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Senador Major Olímpio tem morte cerebral após ser vítima da Covid-19

Informação foi publicada pela família do parlamentar por São Paulo, filiado ao PSL; Senado decretou luto

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São Paulo e Brasília

O senador Major Olímpio (PSL-SP), 58, que estava internado com Covid-19, teve morte cerebral nesta quinta-feira (18), segundo comunicado feito em rede social do parlamentar. A família vinha atualizando a página com informações sobre o estado de saúde do político.

"Com muita dor no coração, comunicamos a morte cerebral do grande pai, irmão e amigo, senador Major Olímpio. Por lei, a família terá que aguardar 12 horas para confirmação do óbito e está verificando quais órgãos serão doados", afirma o texto, publicado às 16h14.

O hospital São Camilo, na capital paulista, onde o senador estava internado desde o dia 3 de março, não confirmou a informação oficialmente. Segundo a assessoria de imprensa, os familiares não autorizaram o hospital a divulgar detalhes sobre o estado dele.

Mais cedo, às 12h46, a família afirmou na rede social que ele permanecia em tratamento na UTI. O quadro nos últimos dias era descrito como estável.

No dia 3 de março, o senador chegou a participar de uma sessão virtual do Senado direto do leito do hospital. Na ocasião, com a voz indicando fraqueza, ele foi um dos que votaram o texto-base da PEC que liberava até R$ 44 bilhões para o novo auxílio emergencial.

Policial militar desde 1978, Olímpio foi um dos braços direitos de Jair Bolsonaro na campanha presidencial em 2018. Como um dos coordenadores da campanha do então presidenciável no estado, ganhou projeção e foi eleito para seu primeiro mandato no Senado com mais de 9 milhões de votos.

Em uma hora de transmissão da live que faz todas as quintas-feiras em suas redes sociais, Bolsonaro não mencionou a morte cerebral de Olímpio, com quem estava rompido.

Crítico ao PSDB, Olímpio não embarcou na dobradinha "BolsoDoria", que o então candidato a governador João Doria adotou no pleito, e declarou apoio ao adversário do tucano, Márcio França (PSB).

Em fevereiro, o senador participou de um ato contra Doria e a imposição de um lockdown para conter a pandemia em Bauru (SP). A manifestação, que contou com o apoio do sindicato dos comerciantes, também reuniu a prefeita Suéllen Rosim (Patriota) e o dono das lojas Havan, Luciano Hang.

Na época, Rosim e Doria estavam em intensa troca de críticas. O tucano acusou a prefeita de "vassalagem" por sua ligação com Bolsonaro e a postura contra as medidas de restrição. No trio elétrico em que Major Olímpio, a prefeita e o empresário discursaram, havia uma faixa com a frase "fora, Doria".

Na política desde 2006, o militar também foi deputado estadual em São Paulo e deputado federal.

No cargo, o senador rompeu com Bolsonaro. Em discurso no dia 1º de fevereiro, ele atacou o presidente pela atuação na pandemia e apontou haver "negacionismo criminoso de presidente da República e de ministro da Saúde [o então titular da pasta, Eduardo Pazuello], ministro criminoso que é criminoso por ação e por omissão".

O suplente de Olímpio no Senado é o empresário Alexandre Giordano, que, com a morte do titular da vaga, deverá assumir a cadeira. Giordano se envolveu em 2019 em uma crise ligada à usina de Itaipu.

Outros dois senadores já morreram em decorrência da Covid-19 ou de complicações da doença. Os senadores José Maranhão (MDB-PB) e Arolde de Oliveira (PSD-RJ) morreram após serem infectados, respectivamente em fevereiro deste ano e em outubro do ano passado.

Entre o fim de fevereiro e início de março, o Senado registrou uma série de casos de infecção pelo novo coronavírus. O pico de casos coincidiu com o período após a romaria de prefeitos que se deslocaram a Brasília para negociar com os parlamentares emendas no orçamento para suas regiões.

Além de Olímpio, seu assessor de imprensa Diego Freire foi infectado e está internado, em situação grave.

Nos últimos dias, outros dois senadores foram hospitalizados por causa da doença: Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Lasier Martins (Podemos-RS). Alessandro teve alta nesta sexta-feira (19), segundo sua assessoria, e Lasier deixou o hospital nesta quinta.

A morte cerebral de Major Olímpio foi lamentada por políticos e autoridades, que ressaltaram sua atuação parlamentar fiel aos seus princípios.

O presidente Bolsonaro cancelou sua ida ao Congresso Nacional após a divulgação da notícia. Ele iria ao Legislativo no fim da tarde desta quinta para entregar a MP (medida provisória) que cria a nova rodada do auxílio emergencial. Agora, o envio será feito apenas de maneira burocrática.

Assim que soube da morte cerebral de Olímpio, a cúpula do governo discutiu o que fazer e uma nota foi divulgada pelo Planalto informando a desistência.

Bolsonaro não havia se manifestado até a publicação desta reportagem. Em oposição ao silêncio do pai, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) fizeram publicações em redes sociais com mensagens de condolência.

Eduardo escreveu que teve discordâncias com o senador, mas que não torce pela morte de ninguém. "Que Deus conforte a família e amigos do Senador Major Olímpio neste difícil momento."

"Meus sentimentos a familiares e amigos do senador Major Olímpio. Que Deus o tenha e conforte a todos", disse Flávio, que já foi colega dele na bancada do PSL no Senado.

