Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula não tem espaço no centro e deve ficar fora do 2º turno, diz Cesar Maia

Ex-prefeito e atual vereador do Rio chama de genocida política de Bolsonaro e dá nota zero ao governo

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Rio de Janeiro

Às 7h35 de terça-feira (6), o ex-prefeito Cesar Maia, 75, chegou à Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, para receber a segunda dose de vacina contra coronavírus. Foi a quinta vez que saiu de casa desde 10 de março de 2020: duas para votar, um para tomar posse na Câmara Municipal do Rio e duas para se vacinar.

Essa foi também a primeira vez que Cesar viu concluídas as instalações de uma das mais polêmicas obras da cidade. A primeira dose da vacina ocorreu em outro endereço. Construída em seu governo (2001-2008), a Cidade das Artes já foi chamada de elefante branco e alvo de um processo que perdura até hoje.

Quando Cesar esteve lá pela última vez, em 2008, ainda estava em obra. Questionado sobre o que sentiu ao pisar no complexo cultural, o ex-prefeito afirmou: " Bateu forte o coração e encobriu a memória de muitas injustiças a respeito".

Ao apresentar a carteira de vacinação, Cesar foi, porém, informado que se antecipara em dez dias por não ter percebido o número 1, escrito a lápis, na ficha. Em vez de 6 de abril, o ex-prefeito deve comparecer ao posto no próximo dia 16.

Antes de voltar para casa, Cesar concedeu essa entrevista na presidência da Riotur, que fica na Cidade das Artes e é ocupada por sua filha, Daniela, irmã gêmea do deputado Rodrigo Maia (DEM), ex-presidente da Câmara dos Deputados.

Cesar Maia, ex-prefeito do Rio e atual vereador da cidade
Cesar Maia, ex-prefeito do Rio e atual vereador da cidade - Leo Martins/Agência O Globo

Prestes a deixar o DEM para se filiar ao MDB, Cesar diz duvidar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegue ao segundo turno na disputa presidencial e dá nota zero ao governo de Jair Bolsonaro, mas admite que ainda não surgiu o nome capaz de derrotá-lo na corrida pelo Palácio do Planalto.

"Há nomes fortes para vice. Para presidente, não acredito. A cada dia fica mais evidente para mim que o tercius não será um deles. O “novo” não sairá deles", disse.

O senhor é mesmo eleitor do Marcelo Freixo? Sou eleitor do Rodrigo [Maia]. Vou apoiar quem o Rodrigo comandar. O Freixo [PSOL] disse que votei nele. Votei contra o Pedro Paulo, com quem tive um problema. Essa [2022] será uma eleição que no mínimo vai derrubar quem se açodar. Ninguém sabe quem serão os candidatos para presidente. Muito menos a governador. E, para ser candidato, Freixo precisa do PSOL. Ele colocou a vontade de agregar forças e já recebeu uma pancada forte do PSOL. Para que isso? O resultado disso é que o PSOL vai ficar eternamente deste tamaninho.

O que acha da decisão do STF que anulou a condenação do Lula? É um fato só, do apartamento do Guarujá [com a suspeição do ex-juiz Sergio Moro]. Isso não dá garantia de que outros casos de condenação serão desfeitos. Houve uma série de elementos que desqualificaram a condenação. Mas os outros vêm por aí.

Os casos foram retirados na 13ª Vara Federal e remetidos para Brasília. Isso daí produz um alongamento que vai depois da eleição do ano que vem. Ele poderia até ser eleito e depois condenado. O mandato dele ficaria imprevisível.

Paira uma nuvem de dúvidas? Mesmo que paire, Lula ficou por dois, três anos, condenado e preso. Nada vai macular mais a imagem dele. Hoje saiu uma pesquisa com Lula na frente um ponto já no primeiro turno. Outras pesquisas já davam o Bolsonaro perdendo no segundo turno. Lula mantém certa resiliência.

Mas o sr. acha a candidatura frágil? A candidatura do Lula é boa para acelerar o processo de perda de apoio do Bolsonaro. As pessoas percebem que pode haver uma alternativa ao Bolsonaro. Com essa reunião dos pré-candidatos em defesa da democracia, todos devem estar fazendo pré-campanhas para ver quem ocupa essa expectativa de ir ao segundo turno. A expectativa deles é substituir o Lula.

Rodrigo Maia, seu filho, disse que Lula é melhor que o Bolsonaro. Concorda? Ele disse que entre o Lula e esse Bolsonaro presidente que ele conheceu, com 300 mil mortos, o Lula é melhor. É uma afirmação para os dias de hoje. O FHC também não disse isso? Mas o Rodrigo não está dizendo que votaria no Lula. O Rodrigo não acredita que não surgirá um candidato de centro-progressista para estar no segundo turno.

O sr. não acredita na vitória do Lula? Não acredito que vá ao segundo turno. A polarização radicalizada conspira contra ele.

O sr acredita na construção de uma candidatura única de centro? Muito difícil. Mas há que tentar.

Não há chances de o Lula ocupar esse lugar? Cada dia fica mais claro que esse espaço não estará aberto para ele.

O sr. acredita que haverá uma alternativa? Com sua volta por conta da, aspas, injustiça que foi cometida contra ele, Lula flutua no patamar de 29%. Mas no processo de pré-campanha vem o desgaste. Há toda condição de, surgindo uma terceira força e essa terceira força ascendendo, tanto o Lula e o Bolsonaro caírem.

