Abandonada na disputa pelo Senado, Tebet afirma que parte do MDB cedeu ao 'toma lá dá cá' e ataca governo

Senadora diz que gestão Bolsonaro tem projeto de se perpetuar no poder e usa pauta armamentista para estimular confronto

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Brasília

Abandonada pelo próprio partido na disputa pela presidência do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) criticou nesta sexta-feira (29) alguns dos seus companheiros de bancada, afirmando que parte do MDB cedeu à “tentação do fisiologismo, do toma lá dá cá”.

A senadora também fez duas críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirmando que busca desestabilizar as instituições e que tem um projeto de perpetuação no poder.

Tebet também disse que a política armamentista de Bolsonaro é para dar “suporte a uma estrutura de confronto”.

A senadora participou na manhã desta sexta-feira de evento virtual com lideranças femininas. Participaram personalidades políticas, do Judiciário e militantes.

“Eu, como qualquer mulher brasileira, não me curvo fácil. Não foi fácil receber essa missão [a candidatura pela bancada do MDB]”, afirmou a senadora.

“Mas mais difícil do que receber essa missão foi saber que, no meio do caminho, uma parte do meu partido cedeu à tentação do fisiologismo, do toma lá dá cá dos cargos, e optaram por espaços na Mesa [Diretora do Senado] ao invés de espaço de luta, da luta história do MDB."

As declarações foram dadas um dia após ter anunciado sua candidatura independente à presidência do Senado.

Tebet era a candidata do MDB, mas sua bancada rachou após uma ofensiva do grupo do DEM que ofereceu cargos em troca do apoio a Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Pacheco é o candidato do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e de Bolsonaro. O senador mineiro já conta com apoio de 10 bancadas, que garantem votos suficientes para vencer a disputa desconsiderando possíveis traições.

Alcolumbre se reuniu nesta semana com o líder da bancada do MDB, Eduardo Braga (MDB-AM), e ofereceu ao partido a vice-presidência do Senado, a segunda secretaria da Mesa Diretora e o comando de duas comissões —entre elas a importante CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), hoje presidida por Tebet.

Com a dificuldade da senadora em obter apoio, membros da bancada já vinham pressionando pela desistência e uma composição com o grupo de Pacheco. Após reunião da bancada na quarta-feira (27), houve sinalização de que o acordo avançaria. Por isso Tebet decidiu se lançar como independente.

Durante o evento virtual, várias militantes fizeram críticas ao governo Jair Bolsonaro, que estaria representando uma ameaça à democracia. Tebet concordou com as falas.

“Vocês falaram muito bem. É um governo que aos poucos desestabiliza as instituições, descredencia a imprensa livre, organismos da sociedade civil, como o nosso, organismos internacionais para poder ocupar espaço e aos poucos tenta, em um processo que está relacionado a uma perpetuação no poder. O problema não é 2022. O problema é o que eles farão em 2021”, completou.

A senadora em seguida afirmou que as mulheres podem justamente ser a fonte da resistência ao atual governo. E pediu atenção aos movimentos sociais para monitorarem a atuação do Congresso após as eleições para as presidências da Câmara e do Senado.

“Vocês precisam ficar atentas ao que vai acontecer a partir do dia 2 no Senado. Essa pauta armamentista, que não é para dar segurança para a família. É para dar suporte a uma estrutura de confronto, porque é isso que eles querem. Qualquer coisa vai ser motivo para colocar arma na rua, para decretar estado de defesa”, afirmou.

“Ao ouvir falar essa palavra [estado de defesa], porque quem é advogada como eu, eu cheguei a falar ‘não é possível que eu estou voltando a ouvir isso’. Estado de defesa é a antessala. É a porta de entrada para algo muito mais grave."

Também nesta sexta-feira, a equipe do senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) entrou com um mandado de segurança contra Alcolumbre e a Mesa Diretora do Senado para que seja respeitada a regra da proporcionalidade na eleição que será realizada na próxima segunda-feira (1º).

A regra, prevista no regimento da Casa e na Constituição, argumenta o senador na ação, prevê que a presidência do Senado caberia à maior bancada. No caso, a do MDB, que conta com 15 senadores.

“Assim como a vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade garante a independência do Poder Judiciário, a representação proporcional dos partidos na constituição da Mesa Diretora, que é a responsável pela organização da agenda do Legislativo e das pautas de votação, garante que este Poder não estará sujeito a controle e interferências externas (pelo menos em tese)”, afirma Kajuru na petição.

No documento, ele argumenta que há desrespeito à independência entre os Poderes, uma vez que o governo Bolsonaro estaria oferecendo cargos e verbas em troca de votos.

“Para garantir a eleição do seu escolhido, o chefe do Poder Executivo tem feito inúmeras intervenções e cooptações (como se referiu o senador Tasso Jereissati), o que inclui distribuição de cargos e liberação de emendas."

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