Baleia Rossi, com histórico de votações pró-governo, ajustou discurso para atrair oposição

De perfil centro-liberal, deputado do MDB agora se equilibra entre acenos ao centro e à esquerda e busca distância do Planalto

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Brasília

Ex-integrantes de um mesmo bloco na Câmara dos Deputados, os líderes do MDB, Baleia Rossi (SP), e do PP, Arthur Lira (AL), são os principais candidatos à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Casa.

Ambos entraram na política graças à atuação prévia da família. O integrante do PP é filho do ex-senador Benedito de Lira (PP). Já o pai do emedebista é Wagner Rossi (MDB), ex-ministro do governo Dilma Rousseff (PT).

Ao longo dos dois primeiros anos do governo Jair Bolsonaro (sem partido), tanto Baleia como Lira votaram da mesma forma em diversas pautas importantes na Câmara, principalmente na área econômica.

Até julho, os congressistas eram do mesmo bloco de partidos na Câmara, criado para assegurar indicações na CMO (Comissão Mista de Orçamento). Com a adesão de Lira ao governo e a aproximação da eleição para o comando da Casa, o MDB deixou o grupo em um gesto de olho na disputa.

Com histórico de votações alinhado ao Palácio do Planalto, os dois agora tentam marcar posições em campos distintos.

A eleição para a presidência da Câmara é considerada por congressistas de diversos partidos e integrantes do governo a mais acirrada dos últimos anos. Com possibilidade de traições nos blocos de apoio a ambos os candidatos, deputados avaliam ser imprevisível apostar em um favorito.

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Considerado discreto e avesso a conflitos, o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) coleciona histórico de votações favoráveis ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara, mas tem buscado marcar posição de distância do Executivo.

Deputado pela segunda vez, o paulista votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), cujo argumento foi considerado ilegal pelo PT e outros partidos de oposição.

Agora, para atrair e manter ao seu lado siglas de esquerda, Baleia adotou em seu vocabulário frases como o "respeito ao Estado democrático de Direito, às liberdades e às minorias", como pregou em 23 de dezembro.

O objetivo é reforçar, como diz o slogan da sua própria campanha, que a Câmara será independente caso ele seja eleito.

Na semana passada, o deputado falou em retomar o pagamento do auxílio emergencial e ampliar o Bolsa Família e irritou o mercado ao não ressaltar que isso só ocorreria dentro do teto de gastos.

O discurso foi sob medida para a oposição, que defende o pagamento da ajuda financeira mesmo que para isso seja preciso estourar o limite de despesas.

Baleia reforçou depois que defende solução dentro do teto. Mas o mercado foi pego de surpresa com a declaração inicial.

O próprio emedebista define-se como de perfil centro-liberal na economia, ajudou a aprovar a reforma da Previdência e é favorável, por exemplo, à reforma administrativa enviada pelo Executivo, que promove uma reestruturação do serviço público.

Baleia também é autor da reforma tributária, sobre a qual dialogou ao longo dos últimos meses com a equipe econômica.

Por mais de uma vez, o congressista recebeu convites para que o partido o MDB passasse a integrar a base de apoio do governo na Câmara. Baleia, inclusive, participou de reuniões com os congressistas aliados do Executivo.

O deputado, porém, não cedeu ao Palácio do Planalto e oficialmente manteve a postura de independência.

Em campanha, tem o desafio de acentuar ainda mais essa característica para fazer frente a Arthur Lira (PP-AL), que tem o apoio de Bolsonaro, e conter dissidências no bloco de 11 partidos que o lançou e conta com MDB, DEM, PT, PSL, PSB, PDT, PC do B, PSDB, PV, Cidadania e Rede.

De acordo com deputados, há defecções não só nas siglas de oposição, mas nas de centro, como DEM, PSDB e o próprio MDB.

Em pré-campanha desde meados do ano passado, a candidatura de Baleia só engrenou no fim de 2020, às vésperas do Natal.

Desde que o STF (Supremo Tribunal Federal) barrou a possibilidade de reeleição de Maia, em 6 de dezembro, o grupo de partidos que orbita o presidente da Câmara aguardava a definição sobre qual nome os representaria.

A disputa inicialmente tinha o nome de cinco deputados, dos quais os principais eram Baleia e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). O último tinha mais apoios na oposição, sobretudo no PT.

Dilma tem mágoas do emebebista, que era ligado ao ex-presidente Michel Temer (MDB), e a posição dela quase levou o PT a vetar o nome de Baleia. No fim de 2020, Dilma disse em entrevista que não há "ninguém mais contra a democracia do que foi o MDB".

A definição do candidato passou pela capacidade de aglutinação de apoios que cada um teria. Pesou a favor de Baleia o endosso do DEM do Senado e da cúpula do PSDB. Além disso, os líderes de PC do B, PDT e PSB, que inicialmente tinham fortes ressalvas a ele, o apoiaram.

Junto a isso, Aguinaldo Ribeiro enfrentou entraves para se viabilizar, já que o PP, seu partido, chancela a candidatura de Lira e, caso ele fosse lançado, haveria uma conta difícil a ser feita para acomodar aliados do bloco de 11 partidos em cargos da Mesa Diretora.

O seu desafio agora, apontam aliados, será fazer o corpo a corpo com deputados. Baleia é visto como um congressista com atuação comedida em plenário e que evita festas com os pares fora da Casa.

Dentro do MDB, correligionários chamam o dirigente da legenda de "discípulo de Temer" por se assemelhar ao ex-presidente no trato com os colegas, evitar entrar em bolas divididas e construir acordos.

O deputado assumiu a presidência do MDB em 2019 com consenso em torno de seu nome. Ele também é líder do partido na Casa desde 2016.

É atribuída a Baleia uma mudança na comunicação do partido para posicionar a sigla como de centro-direita e afastá-la o tanto quanto possível da pecha de "centrão".

No primeiro mandato, ele votou pela cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), expoente do centrão e alvejado por investigações da Lava Jato.

Naquela época, ajudou a articular a aprovação de propostas polêmicas, como o teto de gastos públicos e a reforma trabalhista —medidas também criticadas pelos partidos de esquerda.

RAIO-X

Baleia Rossi, 48
Presidente nacional do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e líder do partido na Câmara, o deputado federal por São Paulo está em seu segundo mandato. Começou a carreira política como vereador de Ribeirão Preto. Foi deputado estadual em São Paulo de 2003 a 2015 e atuou como secretário municipal de Esportes de Ribeirão em 1998. Seu bloco de apoio conta com MDB, DEM, PT, PSL, PSB, PDT, PC do B, PSDB, PV, Cidadania e Rede

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