Descrição de chapéu Eleições 2020

Russomanno derrete pela 3ª vez e Arthur do Val cresce; veja quem ganha e quem perde

Covas consolida imagem de político sério, Tatto tem pior desempenho do PT e Joice amarga 7º lugar

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São Paulo

A eleição deste ano em São Paulo ajudou a consolidar o nome do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) e tornou Guilherme Boulos (PSOL) um nome viável.

Também enterrou mais uma vez o sonho de Celso Russomanno (Republicanos) de comandar a cidade e amargou um fracasso inédito para o PT, representado por Jilmar Tatto.

Márcio França (PSB) não chegou ao segundo turno, mas teve projeção, e Arthur do Val (Patriota), que começou como nanico, conseguiu cavar espaço no eleitorado.

Veja, a seguir, quem ganha e quem perde com o resultado deste domingo (15).

Quem ganha

Bruno Covas (PSDB) - 33% dos votos válidos

Eleito como vice de João Doria em 2016, Bruno Covas (PSDB) era tido há dois anos como um nome mais fraco eleitoralmente e ainda muito jovem para liderar a cidade, principalmente pela fama de frequentar baladas e viajar em momentos de crise. Além disso, era desconhecido da maior parte dos paulistanos.

No cargo, no entanto, descobriu um câncer em estágio avançado, o que mudou sua postura e moderou ataques de adversários. Na campanha, se vendeu como um resolvedor de problemas, que enfrentou crises na cidade, como a queda de um edifício no centro, em 2018, ou a própria pandemia da Covid-19.

Começou a campanha em segundo lugar e chegou no último sábado (14) provocando medo nos adversários de que poderia vencer no primeiro turno, o que não aconteceu.

Guilherme Boulos (PSOL) - 20% dos votos válidos

O líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) se firmou como o principal nome da esquerda nesta eleição, com performance muito acima do candidato do PT, principal partido desse espectro político na cidade. Para chegar ao segundo turno recebeu apoio inclusive de petistas históricos.

Líder de ocupações sem-teto, Boulos pavimentou seu caminho até aqui após crescer liderando manifestações contra a Copa de 2014, contra o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e contra a prisão de Lula em 2018.

Foi candidato à Presidência em 2018 pelo PSOL, mas teve o pior desempenho da história do partido. Com a projeção da participação em debates na TV aberta, no entanto, conseguiu deixar de ser o candidato nanico de dois anos atrás e se consolidou como um nome viável à esquerda, em alternativa ao PT.

Arthur do Val (Patriota) - 10% dos votos válidos

Mais conhecido pelo seu nome de youtuber, Mamãe Falei, que relutou mas depois aceitou colocar nas urnas, Arthur do Val era o candidato do MBL (Movimento Brasil Livre) e começou a campanha como nanico, com 2% nas pesquisas, mas terminou com 10% dos votos válidos.

Após ser expulso do DEM, partido pelo qual se elegeu deputado estadual em 2018, Arthur teve dificuldade em encontrar uma legenda que acolhesse sua candidatura a prefeito. Com o Patriota, teve pouco tempo de TV, mas conseguiu se impor com ataques a adversários e levantando polêmicas nos debates.

O uso das redes sociais também foi fundamental para espalhar seu nome, que teve performance acima do esperado, mesmo com propostas erráticas, como o "caminhão tempestade", veículo para lançar água em jovens na periferia para dispersar bailes funk.

Marina Helou (Rede) - 0,4% dos votos válidos

A deputada estadual Marina Helou (Rede) aumentou sua taxa de conhecimento e apresentou um plano de governo robusto em um pleito que nunca teve condições de vencer. Sua candidatura marcou posição e deu visibilidade a pautas de mulheres, de jovens, de negros e de meio ambiente. Além de ajudar a alavancar a chapa de candidatos a vereador da Rede.

Marina voltou a usar a fórmula que já funcionou para ela. Em 2016, se candidatou a vereadora e não foi eleita, mas a campanha lhe deu condições de se eleger deputada estadual dois anos mais tarde.

