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STF se desmoraliza, e presidente do Republicanos ganha força na Câmara

Decisão sobre sucessão no Congresso expôs ministros ora em conchavos, ora guiados pelas redes

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São Paulo

Um tremor político de grande intensidade emanou do Supremo Tribunal Federal neste final de semana, desorganizando o jogo político em Brasília e obrigando novos cálculos para a longa travessia de 2021 rumo à eleição presidencial do ano seguinte.

Ao reverter a tendência apontada na sexta (4) de que a corte iria topar o conchavo cozido por meses com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e com o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), permitindo a inconstitucional recondução deles às presidências das Casas, o STF se desmoralizou duplamente.

Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia durante sessão do Congresso para homenagear Dias Toffoli (STF)
Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia durante sessão do Congresso para homenagear Dias Toffoli (STF) - Pedro Ladeira - 9.set.2020/Folhapress

Primeiro, pelo indisfarçável cheiro de gambiarra do arranjo.

Que a elite econômica e política do país, o que exclui o clã instalado no Planalto, considere a dupla do DEM melhor para tocar os trabalhos no Congresso, até aí é do jogo. Mas que isso se tenha se traduzido em uma leitura criativa da Carta, ao arrepio de sua literalidade, desta vez não colou.

Saem arranhados Gilmar Mendes e a bancada garantista que ele lidera. O neófito Kassio Nunes, com seu voto seletivo para atingir Maia, ficou ainda pior. O que não se traduz em boa notícia para a turma lava-jatista, se é que a alcunha ainda faz algum sentido, do tribunal.

O Supremo se orgulha de ser um arquipélago com 11 ilhas, mas que conversam bastante entre si. A julgar pelo muxoxo da turma garantista, Luiz Fux e os seus romperam um acordo prévio de consenso sob a pressão da opinião pública.

Não é a primeira nem deverá ser a última vez que o tribunal cede sob o peso das redes sociais, mas talvez tenha sido o episódio mais importante. Noves fora a virtual ingovernabilidade do plenário sob Fux agora.

Fora um assunto "interna corporis", os efeitos do terremoto ficariam contidos no canto sul da praça dos Três Poderes. Mas a decisão tem uma repercussão muito mais ampla.

Alcolumbre era um proponente aberto de sua pretensão de ficar na cadeira. Maia, mais esperto, não. Passou meses dizendo para fins públicos que descartava a ideia e articulou, de fato, uma solução de continuidade com Baleia Rossi, o deputado paulista que preside o MDB.

Tal acerto teve o beneplácito de João Doria, o governador de São Paulo e mais ativo rival do Jair Bolsonaro. No cálculo do tucano, o núcleo de uma frente contra Bolsonaro e a esquerda em 2022 inclui PSDB, DEM e MDB, então concessões e apoios cruzados seriam naturais.

Foi assim que o DEM ganhou a vaga de vice de Doria, com a promessa de que Rodrigo Garcia será seu candidato a governador em 2022, e o MDB acabou com a vice de Bruno Covas (PSDB), reeleito na capital.

Mas Rossi tem problemas em sua própria sigla. O MDB, maior bancada no Senado, não abrirá mão de substituir Alcolumbre, e já tem pelo menos três nomes na disputa. Isso poderá dificultar a ideia de, novamente, um partido dominar as duas Casas do Congresso.

Bolsonaro segue apostando as fichas em Arthur Lira (PP-AL), mas as resistências a ele são grandes.

Emerge forte, com a decisão do Supremo, Marcos Pereira (SP), o metódico presidente do Republicanos. Poucos minutos depois do último voto na noite do domingo (6), ele já havia postado uma celebração da decisão no Twitter. Pouco antes da meia-noite, assumiu ser candidato.

Seu caráter "total flex", por assim dizer, lhe dá um caminho intermediário. É pastor licenciado da Igreja Universal, dona de seu partido, mas é conhecido como um pragmático.

Abriga na sua sigla dois dos filhos de Bolsonaro, mas tem um acordo firme com Doria em São Paulo. Quis que o Republicanos apoiasse Covas já no primeiro turno, mas acabou atropelado pelo canto de sereia do presidente sobre o Celso Russomanno, que resultou na terceira humilhação seguida do deputado na disputa municipal.

Ao contrário do que aconteceu na prefeitura, manteve seus cargos no governo estadual. E voltou a apoiar o tucano no segundo turno. É visto como um aliado em dois palácios incomunicáveis, o do Planalto e o dos Bandeirantes.

Após uma eleição que puniu, grosso modo, discursos mais polarizados, pode surgir como opção tanto a quem cansou do estilo imperial de Maia quanto os incomodados com a gestão de Bolsonaro.

Mas, como diz um deputado com larga experiência, é engano descartar o poder de influência do atual presidente da Câmara no processo. O mesmo não se diz de Alcolumbre, cuja eleição foi mais um ato de revolta contra o também imperial Renan Calheiros (MDB-AL) do que qualquer outra coisa.

No tempo da política, ainda temos talvez um ano inteiro para se desenrolar até fevereiro de 2021.

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