Com um acentuado sotaque gaúcho de quem veio de Uruguaiana, na fronteira com Argentina e Uruguai, Marlova Jovchelovitch Noleto diz, volta a falar e repete durante a entrevista à Folha: "É preciso formar mentes críticas em tempos críticos".
Esse é quase um mantra para essa assistente social de 59 anos, que dirige a Unesco no Brasil desde 2018.
Braço da ONU para educação, ciência e cultura, a entidade tem promovido projetos para incentivar "a alfabetização midiática e informacional", como ela diz.
"Precisamos esclarecer as pessoas sobre a relevância do bom jornalismo. Quando você vai consumir uma notícia, qual é a fonte? É preciso ter certeza de que a história é verídica antes de repassá-la."
A Unesco lançou anos atrás a publicação "Alfabetização Midiática e Informacional - Currículo para a Formação de Professores", com acesso gratuito. Também tem feito parcerias com órgãos públicos e organizações da sociedade civil para difundir formas de avaliação da confiabilidade das informações no universo digital.
O assunto ganha mais relevância agora, com os estragos provocados pela Covid-19. "A pandemia causou a maior interrupção dos sistemas educacionais da história! Temos no mundo 1,6 bilhão de estudantes fora desses sistemas", diz Marlova.
Esse deve ser um dos temas abordados por ela no seminário internacional online organizado por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado em 3 de maio, data instituída pela ONU. O evento acontece em dois dias, segunda (3) e quarta (4), com inscrições gratuitas.
"O 3 de maio funciona como um lembrete para todos, inclusive os governos, sobre esse compromisso com a liberdade de imprensa. É também um dia de reflexão para os jornalistas a respeito da ética profissional", afirma a representante da Unesco no Brasil.
O mote do primeiro dia do seminário, que tem a partipação de Marlova, é a informação como bem público. "Ao abordar esse tema, a gente alerta para questões como a viabilidade econômica da mídia de notícias no ambiente online e [a necessidade de] transparência das empresas de internet."
O seminário internacional é fruto de uma parceria de Unesco, Instituto Palavra Aberta, Folha, Abert, ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas).
Participam ainda Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Jeduca (Associação de Jornalistas da Educação) e Embaixada dos EUA no Brasil.
Na última década, houve, em média, um jornalista morto [em função da atividade profissional] a cada quatro dias. E a impunidade desses crimes contra jornalistas continua prevalecendo
A cada dois anos, a Unesco lança um relatório global sobre segurança dos jornalistas. O último, divulgado em novembro de 2020, apontou 156 assassinatos desses profissionais no biênio 2018-2019. Há uma queda de 14% em relação ao período anterior, que registrou 182 mortes nessas condições.
América Latina e Caribe respondem por 31% dos assassinatos em 2018 e 2019, e a região Ásia-Pacífico é responsável por 30%.
Em contraste com a redução do número total, uma tendência que preocupa a Unesco é a elevação da quantidade de assassinatos em países que não estão em situação de guerra.
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