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Colapso na saúde devolve Bolsonaro à sua pior marca, aponta Datafolha

Curva de rejeição ao presidente mantém tendência de alta; aumento é de 12 pontos percentuais em três meses

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Mauro Paulino

Diretor-geral do Datafolha

Alessandro Janoni

Diretor de Pesquisas do Datafolha

O quadro revelado nesta quarta-feira (17) pelo Datafolha sobre a avaliação dos brasileiros em relação ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) projeta um cenário incerto.

Taxa de reprovação recorde equivalente ao pior momento do presidente, detectada em junho do ano passado, assim como a popularidade estável em um terço da amostra lançam dúvidas sobre como a opinião pública se posicionará daqui para frente.

Em 2020, depois da participação em atos antidemocráticos e insistência no discurso negacionista sobre a doença, o mau desempenho do presidente foi revertido pelo auxílio emergencial, que mudou o perfil de sua base de apoio no segundo semestre e lhe rendeu aumento de popularidade em segmentos de grande peso na composição do eleitorado, como entre os de menor renda e as mulheres.

Agora, com o recrudescimento da pandemia em praticamente todo o território nacional, colapso no sistema de saúde e aumento do número de mortes, a curva de rejeição ao presidente mantém tendência de alta e agrega mais quatro pontos aos oito que já tinha crescido em janeiro, depois do fim do benefício e da crise do oxigênio em Manaus. É um aumento consolidado de 12 pontos percentuais em três meses.

Até mesmo no segmento masculino, que sustenta a aprovação de Bolsonaro na marca dos 30% (35% de avaliação positiva contra 26% no feminino), há um crescimento expressivo de 13 pontos percentuais no índice dos que o julgam ruim ou péssimo nesse mesmo período.

Grupos que majoritariamente o elegeram, como os mais escolarizados e de maior renda, privilegiados no acesso à informação, repetem o movimento do pior período de 2020, com taxas de reprovação que chegam a 55% do total.

Esses estratos simbolizam agora os recordes negativos alcançados pelo presidente no combate à pandemia.

Com o comprometimento inclusive dos serviços privados de saúde, a reprovação desses estratos sobre o tema ultrapassa 60%, posicionamento que também se mostra majoritário nas críticas ao Ministério da Saúde, mas não em relação aos governadores dos estados, a quem a maior parte atribui melhor desempenho no enfrentamento da doença.

De um modo geral, a percepção é de descontrole na gestão da crise pelo governo federal, diante do avanço lento da campanha de vacinação. A taxa dos que julgam Bolsonaro incapaz de liderar o país é recorde e seu impedimento, assim como sua renúncia dividem os brasileiros.

A avaliação negativa de seu governo supera a positiva em mais de 20 pontos percentuais entre os que se autoclassificam pretos, entre os que têm nível superior de escolaridade, entre os de maior renda, entre as mulheres e entre os moradores das regiões metropolitanas do país.

Essa diferença fica abaixo da média em estratos de perfil predominante na composição do conjunto mais fiel do presidente, como os que se autoclassificam brancos, homens e moradores das cidade do interior.

Segundo escala elaborada pelo Datafolha, os bolsonaristas fiéis correspondem a 14% da população, mas respondem por 45% das avaliações positivas que o presidente recebe. A ocorrência do segmento masculino no subconjunto supera a média em 15 pontos percentuais e a de brancos em 11 pontos.

É um núcleo fechado com o presidente, que além de ter votado em Bolsonaro, confia em tudo que ele fala, aprova seu governo, não demonstra tanto medo da pandemia, recusa a vacina acima da média e é contrário às medidas de isolamento social e fechamento do comércio.

O segundo estrato em participação na aprovação do governo é o de eleitores não tão fiéis ao presidente.

Eles são 21% da população mas respondem por 31% de sua avaliação positiva. Apesar de o terem elegido, não confiam tanto em suas palavras e são mais críticos ao seu desempenho no combate à pandemia. São mais favoráveis também ao isolamento social e à vacina.

O restante dos entrevistados que avaliam Bolsonaro como ótimo ou bom, cerca de 24%, provêm de segmentos que não o elegeram.

São menos críticos ao seu desempenho no combate à pandemia, mas defendem o isolamento social e a vacina. Têm menor renda do que a média da população e foram os que mais solicitaram o auxílio emergencial no ano passado.

Sobre esses grupos vulneráveis, resta saber o quanto terá força a volta do benefício federal a partir do próximo mês, em valor menor do que o do ano passado, para enfrentar um cenário tão agudo e trágico como o que a pandemia parece desenhar.

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