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Paes e Crivella trocam acusações sobre corrupção e falhas na gestão em debate

Ex-prefeito chamada seu sucessor de "pai de mentira", enquanto candidato à reeleição aponta rombo financeiro deixado por rival

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Rio de Janeiro

O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e o atual, Marcelo Crivella (Republicanos), trocaram acusações sobre corrupção e falhas em suas respectivas gestões à frente da Prefeitura do Rio de Janeiro no primeiro debate do segundo turno, promovido na noite desta terça-feira (19) pela TV Bandeirantes.

Crivella buscou explorar casos de corrupção na administração de Paes e apontar o que considera um “rombo financeiro” deixado no caixa da prefeitura pelo antecessor. O ex-prefeito, por sua vez, buscou ao longo do confronto colar a expressão “pai da mentira” em Crivella, em resposta às críticas.

Os candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro Eduardo Paes, à direita, e Marcelo Crivella - Sergio Moraes - 15.nov.2020/Reuters e Wallace Silva - 15.nov.2020/Agência O Globo

As trocas de acusações estiveram presentes em debates sobre saúde, educação e transporte.

“Fiz o que era possível dentro do prejuízo que o Eduardo deixou, com menos R$ 15 bilhões. Fizemos o que era possível sem corrupção”, disse Crivella, ao comentar falhas de manutenção nos corredores de ônibus.

“Você é o pai da mentira. Você está há quatro anos dizendo essa mentira de que eu deixei a prefeitura quebrada. Essa conversa não serve para sempre”, respondeu Paes.

Crivella lembrou da prisão e condenação do ex-secretário de Obras da gestão Paes, Alexandre Pinto, bem como de fiscais da pasta que confessaram ter recebido propina. Em depoimento à Justiça Federal, Pinto relatou que o ex-prefeito também era pago por empreiteiras.

“O problema do BRT [feita na gestão de Paes] é que toda a obra foi combinada no gabinete do prefeito. A partir daí a propina rolou solta. [O ex-governador Sérgio] Cabral, seu pai, assumiu. Você também tem que assumir”, disse o prefeito.

Em sua resposta, Paes lembrou a investigação contra Crivella por participação num suposto esquema de propina no município.

“Olha quantas pessoas foram presas desde 2014 [início da Lava Jato]. Eu estou aqui. Só estou disputando com você porque sou Ficha Limpa. Você me lembra o [governador afastado, Wilson] Witzel. O tempo todo me acusava e olha como terminou. Fico imaginando com esse QG da propina, você vai acabar como ele”, disse Paes.

O ex-prefeito classificou Crivella “despreparado, omisso e incompetente” e o comparou com o personagem Odorico Paraguaçu, da novela O Bem Amado.

“Você inaugura raio-X, cadeira de dentista. É uma coisa assustadora. Você abandonou a cidade”, disse Paes.

Além das acusações de corrupção e má gestão, Crivella relembrou o caso de violência doméstica que envolveu o deputado Pedro Paulo, aliado de Paes derrotado na eleição de 2016.

O atual prefeito disse que “Eduardo não gosta de mulher” e pediu que o adversário se comprometesse a não nomear Pedro Paulo, absolvido da acusação, como secretário.

“Tenho sete mulheres no meu secretariado. Quero que você assuma o compromisso do Pedro Paulo não voltar. Ele deu uma surra na mulher. Eduardo não gosta de mulher”, disse Crivella.

Pedro Paulo disse que processará o prefeito por mencionar no debate o caso arquivado na Justiça.

Tanto Crivella como Paes evitaram nacionalizar o debate. O atual prefeito não mencionou o nome do presidente Jair Bolsonaro em nenhum momento. O antecessor, por sua vez, mencionou apenas a ex-presidente Dilma Rousseff, de forma irônica, ao questionar dados sobre a pandemia do novo coronavírus expostos por Crivella.

“Lembrou até a ex-presidente Dilma, de quem você foi ministro, confundindo os número”, disse Paes.

O prefeito também usou a pandemia como um argumento para ser reeleito. Disse que é importante “não mudar o time no meio da guerra”.

“Está vindo uma segunda onda. Segunda onda tem que enfrentar com quem já enfrentou a primeira”, disse Crivella.

Pesquisa do Datafolha divulgada nesta terça-feira (19) que Paes tem 71% das intenções de votos válidos, contra 29% de Crivella.

Considerando-se os votos totais, Paes tem 54%, e Crivella, 21% —patamar semelhante ao indicado pela simulação de segundo turno divulgada no sábado (14) pelo Datafolha. Afirmam votar em branco ou nulo 22% dos entrevistados, enquanto 3% não souberam responder.

A margem de virada para o atual prefeito parece ser estreita. Entre os eleitores de Paes, apenas 10% declara poder mudar o voto. Em razão da distância entre os dois, não basta a Crivella atrair os indecisos ou aqueles que pretendem votar nulo, mas também reverter intenções de votos do ex-prefeito.

O levantamento mostra que Paes tem a preferência do eleitorado em todas as faixas de renda, escolaridade, idade e sexo. Seu melhor resultado é entre os entrevistados que declararam renda familiar acima de dez salários mínimos, grupo em que alcança 70% da preferência.

O atual prefeito, bispo licenciado da Igreja Universal, tem a vantagem apenas no eleitorado evangélico, sua principal base eleitoral. Nesse grupo, ele tem 46% da preferência dos entrevistados, contra 29% de Paes —outros 23% pretendem anular, e 2% estão indecisos.

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