Explorado como ativo em sua campanha, o patrimônio modesto de Guilherme Boulos (PSOL), 38, também levou nesta eleição o candidato a prefeito de São Paulo a ter que explicar nas redes sociais suas fontes de renda para rebater boatos sobre como se sustenta.
Em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral, o psolista, que se dedica há 20 anos ao movimento sem-teto, disse possuir apenas um automóvel Celta 2010, de valor estimado em R$ 15.416.
Em outubro, após ser questionado pela Folha sobre a não declaração de conta bancária, informou também que possuía R$ 579,53 em uma conta-corrente.
Na campanha, o Celta virou matéria-prima para seus marqueteiros, que fizeram jingles e vídeos sobre o carro para ressaltar a simplicidade da candidatura. O automóvel foi usado ainda em carreatas do PSOL.
Também virou uma marca registrada da sua campanha a sua moradia no Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Nas propagandas, debates e entrevistas, ele sempre frisa que vive na periferia da cidade e tem dito que quer aproximar a prefeitura das pessoas que moram no local.
Diferentemente de candidatos que têm fontes de rendas divulgadas em portais de transparência, como é o caso do adversário de Boulos e prefeito Bruno Covas (PSDB), o candidato do PSOL não é remunerado por instituições públicas.
Nesta semana, a reportagem da Folha enviou perguntas ao candidato sobre como se sustenta financeiramente.
O candidato, ao enviar as respostas, disse: "Lamentamos que um candidato levante suspeitas por viver sem luxos na periferia, enquanto políticos com alto padrão de vida não sejam submetidos a este mesmo escrutínio —que é necessário, mas parcial".
Veja as perguntas enviadas pela reportagem:
- Como o candidato se mantém? Ele recebe salário ou algum auxílio? De quem?
Contexto: Boulos se apresenta em sua campanha como alguém que nasceu em uma família de classe média paulistana e abdicou de confortos para militar junto ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Desde então, tem como prioridade liderar a entidade na luta por moradia.
Resposta: Boulos é professor e colunista da revista Carta Capital, onde há quatro anos escreve colunas publicadas quinzenalmente, e do IREE [Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa], onde, além de colunista, participa de cursos remunerados oferecidos pelo instituto.
No último ano fiscal, deu dois cursos de extensão na FESP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). Todos os seus rendimentos estão devidamente declarados em seu Imposto de Renda.
- O partido ou o MTST pagaram em algum momento ajuda de custo, como dirigente ou sob alguma outra rubrica (ele foi o presidenciável do PSOL)? Se ele recebe, qual é esse salário ou ajuda de custo? É fixo ou variável?
Contexto: Boulos foi candidato a presidente pelo PSOL em 2018 e, desde então, é um dos personagens mais relevantes do partido nacionalmente, além de ser a liderança mais conhecida do MTST.
Resposta: Não recebe e nunca recebeu remuneração do PSOL ou do MTST.
- A casa do candidato no bairro do Campo Limpo não está listada na relação de bens. Ela é alugada ou é de algum parente ou amigo? Se há um aluguel, de quanto é e quem paga?
Contexto: O candidato mora em uma casa no Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, com a esposa e as duas filhas. A casa não faz parte da declaração de bens de Boulos à Justiça Eleitoral.
Resposta: A casa do candidato foi adquirida em nome do seu pai, já que Boulos não possuía renda suficiente à época da aquisição para ter o financiamento aceito pelo banco.
- Em relação à candidatura de 2018, houve apenas o acréscimo da conta de R$ 579. Ele gastou tudo que recebeu no período? Faz algum outro tipo de reserva de emergência?
Contexto: Em 2018, na primeira disputa eleitoral de sua carreira política, Boulos declarou como patrimônio à Justiça Eleitoral apenas o Celta. Na eleição deste ano, o único acréscimo na declaração de bens foi a quantia na conta informada já durante a campanha.
Resposta: Toda a renda do candidato no último período foi gasta para sua sobrevivência e de sua família.
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