Quem perde

Celso Russomanno (Republicanos) - 11% dos votos válidos

A derrota de Celso Russomanno (Republicanos), que pela terceira vez está fora do segundo turno, é também uma derrota do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no principal colégio eleitoral do país.

Com a popularidade como apresentador de TV, Russomanno pode continuar se elegendo para a Câmara dos Deputados, onde exerce seu sexto mandato, mas o sonho de um cargo majoritário está praticamente enterrado.

Ele repetiu a trajetória de 2012 e 2016, quando largou na frente e derreteu. Neste ano, com o apoio de Bolsonaro, o candidato vislumbrou a vitória, mas o presidente é rejeitado por metade dos moradores de São Paulo, o que minou suas chances.

O giro ideológico e a adoção da cartilha do bolsonarismo para conquistar um eleitor conservador, desconfiado da fidelidade de Russomanno ao presidente, podem ter funcionado para a base de Bolsonaro, mas não para a maioria.

Russomanno teve 21,6% dos votos em 2012, 13,6% há quatro anos e 11% agora.

Como das outras vezes, ele teve problemas do passado resgatados na campanha, como o Bar do Alemão e a caixa de supermercado humilhada. Também tropeçou na língua e fez declarações que lhe tiraram votos —em 2020, sobretudo a respeito da pandemia do coronavírus.

Jilmar Tatto (PT) - 9% dos votos válidos

Com 9% dos votos, Tatto teve o pior desempenho da história do PT em uma eleição em São Paulo desde a redemocratização.

Em 1985, Suplicy ficou em terceiro com 20,7% dos votos. Desde 1988, o PT venceu as eleições, foi para o segundo turno ou ao menos terminou em segundo lugar na corrida para prefeito.

Ex-secretário de Transportes e ex-deputado, Tatto insistiu na candidatura após o ex-prefeito Fernando Haddad se recusar a disputar as eleições novamente.

A escolha do nome do candidato expôs, desde o princípio, o clima de divisão interna na legenda, que culminou em um tumultuado processo de prévias, com trocas públicas de alfinetadas entre os concorrentes e apelo pela intervenção do ex-presidente Lula para aparar arestas.

Tatto teve a candidatura questionada desde o início pela militância e por apoiadores históricos do PT, como o cantor Chico Buarque e o escritor Leonardo Boff, que viram Boulos com mais chances de chegar ao segundo turno.

A derrota de Haddad em 2016 também havia sido considerada um dos pontos baixos da história do partido na cidade, mas a situação era bem diferente, já que o petista tentava a reeleição na esteira do estrago causado pela Lava Jato e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Joice Hasselmann (PSL) - 2% dos votos válidos

Em dois anos, Joice passou da segunda deputada federal mais votada em São Paulo para candidata nanica, com apenas 2% dos votos.

A segunda maior parcela do fundo eleitoral entre os candidatos na cidade —atrás apenas de Covas— não foi suficiente para alavancar os votos de Joice sem a base bolsonarista que a elegeu em 2018, quando ela prometia ser uma “Bolsonaro de saias”.

É que nesse meio tempo ela rompeu com o presidente após ter sido sua líder no Congresso. A partir daí, foi alvo de ataques orquestrados, e sua campanha sofreu uma série de reveses, com tentativas da ala bolsonarista do PSL de derrubar sua candidatura para ceder espaço a algum aliado do presidente.

Sem conquistar o eleitor de direita não radical, que dividiu seus votos entre Covas e Arthur do Val, Joice terminou a campanha com alta rejeição (33%, segundo o último Datafolha, perdendo somente para os 50% de Russomanno).

Felipe Sabará (ex-Novo)

Visto como um mini-Doria e lançado na carreira política pelo governador tucano, o empresário que atua na área social e é herdeiro do Grupo Sabará, gigante da indústria química voltada à fabricação de cosméticos, não conseguiu chegar ao fim da disputa municipal e agora tem futuro incerto.

Sabará foi expulso do Novo após uma série de conflitos com a legenda, incluindo informações equivocadas sobre seu currículo e posicionamento a favor de Bolsonaro. Com isso, foi obrigado a desistir de sua candidatura à prefeitura, para a qual havia sido escolhido em processo seletivo do Novo.

