Descrição de chapéu jornalismo

Folha precisa manter equilíbrio e não se acovardar diante das pressões, diz novo ombudsman

Jornalista José Henrique Mariante, 54, assume nesta segunda-feira (10) o cargo criado em 1989

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São Paulo

O jornalista José Henrique Mariante, 54, assume nesta segunda-feira (10) o cargo de ombudsman da Folha, em substituição a Flávia Lima, 46, que na mesma data se torna editora de Diversidade do jornal.

Com mandato de um ano, renovável, Mariante será o 14º jornalista a exercer a função, criada pela Folha em 1989. Durante esse período, ele terá estabilidade no cargo. A primeira coluna dominical do novo ombudsman será publicada em 30 de maio.

Homem de camisa azul clara com parede cinza ao fundo
O novo ombudsman da Folha, José Henrique Mariante - Eduardo Anizelli/Folhapress

Na Folha desde 1991, Mariante entrou no jornal por meio do programa de trainee. Em 30 anos, exerceu diversos cargos, entre eles os de repórter, editor de Esporte e secretário-assistente de Redação (em dois períodos diferentes). Atualmente, era o responsável pela edição da versão impressa do jornal.

Curiosamente, Mariante aprendeu jornalismo na prática, já que sua formação é em engenharia de produção pela FEI (Faculdade de Engenharia Industrial).

“Sempre li a Folha, e ao ver um anúncio no jornal um dia eu me inscrevi no programa de treinamento. A Folha sempre deu oportunidade para quem não tinha a formação tradicional de jornalismo”, diz.

Ombudsman é uma palavra sueca que pode ser traduzida como "representante do cidadão". Começou a ser usada para designar representantes dos leitores dentro de jornais americanos na década de 1960.

Um de seus grandes desafios no cargo, afirma Mariante, será analisar e criticar o trabalho da Folha em um momento de profunda transição pela qual passa o jornalismo no Brasil e no mundo.

“Passamos por uma transformação de negócio e por uma rápida mudança tecnológica, tudo muito abrupto. Não só nós, a Folha, ou mesmo o jornalismo. É o mundo todo passando por isso”, afirma.

Essa nova realidade amplia as fontes de informação e obriga a imprensa tradicional a conviver com elas, acredita.

“Temos milhões de pessoas que se acham jornalistas, e que têm direito a isso, mas ao mesmo tempo não querem seguir os manuais, as regras, as leis do bom jornalismo”, diz.

Mariante assume o cargo com a pandemia da Covid-19 ainda em alta e no momento em que a temperatura política sobe, à medida em que se aproxima a campanha eleitoral de 2022.

Ele prevê que o cenário para os profissionais de imprensa seguirá tenso nos próximos meses. “Hoje em dia o puro exercício do jornalismo se assemelha a um conflito. Você sai para a rua com receio do que possa acontecer. Temos vários exemplos de assédio e abuso. Batemos recorde de jornalistas agredidos, física ou moralmente”, diz.

Esta panela de pressão exigirá da Folha, acredita ele, que redobre seu compromisso com um jornalismo apartidário, independente e sem se dobrar a pressões.

“A Folha tem de fazer aquilo que sempre pregou, que sempre fez, que é ser pluralista, apartidária, crítica. Não é do feitio da Folha se acovardar, entrar em acordo ou coisa assim”, diz.

Para isso, afirma o novo ombudsman, será valioso contar com o diverso leque de opiniões que o jornal abriga, incluindo em artigos e colunas.

“A vantagem da Folha é que tem um grande espectro de opiniões para todos os lados. Essa variedade ajuda a manter um equilíbrio. O jornal precisa se manter reto, simplesmente porque foi criado assim. A hora que a Folha sair disso, acaba”, afirma.

Antes de Mariante e Flavia Lima, atuaram como representantes dos leitores Caio Túlio Costa, Mario Vitor Santos, Junia Nogueira de Sá, Marcelo Leite, Renata Lo Prete, Bernardo Ajzenberg, Marcelo Beraba, Mário Magalhães, Carlos Eduardo Lins da Silva, Suzana Singer, Vera Guimarães e Paula Cesarino Costa.

A Folha é o único dos grandes jornais do país a ter essa função.

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