Na Grande SP, PT ganha respiro em meio a derrotas de caciques da região

Resultado nas urnas aponta desejo de renovação e alternativas que não deram resultado esperado

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Mogi das Cruzes (SP)

A região metropolitana de São Paulo presenciou neste domingo (29) a derrota de quadros políticos históricos. Foi o caso de Valdemar Costa Neto (PL), em Mogi das Cruzes, e de Fernando Fernandes (PSDB), em Taboão da Serra. Já em Diadema, com José de Filippi, o PT obteve a única vitória da estratégia de apostar na candidatura de ex-prefeitos.

Nessas três cidades não houve reeleição e sucessão nas prefeituras, um cenário que fugiu à regra da maioria dos 39 municípios da Grande São Paulo.

Dos 22 prefeitos que tentaram a reeleição, sem contar a capital paulista, 14 foram reeleitos.

Estagnado no segundo turno, em Mogi das Cruzes, o prefeito tucano Marcus Melo somou apenas 159 votos extras em relação à primeira etapa do pleito e perdeu a reeleição para o vereador Caio Cunha (Podemos), algo inédito neste século na principal cidade do Alto Tietê, que desde 1997 é governada por grupos ligados a Valdemar, ex-deputado condenado no mensalão. Seu PL compunha a chapa de Melo.

À Folha a assessoria de Valdemar disse que ele não fala com a imprensa e que não participou do pleito. Especialistas ouvidos pela reportagem, porém, apontam uma derrota também para o político.

“Apesar dele não aparecer publicamente durante a campanha, no Alto Tietê todo mundo conhece o Valdemar Costa Neto e reconhece a influência dele na relação política na região. Não só. Ele ainda é muito influente na política nacional”, diz o sociólogo Afonso Pola, que acompanha o cenário politíco do município.

“O que parece haver em Mogi das Cruzes já faz alguns anos, talvez desde os governos do Junji Abe e depois nos do Marco Bertaiolli, é uma tentativa de grupos políticos ocuparem esse espaço político de força absoluta de Valdemar Costa Neto”, diz o cientista político Humberto Dantas, que lidera a área de educação do CLP (Centro de Liderança Política).

O resultado, acrescenta Dantas, "pode representar o desgaste de grupos, aí a gente falaria no plural, que se fizeram a partir do Valdemar Costa Netismo em Mogi das Cruzes, que teria sofrido uma derrota muito significativa”.

Vestido de terno, Valdemar sorri
Valdemar Costa Neto, do PL, participa de reunião para definir aliança na disputa presidencial de 2018 - Pedro Ladeira - 25.Jul.2018/Folhapress

Em Taboão da Serra, na disputa mais acirrada de domingo, o deputado estadual e empresário do setor imobiliário Aprigio da Silva (Podemos) foi eleito com 50,63% do eleitorado, encerrando a dinastia de Fernando Fernandes (PSDB).

A diferença foi de 1.695 votos em relação ao sucessor do tucano, Daniel Bogalho (PSDB), que teve 49,37%.

Fernandes está no comando há 16 anos, somados os últimos oito anos de governo aos outros dois mandatos, exercidos de 1997 a 2004, sem contar os quatro anos como vice, de 1989 a 1992.

À Folha o prefeito disse que a eleição mostrou uma cidade dividida e atribuiu o resultado àqueles que deixaram de votar. “Lógico que existe uma expectativa sempre de renovação em todos os aspectos, daqueles que querem participar do governo."

De mãos dadas, máscaras e braço erguidos, Fernandes e Analice caminham à frente de grupo com bandeiras com o rosto de Daniel
Os tucanos Fernando Fernandes, prefeito de Taboão da Serra, e a esposa, a deputada Analice Fernandes, durante campanha de seu sucessor no cargo, Daniel Bogalho - Reprodução/Facebook

Casado com a deputada estadual Analice Fernandes (PSDB), eleita em 2018 para o quarto mandato, o político afirmou que não planeja se candidatar novamente, mas que seguirá atuante nos bastidores e "com certeza" apoiará alguém no pleito de 2024 na cidade, possivelmente Bogalho.

