Descrição de chapéu folha explica

Entenda o que está em jogo e quais as regras das eleições para presidências de Câmara e Senado

Votações nesta segunda-feira (1º) irão eleger novo comando das Casas para os próximos dois anos

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Mogi das Cruzes (SP)

A retomada dos trabalhos no Congresso Nacional nesta segunda-feira (1º) será marcada pela eleição dos comandos da Câmara dos Deputados e do Senado.

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) deixará o cargo exercido por ele desde julho de 2016. Já o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) encerra o período iniciado em fevereiro de 2019 à frente da Casa.

Em dezembro, o STF (Supremo Tribunal Federal) declarou inconstitucional a reeleição de presidentes da Câmara e do Senado na mesma legislatura, como prevê a Constituição e o regimento das duas Casas. Com isso, haverá mudança no comando do Congresso.

Entenda como funciona a eleição.

Quais ritos antecedem a eleição na Câmara e no Senado?

A primeira etapa é a definição dos pré-candidatos, com início para a negociação de votos. Com a indefinição sobre a possibilidade de reeleição de Maia e Alcolumbre, esse processo só ganhou força em janeiro, após o veto do Supremo.

Na Câmara, os principais nomes são os deputados Arthur Lira (PP-AL), que lançou a candidatura dias após a decisão do STF e tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e Baleia Rossi (MDB-SP), candidato de Maia, anunciado em 23 de dezembro.

Para ser eleito presidente da Câmara em primeiro turno, o deputado precisa de 257 votos.

Também estão na disputa Alexandre Frota (PSDB-SP), André Janones (Avante-MG), Fábio Ramalho (MDB-MG), Luiza Erundina (PSOL-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS).

Especialistas ouvidos pela Folha apontam que, apesar do apoio de Bolsonaro, não é possível assegurar que Lira, se eleito, será de fato um presidente alinhado ao governo.

A professora Graziella Testa, da Escola de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas do Distrito Federal, afirma que o fato de Bolsonaro não estar filiado a nenhum partido torna a relação mais frágil.

“[A falta de um partido] pode gerar um problema para ele [Bolsonaro] e frustrar a capacidade de construção de coalizão do presidente da República”, diz ela, lembrando que o processo de construção de governabilidade no Congresso desafiou todos os presidentes.

Para Arnaldo Maurberg, professor do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), não há como prever quanto tempo irá durar a boa relação de Lira e Bolsonaro.

“Com o Arthur Lira, acredito que num primeiro momento você talvez vá ter um relacionamento mais harmonioso com o Executivo, que não sei te dizer até quando vai durar.”

No Senado, Alcolumbre oficializou o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) como candidato, que recebeu o apoio de Bolsonaro e também do PT.

A principal oponente é a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Simone Tebet (MDB-MS). Os outros candidatos são: Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Lasier Martins (Podemos-RS) e Major Olimpio (PSL-SP)

Quais os poderes dos presidentes das duas Casas?

Na Câmara dos Deputados, cabe ao presidente o controle da pauta do plenário, que, até o final de 2020, tinha mais de mil projetos na fila. Em sua gestão, Maia priorizou pautas da área econômica, como a reforma da Previdência, e deixou de lado projetos conservadores.

A professora Graziella Testa afirma que diante da fragmentação partidária, que coloca o presidente como um articulador, e do trabalho remoto, que impede o funcionamento das comissões centralizando o poder nos líderes, o papel do presidente “nunca foi tão importante”.

Maurberg, da UnB, acrescenta que cabe ao Executivo negociar um nome, mas também buscar pontes caso outro candidato seja eleito, uma vez que além do controle da agenda, o chefe da Casa também é quem autoriza ou não a abertura do processo de impeachment do presidente da República.

“É muito importante que o Executivo tenha um papel não muito ativo, mas não muito omisso”, diz, citando os atritos de Fernando Collor com Ibsen Pinheiro e de Dilma Rousseff com Eduardo Cunha.

Além disso, o presidente da Câmara também é o segundo na linha sucessória da Presidência da República, seguido pelo presidente do Senado, que tem entre suas atribuições presidir as sessões conjuntas do Congresso, além de ter controle da pauta da Casa. A professora Testa, porém, destaca que a agenda no Senado costuma ser menos conflituosa.

Os membros da Mesa Diretora têm mandato de dois anos e a reeleição é vedada pela Constituição.

Além da presidência, quais cargos serão preenchidos?

Na Câmara dos Deputados e no Senado, a mesa e a comissão diretora são compostas por sete integrantes titulares, incluso o presidente, dois vice-presidentes e quatro secretários, além de quatro suplentes.

