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Folha volta a publicar conteúdo no Facebook

Plataforma mudou postura e tem agido para valorizar jornalismo profissional e restringir a circulação de notícias falsas

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São Paulo

A Folha volta a publicar seu conteúdo no Facebook nesta terça (6). A página do jornal, atualmente com 5,5 milhões de seguidores, não era atualizada desde 8 de fevereiro de 2018. Com a reativação, os leitores têm um novo caminho para chegar até o conteúdo da publicação.

Pessoa segura um smartphone com o F de Facebook. Logomarca no site aparece ao fundo. Predomina a cor azul
Logamarca do Facebook, rede social em que Folha volta a ter página ativa - Olivier Douliery - 7.abr.2021/AFP

À época da saída, a Folha anunciou que não mais postaria na rede social por considerar que a plataforma agia para diminuir a visibilidade do jornalismo profissional, permitindo que posts com notícias falsas proliferassem e se misturassem com informações sérias. Desde então, o Facebook adotou uma série de medidas em sentido contrário.

A empresa tem restringido a circulação de fake news e discurso de ódio, derrubando páginas e fornecendo alertas e informação adicional em postagens que contenham problemas factuais (leia mais na cronologia abaixo).

Uma das mais emblemáticas ações nesse sentido ocorreu no início de junho, quando a plataforma reviu o passe livre que havia concedido para políticos em suas publicações.

A mudança ocorreu por orientação de um grupo independente de especialistas criado pelo próprio Facebook há um ano —o advogado especializado em direito digital Ronaldo Lemos, colunista da Folha, é um dos membros. Foi esse comitê, também, que recomendou manter a suspensão do ex-presidente americano Donald Trump, o que igualmente foi aceito.

Página de Donald Trump mostra seu rosto; na frente, um celular mostra um texto, o discurso dele quando banido
Página de Donald Trump, ex-presidente dos EUA, suspensa no Facebook por violar regras da rede social à época do ataque ao Capitólio - Oliveir Douliery - 5.mai.21/AFP

No Brasil, em março de 2020, pela primeira vez o Facebook e o Instagram removeram post do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), alegando que ele violava as regras da comunidade.

Pouco depois, em julho do ano passado, foram derrubadas contas falsas ligadas à família Bolsonaro e ao gabinete da Presidência da República, pelo uso de perfis duplicados e afirmações fictícias. O motivo da remoção não foi conteúdo falso ou desinformação, mas o comportamento das contas —algumas delas até operadas por pessoas reais, mas que criaram perfis fictícios para amplificar a distribuição de algo.

De 2017 a 2020, a rede informou ter apagado 714 perfis no Brasil por fazerem parte de “operações de influência, coordenadas para manipular ou corromper o debate público visando a um objetivo estratégico”.

O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, disse há um ano, na Alemanha, que 35 mil pessoas estão alocadas para revisar conteúdo online e implementar medidas de segurança.

Essas equipes e a tecnologia automatizada, com inteligência artificial, suspendem mais de 1 milhão de contas falsas por dia, segundo ele. De acordo com a rede, no primeiro trimestre de 2021, cerca de 1,3 bilhão de contas falsas foram removidas assim que criadas.

Homem de terno preto e gravata vermelha, sentado, movimenta as mãos enquanto fala
Mark Zuckerberg fala na 56ª edição da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha - Christof Stache - 15.fev.20/FP

NEGÓCIOS

Também houve mudanças em relação ao modelo de negócios do jornalismo.

A empresa agora permite a adoção do chamado paywall (cobrança por conteúdo digital) no conteúdo publicado dentro do Instant Articles, ferramenta desenvolvida para carregamento rápido de textos de sites noticiosos.

Reportagens nessa versão otimizada tinham que ser obrigatoriamente abertas para qualquer leitor. Hoje, é possível “fechá-las”, exibindo o convite para a assinatura. A Folha foi pioneira no uso desse mecanismo no Brasil, tendo lançado seu paywall em 2012.

