Primeira negra eleita vereadora em Joinville é ameaçada de morte por vaga a suplente branco

Caso está sendo investigado como injúria racial e ameaça; autor pode pertencer a grupo neonazista, segundo delegada

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Porto Alegre

Primeira vereadora negra eleita em Joinville (SC), a professora Ana Lúcia Martins (PT), recebeu ameaças de morte desde o resultado da eleição do último domingo (15). “Agora só falta a gente matar ela e entrar o suplente que é branco”, dizia uma das ameaças.

Um inquérito foi aberto e o caso tem sido apurado, inicialmente, como injúria racial e ameaça.

“Existe indício de que os autores pertençam a uma célula de um grupo neonazista em Joinville. Estamos fazendo diligências para identificar. Já vislumbramos nomes, mas a investigação está em andamento”, disse à Folha a delegada Cláudia Cristiane Gonçalves de Lima, da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami).

Ana Lúcia Martins
Ana Lúcia Martins (PT) é a primeira vereadora negra eleita em Joinville (SC) - Divulgação/PT

Quando a informação sobre Ana Lúcia ser a primeira negra eleita na cidade já era confirmada, outra postagem afirmava que “não há como comemorar uma petista no poder novamente em Joinville”.

“Sabia que não seria fácil. Estava ciente que enfrentaria uma certa resistência em uma cidade que elegeu apenas na segunda década do século 21 a primeira mulher negra. Só não esperava ataques tão violentos”, afirmou Ana Lúcia, em nota publicada nas redes sociais.

Segundo a advogada, Andreia Indalencio Rochi, Ana Lúcia também teve sua conta de Instagram invadida ainda no domingo. "Quando começou a apuração, com os primeiros resultados, a Ana teve uma invasão no Instagram. Apagaram algumas fotos e fizeram algumas coisas, mexeram no perfil", afirmou.

"Na segunda-feira [16], já confirmada como eleita, começaram essas ameaças no Twitter em que literalmente falam que precisam matá-la para um suplente branco assumir, que fascistas mandam e que ela precisa se cuidar”, completou Rochi.

O PT de Joinville divulgou uma nota em que afirma que os ataques são um “mecanismo de silenciamento”. “Os comentários publicados nas redes sociais e as ameaças à companheira constituem um mecanismo de silenciamento e invisibilidade para impedir a denúncia, a reflexão e a crítica sobre o racismo”, diz a nota.

Em Porto Alegre, onde cinco vereadores negros foram eleitos, o candidato a prefeito Valter Nalgelstein (PSD) comentou o resultado em tom considerado racista.

“Muitos deles jovens, negros. Vereadores esses sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência e nenhum trabalho e pouquíssima qualificação formal”, disse Nagelstein em áudio que circulou nas redes sociais. No seu perfil, o político alegou que não foi preconceituoso.

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