Rompido com a legenda de João Amoêdo, Sabará tampouco tem guarida de volta no ninho tucano. Ele, que foi secretário de Assistência e Desenvolvimento Social na gestão Doria na prefeitura e presidente do Fundo Social, entidade de filantropia do estado, na gestão do tucano como governador, passou a fazer críticas ao padrinho após deixar o governo para se candidatar. Hoje, é visto como traidor.

Seguindo na trajetória de aproximação com o bolsonarismo, Sabará deu apoio no primeiro turno a Russomanno.

Levy Fidelix (PRTB) - 0,2% dos votos válidos

Candidato historicamente nanico e conhecido por ser o "homem do aerotrem", Fidelix achou que teria chances desta vez, mas terminou com 0,2%.

Na pré-campanha, dizia que nunca na vida teve uma oportunidade como essa —seu partido é o do vice-presidente, Hamilton Mourão, e, num vácuo de representante bolsonarista, sonhava com o apoio de Bolsonaro.

Para Fidelix, o presidente deveria retribuir a aliança com o PRTB em 2018 apoiando sua candidatura na capital paulista em 2020. Tudo foi por água abaixo quando Russomanno decidiu concorrer, e Bolsonaro declarou apoio ao deputado.

Fidelix conseguiu reunir em torno de si apenas uma minoria bolsonarista mais radical, que defende a intervenção militar ou a volta da monarquia.

Nem ganha nem perde

Márcio França (PSB) - 14% dos votos válidos

O ex-governador viu chances de se eleger prefeito de São Paulo quando venceu João Doria (PSDB) na capital paulista com uma diferença de quase 1 milhão de votos em 2018 —o tucano levou vantagem no interior do estado e venceu com margem apertada.

Apesar de as pesquisas indicarem que França era o candidato com melhor desempenho contra Bruno Covas (PSDB) no segundo turno, ele não foi escolhido pelo eleitor para a segunda etapa da disputa —derrota que marca sua carreira política.

Mas sua campanha o tornou mais conhecido na cidade, e França se mostrou competitivo mais uma vez. O resultado eleitoral, de terceiro lugar com 14%, o coloca em condições de disputar o governo novamente em 2022. Além disso, França não sofreu ataques de adversários durante o pleito, apresentou taxa de rejeição baixa e, portanto, não teve a imagem fustigada.

A candidatura de França representou ainda uma importante aliança nacional entre PSB e o PDT de Ciro Gomes, indicando uma união das legendas e a possível formação de uma frente de centro-esquerda na eleição de 2022.

Andrea Mattarazzo (PSD) - 1,6% dos votos válidos

O ex-secretário e ex-vereador não realizou seu sonho de ser prefeito de São Paulo, mas tampouco saiu fustigado da campanha. Segue sendo visto como um político experiente e com conhecimento sobre os problemas da capital.

Apesar das pontes quebradas com o tucanato, por causa da saída do PSDB em meio a uma disputa com Doria pela candidatura a prefeito em 2016, o apoio de Matarazzo foi cobiçado pelos candidatos em condições de chegar ao segundo turno.

Matarazzo recebeu ainda apoio de nomes de peso durante a campanha, como o da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL) e do jurista Modesto Carvalhosa.

Orlando Silva (PC do B) - 0,2% dos votos válidos

O deputado federal não entrou na disputa pela Prefeitura de São Paulo com pretensão de ser vencedor. O objetivo da candidatura, que foi alcançado, era marcar posição como único candidato negro e chamar atenção para o racismo e para a inclusão do negro na política.

Nesse sentido, o deputado, que segue sendo um nome de destaque na oposição a Jair Bolsonaro no Congresso, sai da eleição com o mesmo tamanho político.

A candidatura de Orlando representou ainda a estreia do PCdoB como cabeça de chapa na eleição em São Paulo, uma decisão histórica do partido. Em todas as disputas desde 1988, a sigla sempre apoiou o candidato do PT na cidade.

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