Descrição de chapéu Eleições 2020

TSE enfrenta lentidão em apuração e problemas na emissão do e-título

Esta é a primeira eleição municipal em que os dados saem direto das seções eleitorais para serem totalizados na corte em Brasília

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Brasília

O primeiro turno das eleições municipais de 2020 foi marcado por problemas registrados na ferramenta do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) lançada com o objetivo de facilitar a vida do eleitor, lentidão da divulgação da apuração dos resultados e tentativas de ataques hackers a servidores da corte.

Segundo o presidente do tribunal, ministro Luís Roberto Barroso, houve uma falha em um dos núcleos no supercomputador que processa a totalização dos votos.

Barroso garantiu que o episódio não afeta o resultado da votação. "Não há nenhum risco de o resultado não expressar o que foi votado", afirmou por volta das 21h deste domingo (15), em entrevista coletiva à imprensa que começou com uma hora de atraso por causa dos problemas.

"Pequeno acidente de percurso sem nenhuma vítima", completou Barroso. Ele afirmou que o atraso na totalização dos resultados se deu por um problema técnico.

"Um dos núcleos de processadores do supercomputador que processa a totalização falhou e foi preciso repará-lo."

"Espero amanhã [nesta segunda, 16] dar a explicação técnica possível", afirmou Barroso. "O sistema é complexo, não deveria ter acontecido, eu lamento que tenha acontecido, mas também não teve nenhuma consequência grave."

É a primeira eleição municipal em que os dados saem direto das seções eleitorais para serem totalizados no TSE. Isso pode ter contribuído para a demora da apuração. Segundo Barroso, essa mudança no modelo de apuração foi realizada antes de ele assumir o comando do TSE, em maio.

"De fato houve uma alteração e a totalização passou a ser centralizada no TSE. Essa não foi uma decisão minha. Eu tomei posse em maio e o sistema já havia sido alterado dessa forma", afirmou.

"Eu preciso dizer que desde o primeiro momento eu não tive simpatia por essa opção, mas era a opção estabelecida e foi ela que eu segui. E muito possivelmente, por ser uma novidade, pode estar na origem da instabilidade que nós sofremos."

De acordo com o tribunal, os dados foram remetidos normalmente pelos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) e recepcionados pelo banco de totalização, que estaria somando o conteúdo de forma mais lenta que o previsto.

Além do problema na totalização dos votos, o e-título, aplicativo que substitui o título de eleitor, localiza as seções e permite justificar a ausência, apresentou instabilidade durante o domingo, e eleitores não conseguiram acesso.

O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, visita projeto Eleições do Futuro neste domingo (15) em Valparaíso (GO)
O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, visita projeto Eleições do Futuro neste domingo (15) em Valparaíso (GO) - Pedro Ladeira/Folhapress

O tribunal também sofreu uma tentativa de ataque em sua rede que, segundo o presidente do TSE, foi totalmente neutralizada, com a ajuda de empresas de telefonia.

Segundo o tribunal, esse episódio não tem relação com a atraso na divulgação dos resultados.

Barroso disse que os ataques partiram do Brasil e de outros dois países, mas foram "totalmente inócuos".

"O ataque de hoje [domingo] foi totalmente inócuo. Sofrer ataques não é privilégio do site do TSE, isso vale para o Supremo [Tribunal Federal], Pentágono, Nasa. Ele veio de sucessivas tentativas do Brasil, Estados Unidos e Nova Zelândia. Foi um ataque distribuído."

"O fato de receber ataques não coloque em xeque credibilidade de coisa alguma", acrescentou Barroso ao ser questionado sobre se os problemas de atraso e as notícias de ataque poderiam interferir na opinião dos brasileiros sobre o sistema brasileiro de votação.

Ao longo do dia, também houve um vazamentos de dados de servidores do TSE. O ministro afirmou que a divulgação das informações foi resultado de um outro ataque, que partiu de Portugal e foi realizado em 23 de outubro. A Polícia Federal informou que está investigando o caso.

"Foram vazadas informações antigas e irrelevantes sobre ministros aposentados e antigos funcionários do TSE. Foi um vazamento sem nenhuma relevância ou consequência para o processo eleitoral", afirmou.

"As urnas não estão em rede, portanto não são vulneráveis a esse tipo de ataque. Não há nada sobre isso que possa interferir no processo eleitoral."

Barroso passou o dia dando explicações sobre os problemas enfrentados. Pela manhã, chegou a atribuir o problema do acesso do aplicativo a eleitores "que deixaram para baixar em cima da hora".

"O brasileiro deixou para baixar o aplicativo hoje, então foram milhões de acessos ao mesmo tempo. Pedimos que todos fizessem o download antes, mas peço que insistam", afirmou em visita ao projeto Eleições do Futuro, em Valparaíso (GO).

Já durante a tarde, Barroso disse que as medidas tomadas pelo órgão para prevenir a invasão da rede contribuíram para as dificuldades registradas.

Barroso justificou que, por conta da invasão da rede do STJ (Superior Tribunal de Justiça) na semana passada, o TSE resolveu desligar um de seus dois servidores da rede.

A medida, que era para reforçar a segurança do sistema do tribunal, acabou sobrecarregando o segundo servidor do órgão.

Segundo o ministro, a origem da investida teria sido provavelmente de fora do país e "com um grande volume de tentativas", mas não entrou em maiores detalhes.

"Obviamente, houve um subdimensionamento ou problema técnico, sobretudo causado pelo desligamento de um dos servidores, uma coisa que não queria que tivesse acontecido, mas ocorreu. Tivemos uma dificuldade e vamos consertar já para o segundo turno", disse.

Barroso também acrescentou não ter atribuído a responsabilidade pela instabilidade do sistema aos eleitores e que estava em contato com a empresa que produziu o aplicativo e com o Google para resolver o problema.

“Responsabilidade minha eu assumo. Portanto, o sistema tinha que estar preparado para receber todos ao mesmo tempo. Mas mencionamos que nas últimas 24 horas houve 3 milhões de downloads do aplicativo."

A entrevista coletiva concedida na noite de domingo (15), uma forma de balanço do dia de eleições, foi um evento repleto de autoridades.

Participaram, além do presidente do TSE, o vice, ministro Edson Fachin, os ministros André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) e Fernando Azevedo (Defesa), o advogado-geral da União, José Levi, o procurador-geral da República, Augusto Aras, o diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, e a presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Renata Gil.

Os problemas registrados durante o dia alimentaram boatos sobre a segurança do processo eleitoral nas redes sociais.

A diretora-adjunta da Rede Internacional de Checadores de Fato, Cristina Tardáguila, que contribuiu como observadora do sistema de checagem do TSE, mostrou preocupação com a falha do aplicativo da corte eleitoral na luta contra a desinformação.

"O fato de o app não ter performado de forma adequada possivelmente alimentará as teorias da conspiração que pregam a insegurança do processo eleitoral como um todo. É fundamental que o e-título esteja redondo no segundo turno."

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