Descrição de chapéu
STF

Não se tem notícia de transmutação de valores como a de Gilmar Mendes

Ministro do STF passou a fazer da destruição da Lava Jato sua prioridade e obsessão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Catarina Rochamonte

Doutora em filosofia, pós-doutoranda em direito internacional e autora do livro 'Um Olhar Liberal Conservador sobre os Dias Atuais'

A decisão monocrática do ministro Edson Fachin que anulou as condenações de Lula da Silva decididas na 13ª Vara de Curitiba pelo então juiz Sergio Moro, no âmbito da Operação Lava Jato, e tornou o ex-presidente elegível não poderia deixar de causar o frisson que está causando.

Trata-se daquele que é tido como chefe do chamado petrolão, aquilo que o ministro Gilmar Mendes, antes da sua conversão garantista, havia considerado como “o maior escândalo de corrupção de que se tem notícia”.

Também não se tem notícia de uma transmutação de valores como a de Gilmar, que, de entusiasta da Operação Lava Jato, passou a fazer da destruição da mesma sua prioridade e obsessão.

Alguns dos que estão refletindo sobre a surpreendente decisão do ministro Fachin, tido como defensor da Lava Jato, entendem que ele fez o que fez na tentativa de salvar pelo mesmo uma parte do legado desta operação da sanha garantista do seu colega, que já haveria garantido na Segunda Turma do STF os três votos necessários para decretar a suspeição do juiz Sergio Moro, beneficiando, por efeito cascata, vários outros condenados por corrupção.

De todo modo, deu-se mais um largo passo na naturalização da impunidade dos poderosos. Estes, recentemente, haviam amargado uma derrota parcial, quando a reação da opinião pública impediu o prosseguimento da trama dirigida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, no sentido de colocar congressistas acima da lei, tornando-os, na prática, inimputáveis.

Se houve alguma boa intenção do ministro Fachin na sua decisão, o que é difícil de acreditar, não será fácil que prospere. O diligente ministro Gilmar não deu atenção à parte da liminar que diz respeito à perda de objeto da ação de julgamento da suspeição de Sergio Moro e deu prosseguimento à dita ação. O ministro, que segurava este julgamento desde 2018, esperando o momento conveniente de agir em desfavor do seu desafeto, levou o caso a julgamento na tarde desta terça-feira (9), com bons motivos para confiar numa vitória por 3 a 2.

Os defensores da impunidade, de quem o ministro Gilmar Mendes é lídimo representante, querem agora a punição de quem ousou investigá-los, julgá-los ou puni-los. Arthur Lira, que responde a mais de um processo judicial (embora tenha sido recentemente beneficiado com a anulação do “processo do quadrilhão do PP”), deu a senha, questionando se a decisão de Fachin “foi para absolver Lula ou Moro”, acrescentando: “Lula pode até merecer. Moro, jamais!”.

Outro encrencado com a justiça, o senador Renan Calheiros, ecoou o colega parlamentar, considerando importante a decisão que tornou Lula elegível, mas dizendo que “a Justiça não deve deixar de julgar e jogar para debaixo do tapete a parcialidade do então juiz Sergio Moro” e que “as responsabilidades precisam ser apuradas”.

Assinado por gregos e tucanos, corre um manifesto pedindo o julgamento de Sergio Moro no STF: um leque impressionante de eminências da República e deslumbrados do lulopetismo; gente importante, como Ciro Gomes, Rodrigo Maia, Arthur Virgílio, Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Chico Buarque, Gilberto Gil, etc.

A imprensa lulopetista entrou em erupção. Os inimigos de Sergio Moro querem sua prisão, mas objetivam, principalmente, a sua inelegibilidade.

Numa próxima eleição presidencial que já se imagina polarizada entre Lula e Bolsonaro, é imprescindível que prospere uma alternativa a tão desgraçado dilema. Dada a fúria persecutória contra o ex-juiz da Lava Jato, parece ser ele a alternativa mais temida.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.