Desde 2018, o Facebook adotou ainda medidas para proteção dos direitos de propriedade intelectual para conteúdo dos publishers e envolveu-se em programas de fomento ao jornalismo profissional.

A empresa afirma ter investido US$ 600 milhões (R$ 3 bilhões), desde então, em mecanismos de apoio à indústria de notícias e diz planejar alocar US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) nos próximos três anos.

Um desses projetos é o brasileiro Comprova, financiado com apoio do Facebook Journalism Project. O consórcio de checagem de informações, do qual a Folha faz parte ao lado de outros veículos, está ativo desde as eleições gerais de 2018, tendo uma edição extra durante a pandemia.

No mundo, o Facebook já havia apoiado programas semelhantes, como o Cross-Check, um projeto colaborativo de verificação online de fake news antes da eleição presidencial francesa, em 2017, e o Verificado, no México.

Vários homens e mulheres, em pé e sentados, com celular e computadores nas mãos
Equipe de jornalistas do Verificado 2018, que trabalhou colaborativamente para checar notícias falsas - Brett Gundlock - 22.abr.18/NYT

Em 2020, justamente em meio ao agravamento da pandemia do novo coronavírus, o Facebook acelerou as medidas de controle de desinformação e ampliou a parceria de checagem. Começou, então, a remover conteúdo falso de saúde e antivacinas que violavam as regras de uso e poderiam causar danos reais às pessoas no mundo offline.

Segundo o Relatório de Notícias Digitais 2020 do Instituto Reuters, considerado o mais importante no mundo sobre tendências para o jornalismo e novas tecnologias, o Facebook (24%) e o WhatsApp (35%) são as principais plataformas de difusão de conteúdos falsos hoje no Brasil —o levantamento deste ano, divulgado em junho, corrobora o dado. A equipe da pesquisa do ano passado ouviu 80 mil pessoas em 40 países.

Em resposta, a rede afirmou ter colocado marcações de notícias falsas em cerca de 50 milhões de postagens em todo o mundo. “Direcionamos mais de 2 bilhões de pessoas a recursos de autoridades de saúde por meio da Central de Informações sobre a Covid-19”, disse o Facebook em nota.

A plataforma também citou a ajuda financeira a jornalistas e organizações para enfrentar a pandemia e o custeio de treinamentos de redações pelo ICFJ (sigla em inglês para Centro Internacional para Jornalistas), por exemplo.

A Folha foi um dos selecionados na América Latina —ao todo, 44 projetos de veículos de 12 países da região receberam US$ 2 milhões (R$ 10,1 milhões) do programa Coronavirus Support. Iniciativas semelhantes ocorreram nos EUA, no Canadá, na Ásia e na África.

Outra medida de incentivo ao jornalismo profissional foi a criação do Facebook News, espaço exclusivo para o jornalismo na rede social. Lançada nos EUA, a ferramenta passou a ser usada neste ano também no Reino Unido e na Alemanha —não há data prevista para o lançamento no Brasil.

Dois celulares, com notícias do jornal americano Washigton Post
Reprodução de tela com a ferramenta Facebook News, lançada pela plataforma em outubro de 2019 nos EUA - Divulgação

Por fim, o anúncio mais recente da empresa americana, de maio passado, refere-se a mais controle sobre a propagação de desinformação.

Nos próximos meses, usuários serão informados por meio de novos formatos quando um perfil ou página estiver compartilhando notícias falsas repetidamente. A infração reiterada acarretará punições mais severas dos perfis, com redução do alcance e avisos, para novos seguidores, de que o perfil já propagou conteúdo falso.

Antes, só páginas e grupos eram penalizados pelo algoritmo. Com a mudança, um perfil poderá ser menos visto por seguidores e amigos.

A avaliação da veracidade das páginas, como já ocorre com os posts, continua a cargo de terceiros —são 80 agências checadoras parceiras.

O FACEBOOK E O JORNALISMO

O que mudou no Facebook em relação à desinformação desde 2018

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