Descrição de chapéu Eleições 2022

Não existe nepotismo em pagamento a parentes, diz dirigente de partido na mira de Bolsonaro

Presidente negocia ida a legenda rachada; prestação de contas do Patriota mostra R$ 1,1 milhão a família de líder da sigla

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Brasília

O presidente do Patriota, Adilson Barroso, nega que haja nepotismo no partido, apesar de a Folha mostrar que ao menos dez parentes dele receberam remuneração da sigla nos últimos anos.

Em busca de uma legenda para 2022, o presidente Jair Bolsonaro, atualmente sem partido, negocia a filiação ao Patriota.

As prestações de contas da sigla relativas aos anos de 2017 a 2020 mostram que foram destinados R$ 1,1 milhão de dinheiro público da legenda ao presidente do Patriota e para ao menos dez familiares, incluindo a atual mulher, a ex-mulher, irmãos, filha, cunhada e sobrinhos.

"Eu tenho poucos [parentes nos cargos]. Se eu tiver dois, três, quatro parentes no elo de um partido nacional, é muito. E, mesmo assim, está dentro da lei. O partido político, apesar de receber fundo público, é de direito privado e, portanto, não existe nepotismo", disse Barroso em entrevista à Folha.

O presidente do Patriota, Adilson Barroso, se encontra com Jair Bolsonaro em Brasília
O presidente do Patriota, Adilson Barroso, se encontra com Jair Bolsonaro em Brasília em 2019 - Divulgação Presidência

Barroso também rebateu as acusações de que promoveu um golpe ao convocar às pressas uma convenção nacional para segunda-feira (31), quando foi anunciada a filiação do senador Flávio Bolsonaro (RJ), e foi aprovado um convite para que Jair Bolsonaro se filie à legenda.

O presidente da legenda indicou que quem for contra o presidente da República deverá sair.

"Se eles são contra o Bolsonaro, eles são a favor de quem, né? Isso é incrível. Hoje quem está contra o Bolsonaro ajuda o Lula a voltar", afirmou.

Segundo Barroso, o Patriota é um partido de centro-direita. "Não é um partido de direita, para não dizerem que é um partido de extrema- direita".

Como foi o encontro com o presidente? Estive com o presidente da República hoje [terça-feira, 1º] e fui convidá-lo a participar do Patriota.

Ele é muito leal ao grupo dele. Ele pediu um tempo e vai sentar com todo o pessoal desse grupo. Eles vão se entender sobre o assunto e o presidente me dará uma resposta entre 15 a 20 dias.

Como começou essa negociação para tentar filiar o Bolsonaro? [Começou] Com o Flávio. Eu fui atrás do Flávio. Encontrei com ele nos corredores do Congresso. Apresentei a possibilidade de ele se filiar ao Patriota.

Não tratamos já da filiação do presidente Bolsonaro, mas eu disse que eu conseguiria aprovar um convite a ele [Bolsonaro] depois ou, se não der certo tudo isso, o Patriota ainda estaria pronto para apoiar a campanha dele. Logo depois ele [Flávio] saiu do Republicanos e veio para nosso partido.

Qual a sua expectativa após a conversa com Bolsonaro? Eu estou otimista. Tenho a certeza de que hoje o Patriota é o melhor partido para o presidente.

O nome Patriota foi ele [Bolsonaro] que pediu, em 2017, quando ele tinha 3% nas pesquisas [de intenção de voto à Presidência]. Não tratamos de exigências. Não veio me pedir nada, só mesmo tempo para conversar com pessoas próximas a ele.

Por que é o melhor partido para ele? Porque ele já confia na nossa equipe, em nós; confia em mim, no partido. O Patriota se chamava Partido Ecológico Nacional, PEN. E mudou porque ele [Bolsonaro] que deu esse nome.

Grande parte do estatuto atual foi ele e o grupo dele que fizeram, revisaram, e aprovamos em 2017. Então é o melhor por tudo isso, e porque agora o filho dele já está no partido e acredita nesse projeto.

Há meses, Bolsonaro indica que quer ir para um partido no qual ele tenha controle e possa abrigar seu grupo político. Se Bolsonaro se filiar, o que vai acontecer nos diretórios regionais? Bolsonaro terá total controle? Esse assunto não entrou na pauta. Acho que entrará quando já estivermos próximos da palavra final do presidente Bolsonaro.

Mas, se tiver alguém em algum lugar que não tem habilidade para perseverar, para fazer o Patriota crescer, essa pessoa tem de deixar a vaga. E continua quem tem essa habilidade.

