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Presença da esquerda dá brecha para bolsonaristas carimbarem atos como pró-Lula

Defensores do presidente ignoram críticas sobre pandemia e focam na artilharia contra petista

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São Paulo

A presença ostensiva de partidos de esquerda nos atos deste sábado (19), dia em que o Brasil chegou a 500 mil mortos na pandemia, deu maior peso político às manifestações contra Jair Bolsonaro, mas ofereceu de bandeja um discurso fácil para os apoiadores do presidente.

Manifestantes durante ato contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na avenida Paulista, em São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress

A estratégia da direita bolsonarista foi deixar em segundo plano as acusações de negligência do governo no combate à Covid-19 e carimbar tudo como oportunismo dos saudosistas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda que ele não tenha dado as caras.

Ou seja, não seria uma manifestação da sociedade civil, ou de uma frente ampla em defesa da vida e da ciência, apenas mais uma demonstração de astúcia vermelha.

Como sempre, quem puxou a fila desse discurso foi o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), um dos primeiros a se manifestar em rede social, quando a avenida Paulista ainda estava enchendo.

“Você não pode vender pastel na rua, mas eles podem sair pra defender ex-presidiário”, escreveu, em referência a Lula. “Entendam: nunca foi por ciência ou saúde! É por poder!”, completou.

Bernardo Kuster, um dos principais influenciadores digitais bolsonaristas, ironizou o “choro lulista”, enquanto o roqueiro Roger Moreira espezinhou que o “cagão não dá as caras”, outra alusão ao ex-presidente petista.

Junto com os ataques a Lula, voltaram as menções a pão com mortadela, que estavam um pouco esquecidas desde as manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2015 e 2016. O pastor Silas Malafaia foi um dos que tiraram o pó da imagem.

É um sinal de que a direita não soube renovar seus memes, enquanto a esquerda já trocou a metáfora da coxinha pela do gado há muito tempo. Mas é também um indício de que o bolsonarismo aposta na reedição do clima anti-PT que levou à vitória presidencial de 2018.

As cenas de multidões nas ruas obviamente abriram um flanco para os opositores do governo, que passaram meses denunciando aglomerações de Bolsonaro.

Como pontuou Carlos Bolsonaro: “Aglomerar hoje não é genocídio. A partir de amanhã volta a ser”.

Ou, nas palavras do vereador bolsonarista de Belo Horizonte Nikolas Ferreira (PRTB): “Fique em casa até gerar o caos. Depois aparecemos nas ruas como a solução. Prazer, esquerda”.

Mas este eventual desgaste de imagem parece ter sido compensado com sobras pelo ganho político das manifestações deste sábado.

A artilharia dos apoiadores do presidente voltada contra Lula é a maior prova de que o petista passou a ser visto como ameaça à reeleição do presidente, no ano que vem.

Desde já, a ordem é investir pesadamente no antilulismo, diluindo esse sentimento na disputa política sobre a pandemia, que certamente será um dos dois grandes temas da campanha eleitoral, junto com a economia.

Para a direita bolsonarista, que se vê acuada conforme sobem as estatísticas de mortos, é a única chance de manter o capitão mais quatro anos no Palácio do Planalto.

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