Na Câmara, os cargos da Mesa Diretora são distribuídos entre os partidos com base na representação partidária e por acordo entre as bancadas. Além dos candidatos escolhidos pelos partidos ou blocos partidários, pode haver candidatura avulsa, desde que seja da mesma bancada ou bloco.

O secretário-geral da Mesa do Senado, Luiz Fernando Bandeira, explica que na Casa o regimento prevê quatro etapas de votação para definição da comissão diretora, porém, por acordo entre os partidos, que já fazem a divisão por proporcionalidade, a formação costuma ser feita com duas votações.

“Depois de eleito e empossado o presidente, ele abre a eleição dos secretários, vice-presidentes e dos suplentes, que geralmente se faz por chapa. É raro ver no Senado disputas para cargos que não o de presidente, diferente do que acontece na Câmara”, diz.

Como é o processo de votação?

CÂMARA

  • Os blocos de apoio dos candidatos deverão ser formados até meio-dia de segunda (1°)
  • 17h é o prazo máximo para registro das candidaturas dos deputados que querem disputar a eleição
  • A sessão em que ocorrerá a eleição está prevista para começar às 19h. Cada candidato a presidente —são oito— terá dez
  • minutos para discursar
  • A votação ocorre em urna eletrônica. Serão 21 espalhadas pelos salões Verde e Nobre —historicamente, eram 14
  • Por causa da pandemia, foram adotados cuidados. A votação ocorrerá em blocos de cinco deputados por urna. Cada um terá três minutos para votar
  • Haverá higienização após cada votação
  • Se nenhum nome obtiver pelo menos 257 votos, haverá segundo turno

SENADO

  • Não há prazo para formação de blocos.
  • Às 14h, começa a chamada sessão preparatória (em que ocorre eleição). O presidente do Senado então pergunta se há novas candidaturas, além das cinco já protocoladas
  • Candidatos terão dez minutos para discursar, antes da votação
  • Serão quatro urnas: duas no plenário e duas fora, para senadores considerados de grupo de risco. A votação será em cédulas de papel
  • Será eleito o candidato que tiver 41 votos. A expectativa é que a sessão termine às 17h

Quais são as diferenças entre os processos de votação das duas Casas?

O regimento da Câmara prevê eleição por urna eletrônica, enquanto o do Senado estabelece a votação por cédulas de papel. Apesar disso, Bandeira lembra que, em 2017, o senador Eunício Oliveira (MDB-CE) foi eleito de forma eletrônica, mas em 2019 os senadores pediram que o regimento fosse seguido. “A questão do voto em papel nos pegou de surpresa. Não estávamos prevendo”, afirmou.

A eleição foi marcada por confusão e a primeira etapa de votação precisou ser refeita após a constatação de que havia 82 cédulas na urna, sendo que só há 81 senadores.

O PSDB decidiu abrir seus votos para Alcolumbre, movimento seguido por Flávio Bolsonaro (então no PSL, hoje no Republicanos-RJ) e que levou o senador Renan Calheiros (MDB-AL) a retirar sua candidatura.

“A votação deverá seguir os tramites regimentais e o regimento prevê a votação em papel, então estaremos prontos para fazer a votação em papel, salvo se o plenário, na hora da votação, quiser fazer eletrônico. Não vamos querer inovar”, afirma Bandeira, secretário-geral da Mesa do Senado.

Para Testa, as principais diferenças entre as votações das duas Casas são o número de votantes e a influência dos partidos. Diferentemente do que acontece na Câmara, afirma, no Senado as siglas têm menos peso no processo, em que também é considerada a representação regional.

Quais são as regalias dos presidentes da Câmara e do Senado?

Além dos poderes políticos, os presidentes das Casas têm direito a uma série de regalias, como residir em mansões vizinhas na Península dos Ministros, área nobre de Brasília, com despesas de pessoal e manutenção pagas pelo Congresso.

O imóvel da Câmara tem 894 m² de área construída e conta com piscina, churrasqueira, quatro quartos, jardim e varanda, estrutura semelhante à residência de três quartos do Senado, com área construída de 979 m².

Os presidentes também mantêm seus gabinetes no Congresso e ainda ocupam o destinado à presidência, muito mais amplo, com uma grande sala de reunião e vista para a Praça dos Três Poderes.

O chefe da Câmara ainda ganha o direito de nomear mais 46 pessoas para cargos comissionados. O do Senado pode nomear até 42 funcionários.

Além de carro com dois motoristas, os presidentes também têm o direito de usar livremente aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), fugindo de saguões de aeroportos, benefício que consideram mais importante. O uso é ilimitado, bastando aviso com poucas horas de antecedência para a preparação.

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