Ao investigar negociação da Davati, repórter localizou Dominguetti, pediu e fez entrevista sobre propina

Dica sobre suspeita havia sido dada no depoimento à CPI da Covid do chefe de importação de logística do ministério

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Brasília

A Folha chegou na última terça-feira (29) até Luiz Paulo Dominguetti Pereira durante uma apuração jornalística sobre possível pedido de propina nas negociações do Ministério da Saúde com a Davati Medical Supply, da qual atuava como representante.

A dica sobre essa suspeita havia sido dada no depoimento à CPI da Covid do chefe de importação de logística da pasta, Luís Ricardo Miranda, na última sexta-feira (25).

Na oitiva no Senado, o servidor Luis Ricardo citou que ouviu de um colega de ministério, Rodrigo de Lima, que uma negociação sobre vacinas não havia avançado por causa de pedido de propina. Procurado naquele mesmo dia pela reportagem, Lima negou ter falado sobre isso.

A reportagem insistiu na apuração e descobriu, por meio de fontes do Ministério da Saúde, que o episódio mencionado no depoimento de Luis Ricardo envolvia a Davati.

A reportagem apurou também que o pedido de propina teria ocorrido em encontro num restaurante, no Brasília Shopping, com o então diretor do Departamento de Logística do ministério, Roberto Ferreira Dias.

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, em depoimento a senadores da CPI da Covid
Luiz Paulo Dominguetti Pereira, em depoimento a senadores da CPI da Covid - Pedro Ladeira/Folhapress

Após isso, a Folha obteve a documentação da proposta de vacinas da Davati enviada ao Ministério da Saúde —mesmo documento também foi encaminhado à CPI da Covid. Nele, aparece o nome de “Cristiano Hossri Carvalho” como procurador da empresa no Brasil.

Em pesquisas telefônicas, na terça-feira, a Folha chegou a um filho de Cristiano, que então passou o contato do pai. A reportagem o localizou no Twitter e mandou uma mensagem. Cristiano respondeu com seu número de telefone, que bateu com o contato passado pelo filho. A Folha então entrou em contato com ele em seguida.

Na conversa, Cristiano confirmou à reportagem o relato de que funcionários da Saúde fizeram proposta de propina de vacina no contrato. No entanto disse que não foi ele quem ouviu o pedido de propina, mas Luiz Paulo Dominguetti Pereira, em um jantar com Roberto Dias em Brasília.

Segundo Cristiano, Dominguetti o representava nas negociações com o ministério.

Na conversa com a Folha, Cristiano encaminhou, por exemplo, prints das conversas dele com Roberto Dias e áudios e conversas com o seu assessor, o coronel da reserva Marcelo Blanco. Porém nesse material não havia menção à propina, apenas a negociações sobre vacinas.

​Na documentação obtida pela Folha, inclusive assinada pelo CEO da Davati, Herman Cardenas, constava o nome Dominguetti na proposta enviada ao ministério. Essa mesma documentação foi remetida à CPI.

A Folha insistiu sobre o episódio da propina, jornalisticamente de alta relevância. Cristiano disse que, como não participou do jantar no shopping em Brasília, consultaria Dominguetti para saber se ele aceitaria falar com a reportagem.

​Nesse meio tempo, o site G1 publicou reportagem mostrando que a CPI estava investigando as negociações da Davati com o Ministério da Saúde. A reportagem então o informou que a imprensa já estava noticiando de olho no tema e enviou a ele o link do G1.

A Folha insistiu para que Cristiano desse uma entrevista sobre o caso, inclusive o pedido de propina. Cristiano retornou minutos depois, dizendo que Dominguetti havia aceitado falar, e os dois ligaram para a reportagem na mesma chamada.

No início da conversa a Folha, Dominguetti resistiu a dar entrevista e disse que não falaria em "on" (jargão em que o entrevistado aceita aparecer) porque precisaria avaliar juridicamente.

Diante da insistência da reportagem, Cristiano pediu para Dominguetti contar sobre o jantar, ocorrido no dia 25 de fevereiro. Dominguetti concordou e deu seu relato sobre o pedido de propina no Ministério da Saúde. A conversa durou 20 minutos.

Poucas horas depois, a Folha publicou a reportagem "Governo Bolsonaro pediu propina de US$ 1 por dose, diz vendedor de vacina".

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