vai ter mais audiência", calcula o marqueteiro de França, Raul Cruz Lima. Ele apostará até quinta-feira (12), último dia de propaganda na TV e rádio, no que chama de recapitulação dos eixos da campanha do ex-governador.

Com 13% no Datafolha (alta de 3 pontos percentuais na comparação com o levantamento anterior), o representante do PSB vai repetir suas principais propostas e explorar novamente pontos de sua biografia e da vida pessoal, em uma tentativa de fixar aspectos positivos.

"O mais importante são​ as tendências, e há uma tendência nossa de crescimento no final", diz França. Segundo ele, só agora eleitores começam a associar o nome à pessoa e a se recordar do antagonismo com Doria, que o levou a ter na capital quase 1 milhão de votos a mais que o tucano em 2018.

Tanto Boulos quanto França tentam passar numericamente Russomanno, que tem 16%, muito menos que os 29% registrados pelo deputado federal e apresentador de TV no início da campanha, em 21 e 22 de setembro.

Às voltas com um derretimento semelhante ao que o acometeu nas eleições de 2012 e 2016 —nas quais perdeu o fôlego inicial e acabou em terceiro lugar—, o nome do Republicanos se agarra desta vez ao apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

No entorno do candidato, a ordem é dobrar a aposta na associação ao padrinho, de quem Russomanno depende para cumprir algumas de suas promessas, como a criação do auxílio paulistano.

A proposta de complementação do futuro programa federal Renda Cidadã cumpre também o papel de aproximá-lo de eleitores das classes C, D e E, entre as quais o deputado alcança resultado positivo. Ele tem hoje 24% de intenções na faixa com renda de até dois salários mínimos.

"Agora é rua. Vamos revisitar a periferia na última semana, consolidando o público que Russomanno já tem", afirma o marqueteiro da campanha, Elsinho Mouco.

Os acenos aos moradores da periferia também são prioridade para Boulos e França, que encheram a agenda de visitas a bairros fora do centro expandido e levaram o tema para o horário eleitoral.

O ex-governador, que na última semana esteve em Guaianases, Sapopemba e Parque Novo Mundo (todos na zona leste), afirma que o boca a boca nesta reta final poderá beneficiá-lo.

"Periferia é onde nós mais ampliamos", valoriza ele. "Lá o cara nem sabe quem é Boulos, o Russomanno ele acha distante, e não quer votar no Bruno. Ele meio que cai na gente."

Também está no horizonte do candidato do PSB uma aproximação maior com o eleitorado acima dos 60 anos (hoje mais afeito a Covas) e com o setor evangélico (hoje próximo de Covas e Russomanno).

Correndo pela lateral, Covas poupa energia —e petardos— para o segundo turno. Em sua última semana de campanha, de acordo com auxiliares, manterá o tom propositivo, sem ataques aos concorrentes. É, nas palavras de um dos estrategistas, a lógica do "não se mexe em time que está ganhando".

Historicamente, a semana que precede a votação é marcada em São Paulo por disputas voto a voto e registra viradas importantes. Em 2016, quando Doria disputava a prefeitura, a vitória dele em primeiro turno só começou a ser vislumbrada na noite do sábado anterior ao pleito.

Até então, acreditava-se que Fernando Haddad (PT), buscando a reeleição, poderia crescer a ponto de levar a disputa para a segunda rodada.

A diferença neste ano, na visão de membros das campanhas, é que o eleitorado pareceu se envolver mais tarde com a eleição, que ficou emparedada entre o noticiário da pandemia, o desânimo generalizado com a política e os efeitos da crise econômica.

Em meados de setembro, logo após a definição dos postulantes, a taxa dos paulistanos que diziam ter grande interesse na eleição municipal era de 30%, de acordo com o Datafolha. O índice subiu um pouco na primeira semana de outubro e chegou a 37%.

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