As portas estão abertas para uma terceira força. Mas tem que escolher o nome e começar a pré-campanha. Estamos em abril. Julho, tem que ter um nome caminhando. Tem que ter um nome colocado. Não dá para dizer que um candidato que tem 8%, 9%, 7%, 6% é a terceira força. Porque não é.

O sr. está dizendo que nenhum dos nomes postos até agora se apresenta como alternativa? Certamente. Nenhum deles é um alternativa que se possa apresentar como terceira força. Já teria no mínimo 15%, 16%. A cada dia fica mais evidente para mim que o tercius não será um deles. O novo não sairá deles.

Por exemplo, o Doria não é a terceira força? Não. Pela projeção que tem até por conta da vacina, o Doria já deveria ter hoje uma opinião pública nacional favorável a ele. Não pode ter 4%, 5%, 3%. Ele é o governador de São Paulo, e os sinais indicam que ele não será um candidato competitivo.

A que o sr. atribui a isso? O Doria passa a imagem de classe média alta. E no confronto com Bolsonaro os dois perderam. Depois, o Doria não se movimenta nacionalmente. E sofreu desgastes. Fez aquela viagem para Miami, mostrando que não está em campanha. Estivesse em campanha, não faria isso.

O sr. acha que ele não é candidato? Se ele é candidato ou não, problema dele. Não vejo FHC entusiasmado por ele. Não há uma declaração de entusiasmo. Depois o PSDB sofreu uma ruptura muito grande. O PSDB que tinha essa marca de unidade nem essa tem mais.

E o Ciro? Ciro é imprevisível. Ciro está em campanha permanente há anos. Não apenas como candidato. O estilo dele é explosivo. Você nunca sabe qual será a declaração de amanhã. É difícil conseguir aglutinar forças em torno dele. Então, ele vai ser candidato do PDT. O Ciro seria candidato forte no Nordeste. Mas, com o Lula, não será. Ciro bate forte no Lula porque sabe que Lula inviabiliza a candidatura dele.

E o Luiz Henrique Mandetta [ex-ministro da Saúde de Bolsonaro]? Será que em junho do ano que vem a questão de saúde pública terá o impacto de hoje? No momento em que vier a tal imunização de rebanho e a contaminação parar de crescer, não sei se o candidato Mandetta vai ter um discurso forte para entusiasmar o eleitorado. Esse seria um grande candidato a vice.

E o Luciano Huck? Difícil de dizer. O Huck é um outsider que praticamente um ano antes da campanha eleitoral é impossível dizer para qual partido poderia ir. É inteligente, capaz, tem popularidade. É outro grande candidato a vice.

Acha que Moro será candidato? Ele perdeu muito. Conseguiu atrair contra ele forças da esquerda à direita. Na hora que adere ao Bolsonaro, se desgasta com forças de centro que tinham entusiasmo por ele. Depois, quando surgiram as gravações, e quando passou a receber críticas do STF, perdeu um vetor importante. Minha a opinião é de que não será candidato.

Mas ele seria um bom candidato? Acho que deixou de ser. Ele se desgastou da direita à esquerda. Depois todo mundo fica inseguro vendo o uso do Poder Judiciário para intervir no processo político. Ele seguiu a operação Mãos Limpas. Lá o juiz e o procurador são o mesmo personagem. O juiz investiga. Aqui eles criaram um grupo de procuradores para somar a ele, juiz, e fazer investigação e condenação. Isso gera uma insegurança muito grande para as pessoas de bem.

O que achou da declaração de parcialidade de Moro pelo STF? No caso do triplex, é óbvio que Moro foi parcial. Não tem nem como discutir. Aí fica a dúvida [sobre outros casos]. Moro fez uma lei contra o crime. Para desconstruir alguns absurdos autoritários que estavam naquele projeto de lei foi uma dificuldade.

O sr. acredita no risco de golpe no Brasil? Não. Os excessos de Bolsonaro foram de tal ordem que ele perdeu o discurso de que para colocar ordem no Brasil precisava de um governo autoritário.

Nos cem primeiros dias de governo, o sr. deu nota seis ao Bolsonaro. E hoje? Votei no Bolsonaro para não votar no PT. Havia uma expectativa de que a discurso liberal fosse para valer. No início do governo Bolsonaro, o discurso liberal, o posto Ipiranga, levou à expectativa de que ele fosse coerente com o que falou em campanha. Depois, com esse debacle, essa catástrofe que é a gestão sanitária, é difícil dar uma nota para o Bolsonaro: zero. Onde pode ter nota maior? Em que seguimento pode ter dois ou três? Onde está a reforma tributária?

Como define o governo Bolsonaro? Um governo populista, anacrônico e incompetente, saúde e educação. Frente à pandemia, não há nem o que comentar. Com os dados que ele tem, como poderia ficar contando que a doença não se expandiria pelo Brasil? Como pode inventar a cloroquina? Fez até propaganda. Coisa de louco.

Acha exagerado quando chamam Bolsonaro de genocida? Uma coisa é uma política sanitária genocida. Outra coisa é imaginar que ele está realizando essa política sanitária para matar gente. A palavra genocida tem um duplo sentido. De fato, a política sanitária é genocida. O presidente é condutor dessa política sanitária genocida. Portanto, ele é genocida?

O sr. se decepcionou com o Paulo Guedes? Não. Porque conheço o Paulo Guedes há muitos anos. Ele sempre foi um operador de mercado, mas nunca foi um propositor de política econômica adequada.

Raio- X

  • Cesar Epitácio Maia
  • 75 anos
  • Economista e vereador pelo Rio
  • Três vezes prefeito do Rio (1993-1996 e 2001-2008)
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