Descrição de chapéu Eleições 2022

PSDB discute formato das prévias para 2022 diante de divergências entre Doria, Leite, Tasso e Virgílio

Comissão definirá até maio regras para escolha de candidato à Presidência; embate envolve data da votação e peso dos votos dos filiados

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São Paulo e Brasília

O PSDB deu início ao processo que definirá as regras das prévias para a escolha de seu candidato à Presidência da República com discussão sobre o adiamento da eleição interna e divergências sobre o colégio eleitoral expostas entre os prováveis concorrentes —João Doria, Eduardo Leite, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio.

O governador de São Paulo, Doria, defende prévias já em outubro e com a participação de todos os filiados. Leite, governador do Rio Grande do Sul, fala em dar peso aos votos conforme o cargo do filiado. Tasso e Virgílio defendem o adiamento das prévias para o ano que vem.

A comissão, instituída na sexta (23) pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo, teve sua primeira reunião na noite desta segunda (26), de forma virtual, e estabeleceu que as regras estarão definidas até 31 de maio. O prazo para a aprovação da direção nacional do partido é 15 de junho, e a escolha interna está marcada para 17 de outubro.

João Doria, Eduardo Leite, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio, todos possíveis presidenciáveis do PSDB - Divulgação

O senador Tasso (CE), que foi lançado às prévias por Araújo e passou a ser chamado por uma ala do partido de Biden brasileiro, afirma que a escolha do presidenciável deveria ocorrer somente no ano que vem. Ele admite concorrer, mas não deu uma resposta definitiva.

A inscrição dos tucanos nas prévias é prevista para o início de agosto. O nome de Tasso também é visto por parte do partido como uma forma de obter consenso e talvez evitar a necessidade de prévias —embora o entorno de Doria, por ora, insista na eleição interna.

Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus, afirmou à Folha que deve retirar sua candidatura caso Tasso participe. "Se ele realmente me disser que vai ser candidato, ele já está praticamente me colocando como cabo eleitoral dele e não como concorrente dele."

Tasso, por sua vez, é entusiasta de Leite —e há dúvidas se o governador gaúcho iria concorrer contra o senador.

A escolha de um presidenciável pelo PSDB esbarra ainda nas conversas com outros nomes e partidos do chamado campo de centro, como Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Amoêdo (Novo) e Luciano Huck (sem partido).

A tese do adiamento das prévias, que encontra oposição de Doria e apoio de Virgílio e Tasso, tem como argumentos a pandemia e também a necessidade de mais tempo para a conversa com esses possíveis aliados. Mas, para auxiliares do governador de São Paulo, não caberia alterar a data fixada em resolução de Araújo.

A pandemia, sobretudo, impõe um desafio para a votação em outubro —principalmente se todos os filiados do partido puderem participar da eleição interna, como pregam Doria e seus aliados. Alguns caciques do partido acreditam ser possível viabilizar a votação não presencial, assim como debates pela internet. Há ainda a expectativa de que a pandemia esteja mais controlada até lá.

O partido tem cerca de 1,3 milhão de filiados no país, sendo 22%, a maior fatia, em São Paulo, de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O cenário, em tese, é favorável a Doria.

Virgílio também defende as eleições diretas, com todos os filiados. "Tem que ser na urna eletrônica, com todos os filiados votando, uma ampla campanha, todos os candidatos viajando juntos pelo país, debatendo nas principais cidades", afirma.

Leite defende pesos para equilibrar a vantagem de São Paulo. "Eu defendo que todos possam votar. A questão objetiva vai ser discutir os pesos que os votos têm, porque somos uma federação. Temos agentes políticos, como deputados, senadores, governadores, prefeitos. Tudo isso precisa ser considerado para que se tenha uma estrutura que reflita não apenas a vontade da maioria, mas a melhor estratégia para o pleito do ano que vem", disse.

"A prévia deve ter uma estrutura em que tenha um jogo equilibrado. São Paulo naturalmente tem um peso pelo estado que é, pela força que lá o PSDB tem, mas a eleição é nacional", completou o governador gaúcho.

Pelas redes sociais, o presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, aliado de Doria afirmou: "Democracia forte pressupõe a participação de todos. A beleza do sufrágio universal é que o voto do mais simples tenha a mesma importância que o voto do mais forte".

Nesta terça-feira (27), Doria, Leite e Araújo se reuniram para tratar do formato das prévias e das decisões a serem tomadas pela comissão. OS tucanos falaram ainda sobre como conciliar o processo da eleição interna com as agendas de governadores.

O tamanho do colégio eleitoral, o formato de votação em meio à pandemia e a data da eleição interna serão objeto de deliberação da comissão das prévias, presidida pelo ex-senador José Aníbal (SP).

A comissão tem nomes ligados a cada provável concorrente. Vinholi é um dos membros e representa os interesses de Doria, assim como o deputado federal Lucas Redecker (RS) é próximo de Leite. O representante do Senado é Izalci Lucas (DF), que é visto como opositor de Doria.

O ex-deputado Marcus Pestana (MG) é veterano do partido e tem proximidade com Aécio Neves, que é declarado desafeto do governador paulista. Compõe ainda a comissão o deputado federal Pedro Vilela (AL) e a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro.

No primeiro encontro desta segunda, os membros apenas traçaram os temas a serem definidos, mas sem entrar no mérito. O plano de trabalho precisa tratar de regras e período de campanha e debates, da organização de votação e apuração, requisitos para inscrição dos tucanos, financiamento, entre outros.

"Estamos levantando sugestões para buscar o formato mais consensual possível. O desafio é fazer com que o PSDB saia maior das prévias do que entrou", diz Redecker.

Doria vem apostando nas prévias para se legitimar candidato diante das resistências que enfrenta em alas do PSDB e na bancada federal do partido. Seus aliados estão otimistas e creem que a vacina, chamada de "novo Plano Real", vai atrair o voto da maioria dos filiados.

O governador paulista costuma dizer que é filho das prévias, após ter vencido a eleição interna em 2016 e 2018. Não há precedente de prévias nacionais no PSDB, mas nas duas ocasiões anteriores, em São Paulo, as prévias foram feitas em março do ano eleitoral e com a participação de todos os filiados.

Em 2016, Doria teve 43% dos cerca de 6,1 mil votos no primeiro turno e venceu o segundo turno com quase a totalidade dos 3,2 mil votos. A capital paulista tinha cerca de 27 mil filiados à época.

No pleito para governador, em 2018, Doria teve 80% dos votos de cerca de 15 mil filiados –o total do estado na época era de aproximadamente 310 mil.

Caciques do PSDB veem nas prévias uma oportunidade de aprofundar o debate político e sintonizar o partido com seu eleitorado.

O ex-prefeito de Manaus afirma que a reafirmação das prévias no PSDB eram uma necessidade. "Em 2018, eu me dispus a disputar prévias com [Geraldo] Alckmin e não me deixaram, simplesmente ficaram me enrolando. Não foi uma coisa digna, nem justa. As prévias podem fazer com que militantes meio adormecidos possam despertar."

Para Virgílio, no entanto, os nomes de centro ventilados até agora não são capazes de quebrar a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido), mas conversas e consensos entre os envolvidos podem construir essa candidatura alternativa.

"As prévias têm que ser muito fraternas. Estou entendendo que temos oportunidade de ouro para voltar a destacar o PSDB do lugar comum", disse o ex-prefeito à Folha.

Virgílio elenca suas prioridades em relação ao debate das prévias: lançar uma nova social-democracia, discutir a Amazônia, defender o parlamentarismo e que o PSDB se afirme como oposição para valer.

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