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Paes, que escreveu carta a Lula em 2008, agora diz que Crivella se humilha por apoio de Bolsonaro

Há 12 anos, ex-prefeito do Rio destacava união com petista e governador Cabral; hoje, ressalta não ter padrinho

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Rio de Janeiro

Doze anos após precisar enviar uma carta para contar com o apoio do ex-presidente Lula (PT) em sua campanha, Eduardo Paes (DEM) vê humilhação do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), ao insistir no apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A nova estratégia busca mostrar sua candidatura como independente de padrinhos políticos, em contraposição ao vínculo explorado por Crivella com Bolsonaro. É uma mudança, e tanto, comparada à primeira disputa pela Prefeitura do Rio que Paes venceu em 2008 martelando a “aliança entre os três níveis de governo”.

“Acho até meio humilhante a postura do Crivella. Ficar indo a Brasília: ‘Grava vídeo para mim’. Quero discutir a cidade”, disse Paes em sabatina do jornal Valor Econômico na semana passada.

Em sua primeira eleição, em 2008, foi Paes quem precisou enviar uma carta a Lula e à primeira-dama, Marisa Letícia, para conseguir um apoio gravado do então presidente. Ele tentou explicar críticas que fez ao petista durante a CPI do Mensalão.

Três homens acenam com as mãos de sacada
O recém-empossado prefeito do Rio, Eduardo Paes (à época no PMDB), com o então presidente Lula (PT) e o então governador Sérgio Cabral (PMDB), em foto de 2009 - Rafael Andrade - 3.fev.2009/Folhapress

A carta foi feita no início do segundo turno, quando a disputa com o então deputado Fernando Gabeira (PV) estava acirrada. No documento, endereçado à Marisa, ele reconhecia ter exagerado nas críticas ao presidente e a seu filho, Fábio Luis Lula da Silva, durante a CPI em 2005.

Naquele ano, quando era filiado ao PSDB, Paes chamou Lula de “chefe de quadrilha” e “psicótico”. “Só [Sigmund] Freud [pai da psicanálise] explica esse comportamento. É uma atitude típica de quem sabe da sua culpa. Pois exagera nas mentiras para se convencer que são verdades", disse o então deputado.

Três anos depois, Paes negou tratar-se de um pedido de desculpas.

“No momento do calor da política, você sai um pouco do tom. Houve uma conversa franca entre o presidente e eu. Tivemos conflitos políticos no passado, que buscamos dirimir. Tudo o que disse ao longo da minha vida pública eu não tenho o menor problema", disse Paes em 2008.

Lula aceitou as explicações e gravou o vídeo, num hotel em São Paulo, a pedido do então governador do Rio, Sérgio Cabral (MDB).

“Se você tem um presidente da República e um governador que estão estabelecendo uma harmonia extraordinária, é importante que a gente tenha um prefeito afinado com essa harmonia”, disse o petista no vídeo.

O ex-prefeito não explorou apenas a imagem do então presidente. Sua campanha também mostrou reuniões com os então ministros petistas Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Justiça).

Paes teve de brigar na Justiça para poder usar a imagem de Lula em seu programa. A equipe de Gabeira questionou o fato de o PT não ter feito parte da coligação do adversário no primeiro turno. A Justiça Eleitoral autorizou a participação do então presidente.

"O presidente Lula apareceu um pouco constrangido no programa eleitoral gratuito do Rio de Janeiro. Ele sabe que não é preciso ser amigo do presidente para ter um tratamento digno no Palácio do Planalto. Qualquer prefeito é recebido com a dignidade que a cidade que ele representa merece", disse Gabeira na ocasião.

Atualmente, Paes utiliza argumentos semelhantes ao de Gabeira para se referir a Bolsonaro. Ele tem evitado comentar o desempenho da atual administração federal e afirma que vai lidar com o presidente assim como trabalhou com outros três antecessores: Lula, Dilma e Michel Temer (MDB), que passaram pela Presidência no período de oito anos (2009-2016) em que foi prefeito do Rio.

“As pessoas estão preocupadas com a sua cidade. Sempre interpretei assim a eleição [municipal]. Não acho que as pessoas nacionalizem eleição municipal. Não busquei apoio de nenhuma figura nacional no primeiro, e não estou buscando no segundo. Respeito a decisão do presidente Bolsonaro de pedir voto ao Crivella. Não pedi a ele que pedisse voto para mim porque quero tratar da minha cidade”, afirmou Paes.

No primeiro turno, Paes dizia ser a única candidatura sem padrinhos no Rio de Janeiro, que tinha candidatos que representavam Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes, em referência a Crivella, Benedita da Silva (PT) e Martha Rocha (PDT).

À Folha Paes afirmou haver diferenças entre sua situação em 2008 e a de Crivella atualmente.

“Em 2008 eu era um ex-deputado me candidatando à prefeitura. Aí sim, precisava ser apresentado à sociedade, à cidade. É natural, quando se está nesse estágio, se apresentar com lideranças que te apoiam. Hoje as pessoas já me conhecem, assim como o Crivella. O problema é uma pessoa conhecida, como ele, precisar de muleta”, afirmou.

No primeiro turno, Crivella apostou em associar sua imagem à do presidente a fim de garantir sua vaga na etapa seguinte da eleição. Ele insistiu e conseguiu uma nova gravação com Bolsonaro na semana passada, mas deve focar nos ataques a Paes e sua administração.

Pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira (19) mostra Paes com uma liderança folgada nas intenções de votos válidos: 71% a 29%.

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