Eleito senador em 2018 na onda do bolsonarismo, Olímpio e Bolsonaro se desentenderam e seguiram rumos diferentes, fazendo críticas mútuas.

A última menção pública de Bolsonaro a Olímpio foi em uma live em 17 de dezembro, quando xingou o senador, ao lado do ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), segundo suplente de Major Olímpio.

O presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), lamentou a morte cerebral de Major Olímpio e decretou luto oficial de 24 horas no Senado Federal. Pacheco relembrou que ele foi o terceiro senador que morreu em decorrência da Covid-19.

No comunicado, a presidência do Congresso disse lamentar profundamente o fato. "Em respeito à sua memória, o Senado Federal decreta luto oficial de 24 horas", informou por meio de nota, na qual resgatou o passado de Major Olímpio, como policial militar, deputado estadual, federal e senador.

​"As sinceras condolências do Parlamento Brasileiro à família, amigos e a todos os paulistas", completou o texto.

Em uma segunda nota, com um tom mais pessoal, Pacheco lembrou seu passado conjunto com o senador, em seus mandatos na Câmara e no Senado.

"Entramos juntos no Senado Federal em 2019, ele de São Paulo e eu de Minas. Brincávamos nos corredores da Casa sobre a política do café-com-leite, momento da história do nosso país vivido em nossos estados. Pensávamos diferente em diversas situações, mas gostávamos e respeitávamos um ao outro", afirmou.

"No dia de hoje perdemos todos. Perdemos um companheiro de trabalho, perdemos um trabalhador, perdemos um amigo. Perdemos mais um brasileiro", acrescentou.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também publicou em suas redes sociais uma mensagem de pesar pela morte cerebral do senador.

"É com profundo pesar que recebo a notícia do falecimento do senador Major Olímpio na tarde desta quinta-feira. Meus sinceros sentimentos aos familiares e amigos", afirmou Lira.

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, se manifestou sobre o caso e lembrou o impacto da pandemia do novo coronavírus, que está no auge no Brasil.

"O Brasil perde um parlamentar combativo pelo respeito aos valores institucionais do Estado Democrático brasileiro. Solidarizo-me com o Congresso Nacional e com a família do senador. Envio ainda meu abraço aos familiares das mais de 285 mil vítimas da Covid-19 no Brasil", afirmou.

Alguns ministros do governo Jair Bolsonaro também lamentaram a morte cerebral do senador, como Fábio Faria (Comunicações), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), João Roma (Cidadania) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).

"Me solidarizo com a família do senador Major Olímpio, bem como com os entes queridos de todas as vítimas da Covid-19. Que Deus conforte seus corações e que nossa nação esteja unida para combater o nosso único inimigo no momento, que é o vírus", escreveu Damares.

Mesmo adversários políticos ressaltaram as atribuições de Major Olímpio. O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que perdeu um amigo e ressaltou a atuação política do senador por São Paulo.

"Amigo muito querido [...]. Nos nossos entraves, nas nossas lutas, mesmo em situação de opinião divergente, havia sempre um carinho, um respeito, pela luta de cada um", disse à Folha.

"Perco um amigo pessoal, particular, que carregava ainda da Câmara dos Deputados e que registrou a sua forma de fazer política muito fiel a suas bandeiras, àqueles que ele defendia. Por isso o meu respeito e a minha admiração. E o conforto de Deus à família do Major Olímpio", completou Gomes.

O ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) também ressaltou aspectos como combatividade e honestidade.

"Muito triste com a partida do senador Major Olímpio (PSL-SP). Político combativo, lutou contra a Covid até o último suspiro. [...] Honesto e firme, Olímpio tinha sonhos e bandeiras", afirmou Alcolumbre, por meio de nota.

Também afastado de suas funções por estar infectado com o novo coronavírus, Alessandro Vieira exaltou a coragem de Major Olímpio e afirmou que o "Brasil está doente".

"Muito triste, momento muito duro para cada um de nós. Olímpio morreu lutando na linha de frente, do mesmo jeito guerreiro que sempre viveu. Que Deus console a família. E que o exemplo de coragem arraste. O Brasil está doente e precisa de cada um de nós", escreveu o senador do Cidadania-SE.

"Um homem de convicções fortes e de bom coração. Perde a política brasileira e todos nós, que ficamos mais pobres e mais tristes. Que Deus o receba e console a família, os amigos e os inúmeros eleitores e admiradores do nosso Major Olímpio. Fica aqui a saudade e o meu profundo pesar", completou.

Na Casa legislativa vizinha, o deputado federal Orlando Silva (PC do B-SP) lembrou a morte cerebral de Major Olímpio para cobrar punição para o "verdadeiro culpado" pelas mortes em decorrência do novo coronavírus.

"Morreu, vítima da Covid, o senador Major Olímpio. Quantos mais senadores irão morrer até que seja punido o verdadeiro culpado pela tragédia que vivemos? Meus sentimentos aos familiares e amigos", postou em suas redes sociais.

A Frente Parlamentar da Segurança Pública divulgou nota lamentando a morte cerebral do senador, ressaltando sua atuação em defesa da sociedade, tanto na polícia como no Legislativo.

"A sociedade brasileira perde um legítimo agente público, que nunca se desviou de suas bandeiras e seus ideais. Agradecemos a Deus pelo privilégio de tê-lo conhecido. Descanse em paz, missão cumprida. Seu legado seguirá vivo em nossa memória e em nossas ações pelo povo brasileiro", afirma o texto.

Colaborou UOL

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