"Acho que ele é uma grande esperança política para Taboão da Serra”, disse.

Para o cientista político Humberto Dantas, o eleição na cidade foi uma amostra da “dificuldade de manter uma hegemonia”, o que aponta como símbolo importante em termos políticos.

Por outro lado, afirma, não há novidade na eleição de um representante do setor imobiliário, citando o exemplo do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD).

Em relação ao desempenho do PT, o cientista político diz que há três eleições o partido “tem caído na armadilha de dizer que está tudo bem”.

Depois de conseguir apenas uma prefeitura em 2016 na região, a sigla venceu em Mauá e Diadema, mas o resultado está distante das 11 prefeituras conquistadas em 2008, melhor resultado da legenda na Grande São Paulo.

Em Guarulhos, o prefeito Gustavo Henric Costa (PSD), o Guti, foi reeleito ao vencer o ex-prefeito Elói Pietá (PT), um dos fundadores do partido, que governou a cidade de 2001 a 2008 e tem forte influência na cidade. A esposa, a ex-deputada federal Janete Pietá, foi reeleita vereadora pelo PT.

Pietá disse à Folha que, mesmo não sendo eleito, dobrou a votação em comparação à 2016 —quando terminou em terceiro lugar— e conseguiu formar uma aliança ampla no segundo turno contra o governo.

“Não foram realizações do governo de meu adversário que deram êxito para ele no resultado. Foram as fake news, que confundiam o meu governo bem avaliado com erros de outros governos."

Pietá numa esquina da cidade
O ex-prefeito e candidato derrotado à prefeitura da cidade de Guarulhos, Elói Pietá - Adriano Vizoni - 18.Nov.2020/Folhapress

O petista destaca que deixou o governo com 80% de aprovação e que agora pretende atuar nos bastidores por uma “ampla aliança de partidos e pessoas” e para destacar “novas lideranças" que assumam seu lugar.

Das 26 candidaturas lançadas pelo PT na região metropolitana, seis foram de ex-prefeitos. Deste perfil, apenas José de Filippi foi eleito. Pela quarta vez, ele será prefeito de Diadema. Seu último ciclo de mandato foi de 2001 a 2008.

“O legado que temos em Diadema é o que me reconduziu à Prefeitura. As pessoas sabem que nossas políticas sociais mudaram as vidas delas para melhor”, afirmou à Folha, por meio de sua assessoria.

Vestidos com camisetas com o número 13, Patty, uma mulher negra, e Filippi, um homem branco mais velho, fazem gestos diante de militantes com bandeiras do candidato
Eleitos para a Prefeitura de Diadema, os petistas José de Filippi e sua vice, a empresária Patty Ferreira - Reprodução/Facebook

Apesar da conquista e da vasta experiência política —foi deputado estadual e federal e integrou a gestão de Fernando Haddad em São Paulo—, a distância para o oponente Taka Yamauchi (PSD), que nunca exerceu mandato, foi de 2,7 pontos percentuais, pouco mais de 5.600 votos.

Filippi brincou que, em comparação com a diferença de sua eleição em 2004, quando venceu por 554 votos, a desse ano "foi quase uma lavada”.

Sobre cansaço em relação a antigos quadros, ele discorda. "Pelo contrário. A maioria da população escolheu a experiência ao invés do discurso vazio do novo”, afirmou, acrescentando que abstenção por conta da pandemia também pesou.

Além de demonstrar força política de Filippi na cidade, o cientista político Humberto Dantas afirma que o resultado evidencia que o governo que sucedeu o PT em Diadema —de Lauro Michels (PV)— não trouxe a renovação esperada, mas defende que tanto o PSDB quanto o PT apostem em novos quadros, a exemplo da eleição de Marcelo Oliveira (PT) como prefeito em Mauá.

“Chegou a hora de PT e PSDB se repensarem. Para o PT, isso está infinitamente mais urgente pelo resultado dessas eleições. Para o PSDB, isso está infinitamente mais urgente pelo resultado as eleições de 2018. Aí cada partido vai enxergar isso da forma que preferir”, diz.

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