Descrição de chapéu

Pede para sair, Bolsonaro

Presidente, ele mesmo, confessa que não pode fazer nada

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Ricardo Melo

Jornalista e apresentador do programa ‘Contraponto’ na rádio Trianon de São Paulo (AM 740), foi presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação)

“O Brasil está quebrado e eu não consigo fazer nada.” Se a frase viesse de um pedestre, um cidadão qualquer, um brasileiro casual, já seria dramática. Mas quando ela sai da boca de um presidente da República mostra a que estado chegamos.

Bolsonaro é daqueles acidentes que dificilmente algum historiador poderia prever mesmo em seus momentos mais alucinados. Em torno dele, vicejam teorias de todo tipo. “Desencanto com a política”, “fracasso da esquerda”, “insegurança pública” e por aí vai. Não faltarão outras. A grande mídia precisa de assunto e páginas de jornais não podem sair em branco.

Eu sou adepto da teoria de que a existência determina o ser. Mas o ser interfere na existência. Pensamento fora de moda, eu sei. Mas que se confirma a cada momento da história. Sem Hitler, certamente a Alemanha humilhada em Versailles após a Primeira Guerra teria um destino diferente. Sei lá qual.

O Brasil está diante de um dilema parecido no que se refere aos indivíduos, não à situação, totalmente distinta no tempo, espaço e momento histórico. Nem Bolsonaro é Hitler, nem a situação política se compara. Não vivemos o fascismo, talvez um neofascismo.

A semelhança, mesmo distante, é que os dois foram “eleitos” —embora Bolsonaro tenha tomado o Planalto de assalto com base numa fraude monumental alimentada pelas tais redes sociais. Outro paralelo: ambos foram a tábua de salvação do grande capital ameaçado pela ira popular traída pelos que se diziam seus representantes.

Existem no Congresso cerca de 60 pedidos de impeachments contra Bolsonaro. Seus crimes de responsabilidade crescem a cada dia. Desfila sem máscara, faz troça das vacinas, incentiva aglomerações.

Usa o aparelho de Estado para defender sua família da cadeia, destino certo caso por aqui as “instituições’’ funcionassem de verdade. Em que lugar do mundo democrático um juiz de primeira instância ousa dar uma banana para uma determinação do STF sobre a entrega de arquivos sobre o processo de Lula?

Ninguém com algum poder de mando neste país move uma palha para acabar com isso. Participam, como cúmplices, do assassinato de quase 200 mil inocentes —na verdade, muito mais a se considerar as subnotificações.

Bolsonaro, ele mesmo, confessa que não pode fazer nada. Puxou o carro. Então que se ponha em seu lugar alguém que possa fazer alguma coisa. Alô, Congresso, Judiciário, OAB, “oposição”, grande mídia, movimentos populares.

O que não se pode admitir é que o Brasil inteiro assista ao seu próprio abate.

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