Com Teich na CPI da Covid, Bolsonaro chama de canalha quem se opõe ao 'tratamento precoce'

Presidente afirmou, à noite, que senadores da comissão fazem 'campanha em cima de mortes' e estão 'atrás de holofotes'

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Brasília e Rio de Janeiro

No dia em que o ex-ministro Nelson Teich disse à CPI da Covid ter deixado o governo por divergências com o presidente Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina, o mandatário chamou de canalhas aqueles que não apresentam alternativa e ao mesmo tempo se colocam contra o chamado tratamento precoce —baseado no uso da substância sem eficácia para a Covid.

"Canalha é aquele que é contra o tratamento precoce e não apresenta alternativa, esse é um canalha. O que eu tomei​​ todo mundo sabe", discursou Bolsonaro no Palácio do Planalto, em evento de abertura da Semana Nacional das Comunicações.

Ele ainda fez referência a Manaus e citou "doses cavalares" de hidroxicloroquina administradas na cidade, o que, segundo ele, precisa ser investigado. "Espero que a experiência de Manaus com doses cavalares de hidroxicloroquina seja completamente desnudada pelos senadores [da CPI]", afirmou.

Foto mostra ombros e rosto de Bolsonaro. Ele veste terno e gravata e está falando, e gesticula com a mão com dedo indicador apontado para cima, ao fundo bandeira do Brasil
Bolsonaro discursa durante abertura da Semana Nacional das Comunicações no Palácio do Planalto - Evaristo Sá - 5.mai.2021/AFP

Bolsonaro não especificou a que se referia ao citar "doses cavalares". Um estudo realizado em Manaus ainda em 2020 chegou a administrar altas dosagens do medicamento a pacientes para verificar sua eficácia, mas essa administração elevada acabou suspensa após participantes do grupo morrerem.

O governo federal, na gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, colocou a divulgação do tratamento precoce como um dos pilares do enfrentamento da pandemia.

Isso ocorreu mesmo com diversos especialistas e entidades destacando que não havia evidência científica de que a hidroxicloroquina tinha algum benefício para o tratamento do vírus, além de estar associada a possíveis efeitos colaterais graves.

Além disso, Manaus, que já havia sido duramente golpeada pela Covid em 2020, viveu no início deste ano um colapso da saúde pública, que incluiu mortes por falta de oxigênio hospitalar.

Em seu discurso desta quarta-feira, Bolsonaro defendeu em seu pronunciamento que a CPI convoque médicos que são favoráveis à administração da cloroquina. "Ouso dizer que milhões de pessoas fizeram esse tratamento", disse.

Bolsonaro ainda sugeriu que farmacêuticas e laboratórios não estariam investindo na busca de um remédio porque um produto do tipo "é barato demais".

"Porque não se investe em remédio? Porque é barato demais? É lucrativo para empresas farmacêuticas ou laboratórios investir no que é caro? Nós conhecemos isso", afirmou.

Com esse argumento, Bolsonaro sugere que farmacêuticas preferem produzir vacinas por se tratar de uma mercadoria mais cara.

Ecoando a estratégia de aliados do Planalto de usar a CPI para responsabilizar gestores locais, o presidente disse que investigação mostrará desvios de recursos públicos nos estados e municípios.

"Essa CPI, tenho certeza ela vai ser excepcional no final da linha. [Ela] vai mostrar sim o que alguns fizeram erradamente com os bilhões entregues pelo governo para os estados e municípios."

Bolsonaro voltou a declarar ainda que seria uma irresponsabilidade do governo federal comprar vacinas da Pfizer sem uma lei que criasse as condições normativas para que a União assumisse responsabilidades por eventuais efeitos adversos.

"Não podemos injetar algo no braço do povo brasileiro sem responsabilidade", disse.

Na noite desta quarta-feira, em passagem pelo Rio de Janeiro, Bolsonaro afirmou que há uma "campanha em cima de mortes" por parte dos senadores integrantes da CPI e que alguns estão "atrás de holofotes".

“Nunca nos omitimos. Sempre falei: passou pela Anvisa, a gente compra [a vacina]. Sempre respeitei o vírus”, disse o presidente.

“Querer me responsabilizar por mortes? Morreu gente no mundo todo. Aqueles que estão se arvorando como pais da ciência na CPI, alguns poucos ali, tinham que ter procurado lá atrás. Onde nós erramos? O que poderíamos ter feito melhor? Ficar atrás de holofotes na imprensa para aparecer, fazendo uma campanha em cima de mortes, é inadmissível”, afirmou.

“Passou a ser crime falar em tratamento imediato ou precoce? Quero que esses que são contra me apresentem uma alternativa”, questionou o presidente.

Bolsonaro voltou a criticar as medidas de restrição de circulação, alegando impactos negativos na economia e na renda de trabalhadores informais.

“É um crime o que estão fazendo no Brasil, com essa política indiscriminada de lockdown, toque de recolher, roubando empregos. Fala de auxílio emergencial. Só em 2020 nós pagamos em auxílio emergencial mais que os últimos dez anos de Bolsa Família. Quero pagar mais? Quero. Mas o Brasil não pode mais continuar se endividando. Tem que voltar a trabalhar. Temos que enfrentar o vírus."

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