Jornalismo não fala mais só para classe média branca, diz nova editora de Diversidade da Folha

Flavia Lima, que era ombudsman, assume cargo nesta segunda (10) e coordenará trainee para negros

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São Paulo

A jornalista Flavia Lima, 46, assume nesta segunda-feira (10) o cargo de editora de Diversidade da Folha. Ela era ombudsman do jornal desde 2019, função em que será substituída pelo jornalista José Henrique Mariante, 54.

A editoria de Diversidade foi criada há dois anos, com o objetivo de aumentar a variedade de profissionais que trabalham no jornal e de vozes contempladas em artigos e reportagens, levando em conta sobretudo aspectos raciais, de gênero e regionais.

“Nesse período, o tema da diversidade passou a ser discutido com mais força dentro da Redação. Não que isso não acontecesse antes, mas agora o assunto ganhou uma certa proeminência. Repórteres, editores e a direção hoje têm claro que o perfil do jornal precisa ser ampliado”, afirma ela.

Mulher posa para foto com estante de livros ao fundo
A nova editora de Diversidade da Folha, Flavia Lima - Eduardo Anizelli/Folhapress

A missão inicial da nova editora será coordenar a primeira versão do programa de trainees da Folha destinado exclusivamente a participantes negros, que se inicia também nesta segunda-feira.

São 18 pessoas, de diversas partes do país, que participarão de um programa online durante três meses, em que terão aulas, assistirão a palestras e farão exercícios práticos. Após o término do programa, diversos participantes acabam sendo integrados à Redação da Folha, o que deve ajudar na ampliação do espectro racial do jornal.

“Se a gente olhar hoje a Redação da Folha, quantos negros temos? Talvez 5% ou 10% no máximo. A ideia é trazer mais gente de perfis diferentes”, afirma ela.

Segundo Flavia, aumentar a diversidade da Folha é uma questão importante para o próprio futuro do jornal.

“O jornalismo sempre falou em nome de uma classe média masculina e branca, e esse leitorado vem mudando. Temos mais leitores mulheres, mais negros, mais periféricos, mais gente de fora do eixo Rio-São Paulo. O jornalismo digital contribuiu para esse aumento, para essa pluralidade. Para continuar crescendo, e para sua própria sobrevivência, a Folha precisa refletir essa mudança”, diz.

Paulistana, formada em direito pela Universidade Mackenzie e em ciências sociais pela USP, Flavia construiu sua carreira como repórter especializada em economia.

Trabalhou na extinta Gazeta Mercantil, no Valor Econômico, na TV Bloomberg e na revista Dinheiro, antes de chegar à Folha em 2017.

Ela diz que, além da questão racial, buscará também assegurar no jornal o espaço para questões de gênero, pautas com temática LGBT+ e temas que não se restrinjam apenas aos principais centros urbanos da região Sudeste.

Uma oportunidade para o jornal marcar seu compromisso com a diversidade, acredita, é rever sua posição, expressa há anos em editoriais, contrária às cotas raciais. O jornal defende cotas sociais, baseadas em critérios de renda.

“Teremos em 2022 uma ótima oportunidade para o jornal rever esse posicionamento, porque é quando a lei de cotas passará por uma rediscussão. Nós já temos evidências empíricas de que as cotas raciais são importantes e funcionam. A posição da Folha ficou anacrônica”, afirma Flavia.

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