Não temos apoio popular para abrir processo de impeachment, diz Simone Tebet

Candidata do MDB ao comando do Senado evita fazer críticas mais contundentes a Bolsonaro e diz que inquietação atual é algo que pode ser 'rapidamente resolvido'

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Brasília

Embora enfrente o candidato do presidente Jair Bolsonaro na disputa pelo comando do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) evita fazer críticas mais contundentes ao chefe do Executivo, afirma que a inquietação atual é algo pontual e que pode ser "rapidamente resolvido" e que não há clima político para impeachment.

As declarações acontecem justamente em um fim de semana em que movimentos de esquerda e de direita realizaram carreatas pelo afastamento de Bolsonaro.

"Como senadora, entendendo que o processo de impeachment é político antes de ser jurídico. Eu entendo que ainda nós não temos ruas, não temos apoio popular para abrir qualquer processo de impeachment", afirmou em entrevista à Folha.

A senadora critica a condução do governo federal no enfrentamento da pandemia, mas afirma que as divergências políticas devem ficar "para depois", cedendo lugar para uma união para vencer a pandemia do coronavírus.

A candidata inclusive não assumiu os termos divulgados em uma nota de sua própria equipe, com ataques ao presidente.

Tebet também defende uma prorrogação do auxílio emergencial, mas discorda de seu rival na disputa pelo comando do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ao reforçar que não pode haver desrespeito ao teto dos gastos.

A senhora considera sua candidatura mais independente que a de seu rival, que é apoiada pelo governo. No entanto, o MDB é historicamente governista e dois membros da bancada do Senado são líderes do governo Bolsonaro no Congresso. Então quão independente é essa candidatura? Minha candidatura não é uma candidatura nem de situação e nem de oposição. É uma candidatura de independência, embora harmônica e a favor do país. E isso está muito claro pela minha postura como senadora da República.

Eu, na pauta econômica, tenho um alin hamento muito grande com o governo. Mas tenho muitas restrições à pauta de costumes. A todo momento faço críticas construtivas ao governo, no intuito inclusive de ajudar o país.

O candidato [Pacheco] diz que não é o candidato oficial do governo, mas tem todo o aparato, máquina, ministérios, toda uma estrutura que tem sido posta para auxiliar a sua candidatura.

Há dois anos, a senhora apoiou Davi Alcolumbre (DEM-AP)padrinho da candidatura de seu rival contra o senador Renan Calheiros (MDB-AL), membro de sua bancada, alegando que era hora de renovação. Agora Renan está do seu lado. Não é contraditório? O que houve nesses dois anos é que o MDB conseguiu caminhar a favor da renovação. De lá para cá, nós tivemos um outro presidente nacional do MDB, que é o deputado federal Baleia Rossi, que veio com uma visão de resgate histórico do partido, de renovação, pelas atitudes, pelos gestos, pelas movimentações, que está claro inclusive pela sua própria candidatura para a Câmara dos Deputados.

A senhora pode ser a primeira mulher presidente do Senado, mas obteve até agora apenas [apoio aos] votos de apenas metade das senadoras ou uma leve maioria. Por quê? Nós temos que respeitar o tempo e o posicionamento de cada uma, porque, independentemente de pertencerem à bancada feminina ou não, elas pertencem a um partido político. Os partidos políticos já têm se manifestado, têm declarado apoio a um candidato ou outro. Aqueles partidos que não estão conosco, que têm mulheres dentro das suas bancadas, serão procurados.

É um processo de construção, de diálogo, deixando claro que acima das posições partidárias, há uma bandeira muito mais histórica e necessária e essencial para nós que é a representação política da mulher no Brasil. Espero até o dia 1º de fevereiro poder contar, se não com todas, mas com a maioria absoluta das mulheres.

A senhora manteve um discurso cordial no lançamento de sua candidatura, mas depois sua equipe divulgou uma nota com duras críticas ao presidente Bolsonaro. Por que houve essa mudança de tom? Primeiro que não houve essa mudança de tom. Houve ali um ruído na comunicação da minha campanha com a campanha do Baleia, quando nós estávamos em Mato Grosso do Sul. Na minha campanha o tom sempre foi o mesmo. E isso nós rapidamente consertamos, deixamos muito claro isso.

A minha candidatura nunca foi uma candidatura de oposição. Fizemos e fazemos críticas no sentido de que o Plano Nacional de Imunização já poderia estar pronto e que estamos preocupados com a falta de insumos para a vacinação. Então essas críticas nunca deixaram de acontecer. Mas são críticas construtivas.

Um dos compromissos que eu tenho é estarmos juntos no gerenciamento dessa crise sanitária. No restante, estamos prontos, paralela à política de imunização.

Está muito claro que temos duas frentes de trabalho, aliada à questão sanitária: temos que garantir uma justiça tributária e olhar pelo lado da receita, com a reforma tributária que está na Câmara. E também enxugar gastos, cortar gordura e contar gastos no que se refere a despesas. Isso acontece no Senado.

A senhora não reconhece os termos da nota da sua equipe, que afirma que "Bolsonaro perdeu a guerra da vacina" e que tem "arroubos autoritários e machistas"? Não, eu nunca disse isso.

