Lira vai remover área de jornalistas na Câmara para se instalar no local

Presidente da Casa poderá se livrar de abordagem da imprensa, pois terá acesso direto ao plenário

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu autorizar obras para transferir o gabinete da presidência da Casa para o local onde atualmente ficam os jornalistas que acompanham as atividades do Legislativo.

Com a mudança, Lira pode se livrar de ser abordado pela imprensa, pois terá acesso direto ao plenário da Câmara.

Hoje, ele precisa passar por uma área de circulação de jornalistas e representantes da sociedade que frequentam a Câmara —o chamado Salão Verde. Quando passam por essa área, os presidentes da Casa são geralmente questionados sobre pauta de votações, decisões polêmicas e demais fatos políticos.

Esse é mais um ato unilateral de Lira, que assumiu o comando da Câmara na semana passada, quando ele dissolveu o bloco partidário adversário e convocou novas eleições para cargos na mesa diretora.

A área atualmente usada por profissionais da imprensa é do arquiteto Oscar Niemeyer.

Lira ressuscitou um projeto do ex-presidente Eduardo Cunha (MDB-RJ). A obra no local envolve a instalação de um elevador para cadeirantes no gabinete.

A mudança também chegou a ser discutida quando o PT comandou a Câmara, mas não avançou.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) só deu aval à obra durante a gestão de Cunha. O emedebista pretendia realizar a reforma, mas acabou afastado e preso acusado pela Operação Lava-Jato de receber propina por contratos com órgãos públicos e da Caixa Econômica Federal.

“A intervenção, como foi concebida, não apresenta riscos de descaracterização do edifício e se restringe basicamente à reorganização e redistribuição interna de diversos ambientes de trabalho, conferindo mais clareza à organização e distribuição dos ambientes internos do edifício, não havendo nenhuma alteração, seja na volumetria do edifício, suas fachadas ou obras de arte integradas”, afirma o Iphan.

A ideia de Lira é transferir a sala de imprensa para outro andar. Desde que venceu a eleição, na semana passada, o presidente da Câmara tem demonstrado resistência à abordagem de jornalistas.

Lira foi eleito no primeiro turno com ajuda do governo Bolsonaro, que distribuiu cargos e emendas para partidos aliados em troca do apoio ao candidato alinhado ao Palácio do Planalto.

A decisão de Lira de remover o comitê de imprensa —sala reservada para jornalistas— do local foi criticada por opositores.

“Aparentemente, o novo presidente não quer que ele e outros deputados sejam interpelados pelos profissionais. Isso é transparência?”, escreveu a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) em uma rede social.

Lira afirma que a medida “em nada vai interferir na circulação da imprensa”, que continuará tendo acesso livre a todas as dependências da Câmara, como corredores, salões e plenário. “O objetivo da alteração é aproximar o presidente dos deputados, como eu falei em toda a minha campanha”, disse, em nota.

Ele, no entanto, não comentou a dificuldade para que jornalistas questionem o presidente da Câmara após a mudança.

O projeto de tomar o local da imprensa estava sendo conduzido pela deputada Soraya Santos (PL-RJ), aliada de Lira e que ocupava, até o começo do ano, a primeira-secretaria da Câmara, que cuida, por exemplo, das despesas da Casa Legislativa.

No dia 25 de janeiro, ela foi questionada sobre o plano de retirar a sala de jornalistas do local, afastando os profissionais do contato com o presidente da Câmara. Segundo a deputada, não é uma tentativa de atrapalhar o trabalho da imprensa.

“A Câmara está repensando todos os seus espaços. É óbvio que onde está o comitê de imprensa, no nosso projeto, é o espaço justamente do presidente. Estamos resgatando a história. Houve um crescimento sem planejamento. Não podemos ter em Brasília, que é um cidade planejada, os espaços sem planejamento, e isso não tem nada a ver com cerceamento de liberdade, onde quer que esteja”, afirmou.

Ainda não há data marcada para a mudança, mas a ideia do presidente da Câmara é começar a obra em breve.

Lira quer retomar as atividades da Câmara de maneira semi-presencial em 2021. No ano passado, com a eclosão da pandemia do novo coronavírus, as votações do plenário foram virtuais e as comissões —nas quais são discutidos os projetos antes da análise final do plenário— praticamente paralisaram.

O presidente da Câmara prevê votar nesta terça um projeto que retoma as atividades das comissões depois do Carnaval. Além disso, quer estabelecer registro de presença na Câmara, exceto para deputados de grupos de risco.

Por causa da pandemia, o acesso ao plenário está proibido para jornalistas. O trabalho da imprensa é realizado no Salão Verde ou no Salão Negro, local que foi preparado de acordo com as medidas de segurança contra a Covid-19 para entrevistas coletivas —quase que diárias— do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e outros parlamentares.

Lira, porém, tem se esquivado de perguntas desde que assumiu o cargo. Apesar das restrições de acesso impostas pela Câmara no dia da eleição e dos protocolos de segurança terem sido seguidos, ele não foi ao Salão Negro falar sobre o resultado.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior, o Salão Negro da Casa foi preparado para receber entrevista coletivas, não o Salão Nobre. O texto foi corrigido.

 

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.