Descrição de chapéu Eleições 2020

Perigo para Arthur do Val, cloroquina é esperança para seu 'supersecretário'

Candidato a prefeito de SP e MBL atacam droga, enquanto Beltrão defende seu uso

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São Paulo

Para Arthur do Val (Patriota), candidato a prefeito de São Paulo, o uso da cloroquina contra a Covid-19 é ineficaz, perigoso e equivale a brincar com vidas humanas.

Opinião bem diferente tem Helio Beltrão, coordenador de seu programa de governo e anunciado pelo candidato como uma espécie de “supersecretário” em caso de vitória. Para ele, a cloroquina é uma esperança e deve ser liberada imediatamente.

Helio Beltrão (à esquerda), durante entrevista ao lado de Arthur do Val e da candidata a vice na chapa, Adelaide Oliveira - @HelioBeltrao10 no Facebook

Nos primeiros meses da pandemia, Beltrão, colunista da Folha, se destacou como uma espécie de garoto propaganda do medicamento, que não tem eficácia comprovada contra a doença.

Presidente do Instituto Mises Brasil, que defende ideias liberais, ele se aproximou na atual campanha do candidato, também conhecido como Mamãe Falei, nome de seu canal do YouTube.

Beltrão está à frente de uma ambiciosa agenda de privatizações e desregulamentação que promete implementar na cidade, caso seu candidato saia vitorioso na eleição.

Com 4% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, Mamãe Falei é uma das principais lideranças do MBL (Movimento Brasil Livre), que fez campanha cerrada contra a cloroquina nos últimos meses. Já o presidente Jair Bolsonaro e a maioria de seus seguidores são defensores da droga.

“Pesquisas recentes mostraram que a cloroquina não é eficaz contra o coronavírus e pode até aumentar a taxa de mortalidade. No Brasil, o presidente se diz conservador, mas joga o ceticismo no lixo e, mirando 2022, brinca com vidas!”, escreveu Mamãe Falei no Twitter em 25 de abril.

Seus colegas no movimento seguem na mesma toada. Coordenador nacional do MBL, Renan Santos é um dos mais enfáticos contra o uso da cloroquina. Em 20 de julho, ele chamou a substância de “embuste”.

No mesmo dia, em outro tuíte, escreveu: “Entre adoradores de cloroquina e derrubadores de estátuas, caminhamos. Só não sei para onde”.

Outro membro destacado do movimento, Rubinho Nunes foi irônico ao tratar do medicamento, em 19 de maio.

“Cloroquina é o ginko biloba do bolsonarismo. Cura resfriados, unha encravada, malária, Aids, câncer e coronavírus”, disse, fazendo referência a uma planta medicinal à qual são atribuídos poderes quase milagrosos de cura.

Também foram feitas críticas ao remédio por expoentes do MBL como o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e o vereador Fernando Holiday (Patriota).

Beltrão segue linha totalmente oposta, tanto nas redes sociais como em seus textos na Folha. Em sua coluna de 25 de março, ele fez um apelo logo no título: “Liberem a hidroxicloroquina”.

Ao comentar previsões de até 1 milhão de mortes pela pandemia no Brasil, disse que os cálculos não levam em conta os efeitos benignos de eventuais tratamentos eficazes. “Aí reside a maior esperança: a hidroxicloroquina”, disse.

Na coluna seguinte, de 1º de abril, afirmou que a cautela excessiva das autoridades médicas com a substância era “irresponsável”.

“A comunidade médico-científica está sendo irresponsável em sua cautela radical com relação à hidroxicloroquina e, dependendo do desenrolar dos ensaios clínicos em andamento, o momento atual poderá vir a ser, em retrospectiva, o maior fracasso de sua história”.

A hidroxicloroquina é um derivado menos tóxico da cloroquina, mas com efeitos semelhantes no corpo humano.

Embora não sejam exatamente a mesma substância, elas têm sido usadas praticamente como sinônimos no debate sobre sua aplicação contra a Covid-19, que virou mais um elemento no clima de polarização política no país.

Em geral, bolsonaristas defendem o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina contra o coronavírus, enquanto opositores rechaçam a possibilidade.

As drogas são usadas em casos de doenças como malária, lúpus e artrite reumatoide, entre outros.

Contra a Covid-19, não houve eficácia comprovada em testes científicos chancelados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que alertou ainda para o risco de efeitos colaterais em pacientes que tomarem o medicamento.

Mesmo assim, em maio o Ministério da Saúde baixou uma norma abrindo a possibilidade de a substância ser receitada até para pacientes com sintomas leves da doença.

A aplicação no sistema público de saúde, no entanto, é bastante influenciada pelas prefeituras. Na cidade de São Paulo, por exemplo, as duas substâncias estão disponíveis na rede municipal, mediante receita médica e consentimento do paciente.

Mas elas não são liberadas para quem tem casos leves e moderados, contrariando a possibilidade aberta em âmbito federal. Isso ocorre, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, "em virtude da ausência de evidências científicas robustas que justifiquem tal indicação".

Procurados, Renan e Beltrão não se manifestaram. Candidato a vereador pelo Patriota, Rubinho Nunes afirmou que a divergência é algo lateral dentro da campanha.

“O Helio é um amigo, que respeito demais. É uma referência de liberalismo, na economia e no modelo econômico que defende. Eventual divergência sobre um ponto pequeno como a cloroquina é totalmente secundária”, afirmou.

A campanha de Mamãe Falei respondeu na mesma linha. “O candidato Arthur do Val Mamãe Falei e Helio Beltrão conversam sobre tudo. A divergência citada não é relevante nem agora na campanha, nem posteriormente com uma vitória nas urnas, visto que essa posição pessoal não interfere nas decisões do mandato.”

Questionada pela Folha sobre qual a política para o uso de cloroquina contra a Covid-19 e como o medicamento seria disponibilizado contra a doença na rede pública municipal de saúde, a campanha não respondeu.

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