PF é recebida a tiros em casa de empresário de Manaus preso em operação sobre desvios na saúde

Polícia Federal fez buscas em casa do governador do Amazonas e prendeu secretário de Saúde

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Manaus

Investigado em esquema de desvios de recursos de combate à Covid-19, o empresário Nilton Costa Lins Júnior recebeu a Polícia Federal a tiros em sua casa, na manhã desta quarta-feira (2), em Manaus. Ele acabou preso, e ninguém saiu ferido.

O empresário é um dos investigados com mandado de prisão decretada da quarta fase da Operação Sangria, que apura supostas irregularidades no combate à pandemia no estado do Amazonas.

Segundo o superintendente da PF no Amazonas, Leandro Almada, caso a perícia comprove que ele atirou na direção dos agentes, Lins Júnior responderá por tentativa de homicídio. Na casa, foram apreendidas duas armas.

PF cumpre mandado de busca e apreensão no hospital de campanha Nilton Lins, em Manaus
PF cumpre mandado de busca e apreensão no hospital de campanha Nilton Lins, em Manaus - Divulgação/Polícia Federal

O empresário é dono do hospital Nilton Lins, contratado pelo Governo do Amazonas, liderado por Wilson Lima (PSC), para ser uma unidade de campanha para pacientes com o novo coronavírus. De acordo com a investigação, a contratação foi ilegal.

Procurado, o advogado de Lins Júnior, João Carlos Cavalcante, disse que não iria se pronunciar no momento.

O empresário é pai das irmãs gêmeas e médicas recém-formadas Isabelle e Gabrielle Kirk Maddy Lins, 24. Elas foram exoneradas da Prefeitura de Manaus após terem recebido a primeira dose da vacina no dia 19 de janeiro, sendo que uma delas havia sido nomeada para o cargo nomesmo dia e a outra no dia anterior.

Os seis mandados de prisão temporária expedidos pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), incluem o secretário de Saúde, Marcellus Campêlo.

Houve também 19 mandados de busca e apreensão, cumpridos na casa de Lima, na sede do governo, no hospital Nilton Lins e em outros locais em Manaus e em Porto Alegre. Além disso, houve o sequestro de bens e valores, que somam R$ 22,8 milhões.

"Há indícios de que funcionários do alto escalão da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas realizaram contratação fraudulenta, para favorecer grupo de empresários locais, sob orientação da cúpula do governo do estado, de um hospital de campanha que, de acordo com os elementos de prova, não atende às necessidades básicas de assistência à população atingida pela pandemia”, afirma a PF.

No STJ, reunido nesta quarta-feira para analisar a primeira das duas denúncias da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Lima, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo comentou o episódio da prisão do empresário em meio a tiros contra os agentes.

“Houve incidente bastante sério [em Manaus], em razão de ter sido um mandado de busca do ministro Francisco Falcão, que é o relator, e a Polícia Federal foi recebida a tiros pelo filho do Nilton Lins. Foi uma situação bastante constrangedora e perigosa”, disse.

Lindôra afirmou que nunca tinha visto algo do gênero ocorrem em décadas de atuação no Ministério Público Federal, especialmente por se tratar de ação autorizada por ministro de tribunal superior. A representante da PGR disse que não houve nenhuma vítima.

O julgamento da denúncia foi adiado a pedido da defesa do governador, sob a alegação de que há etapas ainda a serem cumpridas pelo STJ para assegurar o amplo contraditório aos acusados. Na sessão, foi sugerido o dia 28 deste mês para o debate. A assessoria do tribunal informou, posteriormente, que não há data definida.

O governador Wilson Lima, alvo da PF nesta quarta-feira (2)
O governador Wilson Lima, alvo da PF nesta quarta-feira (2) - Michel Dantas - 01.nov.2021/AFP

Uso de recursos federais é alvo da CPI da Covid

Principal argumento para expandir o escopo da CPI da Covid-19 e tirar um pouco o foco no governo Jair Bolsonaro, as suspeitas de irregularidades no uso de recursos transferidos pela União aos estados e municípios provocaram quase 80 ações da Polícia Federal de um ano para cá.

Esse número inclui fases diferentes de uma mesma operação. Muitas vezes, essas investigações foram iniciadas a partir de apurações de outro órgão federal, a CGU (Controladoria-Geral da União).

Grande parte das operações teve como alvos gestores de municípios, integrantes de secretarias de saúde e empresas contratadas pelas administrações, mas algumas também envolveram governadores.

É o caso da operação que levou ao afastamento de Wilson Witzel (PSC) do cargo no Rio de Janeiro, além do pedido da PF ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para indiciar Helder Barbalho (MDB), governador do Pará.

Ambos os governantes criticavam a condução do combate à pandemia pelo governo federal e negam as suspeitas de irregularidades que pesam contra eles.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), também foi alvo de operação e, na véspera da instalação da CPI, denunciado pelo Ministério Público Federal. Ele nega irregularidades.

As transferências federais aos estados e municípios foram feitas por meio de diversas medidas do governo, entre elas a lei complementar 173 aprovada do Congresso, no ano passado, que previu auxílio da União no valor de R$ 60 bilhões.

Desse total, R$ 10 bilhões eram destinados exclusivamente às áreas da saúde e assistência social. O restante servia para mitigar os efeitos financeiros causados pela pandemia.

Houve outras transferências, como uma recomposição de valores destinados aos fundos de participação dos estados e municípios, além de recursos do Ministério da Saúde.

Ao mesmo tempo, logo no início da pandemia, no ano passado, foi reconhecida emergência de saúde pública, que facilitou, até o fim de 2020, o acesso a compras relativas à pandemia.

A facilidade em compras com o dinheiro do governo federal ligou alerta dos órgãos de investigação. A Polícia Federal calcula que a primeira ação envolvendo a pandemia foi a Operação Alquimia, uma investigação pontual no interior da Paraíba, na cidade de Aroeiras, com população estimada pelo IBGE em 19 mil habitantes.

Foram investigados contratos para compras de cartilhas sobre a pandemia —sendo que os materiais já estavam disponíveis gratuitamente no site do Ministério da Saúde.

Até 26 de abril deste ano, houve operações relacionadas a compras que se originaram nas unidades da PF de ao menos 23 estados, na maioria dos casos relacionadas a verbas dos municípios, para apurar desvios, contratos irregulares, fraudes em licitações e superfaturamentos.

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