O Patriota recebeu muitos políticos do MBL (Movimento Brasil Livre), que abandonou Bolsonaro. O que vai acontecer com eles? Se eles são contra o Bolsonaro, eles são a favor de quem, né? Isso é incrível. Hoje quem está contra o Bolsonaro ajuda o Lula a voltar. Eu não conversei com eles [MBL] ainda e o Bolsonaro não veio ainda. Temos que aguardar.

A convenção que aprovou o convite à filiação de Bolsonaro foi parar no TSE [nesta quarta-feira, o ministro Edson Fachin rejeitou o pedido de anulação da convenção que havia sido apresentado pelos adversários de Barroso]. Há diversos questionamentos sobre a reunião e o partido está rachado. O que aconteceu? Seria muito bom termos a união, mas só há união em lugares como Cuba e China. Em local democrático, a união vem da decisão da maioria.

O estatuto do partido está lá no TSE e ele deu autonomia a essa convenção. Eu não destituí ninguém. Eu cumpri o dever estatutário que eles me delegaram.

Se quiserem me tirar da presidência do partido, eles devem esperar até o ano que vem [quando termina o mandato e há previsão de nova eleição para o comando da sigla].

A ala adversária te acusa de ter feito um golpe para aprovar o convite a Bolsonaro sem que houvesse debate. Que golpe? Eles dizem que eu troquei os delegados. Esse seria o golpe. Mas dentro do estatuto está previsto que eu posso trocar os delegados dentro do meu mandato. Eles mesmos aprovaram isso.

Lúcifer, quando morava no céu, tentou golpear Deus. Ele achava que tinha muito poder. Mas depois foi mandado para baixo com seus anjos, com seus seguidores.

Da mesma forma, eles [ala adversária no Patriota] achavam que tinham esse poder. E não contavam com isso. Eles mesmos me autorizaram.

Quem ficaria na presidência do partido se Bolsonaro se filiar? Não adianta sofrer por antecedência. É um cargo que exige muito trabalho. Acho que ele [Bolsonaro] já tem muito trabalho no governo.

Para esse cargo no partido, ele precisa de alguém de confiança. E ele confia em mim.

O que mudou no estatuto após a convenção desta segunda-feira? Foi para abrir caminho para Bolsonaro e o grupo dele? O partido era muito concentrado talvez em duas pessoas, em mim e no Ovasco [Altimari, vice-presidente do Patriota]. Agora o partido terá bem mais membros.

Todos os presidentes estaduais poderão votar nas próximas convenções. O Flávio, como líder do partido no Senado, inclusive votou nessa mudança.

Qual o objetivo? Eu fiz democracia interna no partido, porque, para o presidente Bolsonaro vir, não podemos ter um partido concentrado em mim ou em outra pessoa.

Agora, as indicações para diretórios estaduais precisam ser aprovadas numa reunião com diretórios municipais. Antes, bastava uma convenção interna entre poucos membros. É bem mais democrático.

A ideia é fazer um partido que possa crescer e no futuro possa ter suas variações de líderes.

Por que há um grupo no Patriota que é contra a filiação do Bolsonaro ou que defende uma negociação mais lenta sobre os termos desta aliança? Há receio de perda de poder nos estados? Acredito que eles tenham outra ideologia. Ou eles queriam me tirar da presidência antes da hora.

As prestações de contas do Patriota mostram que foram feitos pagamentos a ao menos dez de seus familiares. Não tem nada ilegal. Nada ilegal feito no partido. Eu jamais contrataria alguém que não fosse formado naquela área, técnico, que não fosse bom e que não desse resultado.

Minha equipe é reduzida. Aliás, eu tenho poucos parentes dentro do partido. Não tenho muito, não. Eles exercem suas funções e exercem bem, senão não seríamos o partido que mais cresce.

Como eu iria prosperar se só tenho gente que não tem resultado?

Há alguns anos, o sr. foi contra parentes em cargos do partido. O que mudou? O que motivou essa escolha? Eu tenho poucos [familiares nos cargos]. Se eu tiver dois, três, quatro parentes no elo de um partido nacional, é muito. E, mesmo assim, está dentro da lei.

O partido político, apesar de receber fundo público, é de direito privado e, portanto, não existe nepotismo.

A pessoa que foi competente para trabalhar e pegar assinatura para criarmos o partido tem de estar com a gente

Qual o perfil do Patriota? É um partido de centro-direita. Não é um partido de direita, para não dizerem que é um partido de extrema direita. Não podem dizer que o partido é radical.

É um partido também com pessoas que não entendem nada de direita nem esquerda. É um partido que pega tudo.

Raio-X

Adilson Barroso, 56
É presidente do Patriota. Ele tenta atrair Bolsonaro para o partido desde as eleições de 2018. É empresário e já foi cortador de cana. Começou sua carreira política no interior de São Paulo

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