Como a senhora avalia o momento político atual? O que eu vejo hoje é que, diante de uma situação inusitada, de colapso do sistema de saúde pública, falta de planejamento em relação à vacinação, eu vejo hoje um certo nervosismo, seja das ruas, seja da classe política, um desencontro, um desacerto, algo pontual que pode ser rapidamente resolvido. Mas que depende sim de uma posição firme do Ministério da Saúde. Acho que nesse aspecto, o ministro [Eduardo] Pazuello tem toda a capacidade e tem o dever de serenar as ruas.

Algumas pessoas têm me perguntado sobre esses movimentos que tem acontecido nas ruas. Acho que se dá muito mais em função dessa preocupação, desse desespero das pessoas por uma vacina. Acho que é hora de equilíbrio, de moderação.

Qual sua visão sobre o presidente Bolsonaro questionar nosso sistema eleitoral e afirmar que são as Forças Armadas que decidem se vai haver democracia ou ditadura? Eu quero crer que o presidente tenha dito isso em outro contexto. Nós respeitamos as forças armadas. As Forças Armadas são essenciais para a soberania nacional. É essencial termos Forças Armadas com credibilidade, mas essa credibilidade passa por um sentimento da sociedade brasileira de que elas estão aí para nos servir e para servir aos interesses da sociedade. Eu não vi as Forças Armadas se posicionando no sentido contrário. Por isso eu repito que não vejo nenhuma ameaça à democracia nesse momento.

Como avalia a possibilidade de impeachment? É importante lembrar que o impeachment é um processo político no Congresso, é político-jurídico. Sem elementos, nem se fala de impeachment. Havendo elementos, ainda se discute se tem outro elemento, que é anterior até, que é o elemento político. Não existe impeachment sem rua, sem vontade da população. A última pesquisa que saiu agora, muito claramente, mostra que a maioria absoluta da população não quer impeachment.

Se analisarmos que o colapso da saúde pública, o desespero das pessoas buscando por vacina, se falarmos que estamos vendo um momento excepcional, talvez aqueles que estejam falando de impeachment sejam um pouquinho a mais do que em tempos normais.

Como senadora, entendendo que o processo de impeachment é político antes de ser jurídico. Eu entendo que ainda nós não temos ruas, não temos apoio popular para abrir qualquer processo de impeachment.

Qual sua avaliação da atuação do governo no enfrentamento à pandemia? Essa é uma avaliação política também. Acho sim que nós negamos por muito tempo a gravidade da pandemia, no início era natural porque não se sabia com o que estávamos lidando. Mas depois do início ficou claro que se tratava realmente de um risco às pessoas.

Esse desencontro atrapalhou toda uma política que tem que vir do governo federal. Essa judicialização, que chegou ao Supremo, não foi positiva, de dizer que estados e municípios também podem, a responsabilidade é concorrente, é compartilhada com todos. As trocas de ministros em um momento tão grave elas a meu ver não contribuíram.

Mas agora vamos deixar para olhar o passado depois, estamos iminência de continuar perdendo mil vidas por dia, agora é hora de unir esforços. A primeira medida que qualquer presidente do Congresso Nacional tem que fazer, é abrir as portas do Congresso Nacional para o Ministério da Saúde para aprovarmos imediatamente qualquer medida que possa auxiliar um plano imediato de imunização.

A senhora concorda com seu rival de que prorrogar o auxílio emergencial é necessário mesmo que signifique furar o teto de gastos? Eu não concordo, porque não há necessidade disso. Eu concordo com a premissa que é fundamental, imprescindível, no primeiro dia na presidência do Senado, de abrirmos a discussão sobre a continuidade do auxílio emergencial. Indiscutível a necessidade de se abrir uma conversa franca com o Executivo para trazer números o ministério da Economia para vermos formas de dar continuidade ao auxílio.

Mas, por mais engessado que seja o orçamento, nós temos gordura, temos condições de fazer cortes, de naquele mínimo do orçamento discricionário, abrir um espaço, temos medida provisória em que pode ser criado teto extraordinário, desde que nós tenhamos responsabilidade de entender o momento, as âncoras fiscais e saber que o auxílio emergencial pode vir com equilíbrio, com moderação, por um prazo determinado e num valor razoável.

Hoje nós estamos em outro momento e o Congresso Nacional, não tem dúvidas, que terá a responsabilidade de entender que não pode cavar demais esse buraco, sob pena de entrarmos em um buraco negro.

A senhora é próxima ao movimento Muda Senado. Pretende avançar com algumas de suas bandeiras, como impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal ou abertura de CPI para investigar o Judiciário? Eu não conversei com o Muda Senado, eu tenho conversado com partidos. E eu deixei muito claro para eles publicamente que não é o momento, que não faz parte da agenda e nem pode fazer parte da agenda de um presidente do Senado qualquer CPI contra qualquer poder e qualquer instituição.

Pretende colocar em pauta a condenação em segunda instância? O ônus de ser presidente do Senado faz com que a gente muitas vezes tenha que deixar o que a gente pensa a respeito individualmente e agir de forma coletiva. Eu já pautei a segunda instância na CCJ e pautei exatamente porque tinha um documento assinado pela maioria absoluta dos membros da comissão. A segunda instância estará, se for deliberada nesse sentido, na pauta do colégio de líderes para ser deliberado.

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