Ainda sem candidato à sucessão, Maia foca consequências de apoio do Planalto a Lira

Aliados do presidente da Câmara não chegaram a acordo sobre quem será o adversário do líder do centrão, preferido de Bolsonaro

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Brasília

Ainda sem a definição de quem será o candidato do seu grupo político ao comando da Câmara, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem enfatizado as consequências das ações do presidente Jair Bolsonaro e sua equipe para impulsionar a candidatura do líder do PP e do centrão, Arthur Lira (AL).

Maia disse nesta quinta-feira (10) que, ao tentar interferir na eleição legislativa, o governo corre o risco de perder a grande maioria que atualmente tem na pauta econômica.

O grupo de Maia esperava anunciar ainda nesta quinta o nome que disputará a presidência da Casa representando o bloco, que tem seis partidos (PSL, MDB, PSDB, DEM, Cidadania e PV). Integrantes dessa ala já reclamam da indefinição e divergências internas. Lira lançou sua candidatura nesta quarta (9).

“Ele [o governo] está correndo risco de reduzir a grande maioria que tem na pauta econômica para tentar interferir na Câmara. [...] E vai colocar em risco, sim, o ambiente de relacionamento com a centro-direita, que sempre votou a pauta econômica sem precisar de emenda, de cargos”, afirmou Maia.

Durante discurso em Porto Alegre nesta quinta, Bolsonaro pediu que os congressistas elejam uma boa chapa e disse que oposição não pode ser feita ao governo.

"Eu peço a Deus que ilumine vocês, deputados e senadores, para que escolham uma boa mesa diretora. Oposição não pode ser feita ao governo, a seu país. Oposição é natural, mas não em questões que envolvam o interesse nacional", disse Bolsonaro durante inauguração de uma obra.

Homem de máscara, terno e gravata ao lado de porta de vidro
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) - Pedro Ladeira - 7.dez.20/Folhapress

O Planalto tem atuado a favor de Lira. O governo avalia uma reforma ministerial para acomodar aliados e puxar mais votos para o candidato alinhado ao Executivo. A liberação de emendas também está em jogo para impulsionar Lira na eleição.

O presidente da Câmara, que tenta eleger um sucessor do seu grupo político, voltou a dizer que o objetivo do governo é obter o controle da Câmara para avançar na pauta de costumes, como medidas contra a preservação ambiental e projetos que flexibilizam as regras para armas. Para ele, isso poderá resultar na queda do apoio à pauta econômica e de reformas do governo.

Apesar da pressão para anunciar um candidato do seu entorno, Maia afirmou que a decisão está prevista para os próximos dias, sem dar uma perspectiva precisa.

Essa ala vem se apresentando como independente ao governo Bolsonaro para se contrapor à candidatura de Lira. Os mais cotados até o momento são Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP).

Ribeiro, apesar de ser do PP —mesmo partido de Lira—, mantém postura autônoma em relação à sigla e às negociações com o governo.

Ele, portanto, não tem o respaldo do partido para se lançar como adversário de Lira, e há uma articulação para que Ribeiro possa se candidatar pelo PSL. Além deles, está na disputa Elmar Nascimento (DEM-BA).

Maia tenta atrair o Republicanos, com 32 deputados, mas a legenda quer sustentar candidatura própria, a do presidente do partido, Marcos Pereira (SP), sem integrar o bloco contruído pelo atual presidente da Casa.

Aliados de Lira, por outro lado, têm feito uma ofensiva sobre Pereira e chegaram a oferecer até mesmo um ministério a ele, em troca do apoio formal do Republicanos à campanha do candidato de Bolsonaro.

A eleição para a Mesa Diretora da Câmara está prevista para 1º de fevereiro. O voto é secreto. Por isso, a adesão de partidos a blocos não significa a garantia de votos. São necessários 257 do total de 513 para eleger quem comandará os deputados pelos próximos dois anos.

Aliados de Maia reclamam da demora do deputado para definir quem disputará a presidência no ano que vem. Integrantes do grupo do parlamentar dizem que, enquanto não for definido o nome, Lira consegue agregar mais apoios.

Integrantes do grupo de Maia afirmam ainda que PROS e PTB vão se somar ao bloco, apesar de ambas as siglas terem sido anunciadas na quarta-feira como parte da rede de apoio do líder do centrão.

No PSL, por exemplo, calcula-se que apenas metade da bancada (atualmente com 41 deputados) esteja alinhada ao grupo do atual presidente da Câmara. O restante, aliados de Bolsonaro, deve apoiar Lira.

As articulações para a eleição na Câmara e no Senado se intensificaram nesta semana depois de o STF impedir que Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), concorram à reeleição.

Além do apoio da máquina pública do governo, Lira tenta atrair o apoio das siglas de esquerda. A aliados, ele disse acreditar em votos, principalmente do PSB. O partido já demonstrou ter maioria favorável a Lira, apesar de ainda não ter anuciado formalmente quem apoiará na disputa.

O PDT e o PC do B também estão divididos e podem dar votos ao candidato do PP.

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