Giannotti foi amigo como poucos, desses que são raros, diz FHC; leia repercussão da morte do filósofo

Companheiros de geração, ex-alunos e políticos se despedem do intelectual, morto nesta terça (27)

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São Paulo

Companheiros de geração, amigos de todas as idades, ex-alunos e políticos de diferentes espectros ideológicos lamentaram a morte do filósofo José Arthur Giannotti nesta terça-feira (27), aos 91 anos.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em mensagem no Twitter, comentou a relação de amizade que durou mais de 70 anos. Em 1958, ambos e outros intelectuais (como Paul Singer e Fernando Novais) formaram um grupo que passou a estudar "O Capital", de Karl Marx, obra que seria fundamental na trajetória acadêmica de Giannotti.

"Amigo há mais de 70 anos. Filósofo e grande leitor dos clássicos. Amigo como poucos, desses que são raros. Deixa saudades e gratidão", escreveu o ex-presidente.

Ex-alunos comentaram a impressionante vitalidade intelectual do filósofo, cuja paixão pelas ideias podia tanto encantar quanto amedrontar os mais jovens num primeiro momento.

 O professor emérito da USP José Arthur Giannotti em sua casa em São Paulo
O professor emérito da USP José Arthur Giannotti em sua casa em São Paulo - Folhapress

"Ele foi meu primeiro professor na USP. Tinha uma personalidade impositiva, momentos de grande fúria diante da ignorância dos alunos. E, ao mesmo tempo, uma exigência filosófica que só um grande pensador pode ter", disse Marilena Chaui, professora emérita da Faculdade de Filosofia da USP.

"Foi pessoa de enorme paixão pelas ideias, que defendia as ideias com grande entusiasmo e alguma agressividade", relembra Maria Hermínia Tavares, professora do curso de ciência política da USP e colunista da Folha. "Foi um intelectual no sentido mais pleno da palavra."

Giannotti formou e influenciou decisivamente diversas gerações de pesquisadores no país —alunos, orientandos, colegas do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), do qual foi um dos fundadores.

"O país perdeu seu maior filósofo, uma figura ímpar, pela inteligência, pela erudição, pela capacidade criadora. Eu perdi o mestre intelectual e o amigo querido", diz Angela Alonso, professora de sociologia da USP, pesquisadora do Cebrap e colunista da Folha.

"Foi um dos maiores pensadores brasileiros, de categoria mundial", sintetiza o sociólogo Sérgio Abranches.

Professor do Departamento de Filosofia da USP, Marco Zingano também emprega adjetivos homéricos para se referir a Giannotti, como intelectual e como colega. "Tudo nele era íntegro, verdadeiramente íntegro, profundamente íntegro. É esta a imagem que guardo dele, quando saí por última vez de um jantar e o vi, do alto da escada que levava ao seu gabinete de trabalho, acenar o adeus: um gigante homérico, um intelectual insubstituível, um homem que fez da vida a mais bela expressão da potência humana".

O cientista político Sérgio Fausto, bolsista de um projeto do Cebrap idealizado por Giannotti no final dos anos 1980, diz que a experiência foi extraordinária. "Ele era um apaixonado pelo conhecimento e nos contagiava com isso."

Mais próximo, ao longo de sua trajetória, da ala paulista fundadora do PSDB, Giannotti não poupou críticas ao partido em muitos momentos, o que também alimentou a admiração de políticos de variadas legendas.

"Foi-se um mestre e um amigo muito querido. Uma perda irreparável", comentou o senador José Serra (PSDB-SP).

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) afirmou que em "tempos sombrios de ignorância como vocação, sua memória se faz ainda mais importante".

Morreu hoje José Arthur Giannotti. Amigo há mais de 70 anos. Filósofo e grande leitor dos clássicos. Amigo como poucos, desses que são raros. Deixa saudades e gratidão

Fernando Henrique Cardoso

Sobre a morte de Giannotti

Foi-se um mestre e um amigo muito querido. Uma perda irreparável

José Serra, senador (PSDB-SP)

Sobre a morte de Giannotti

Giannotti foi um dos maiores pensadores brasileiros, de categoria mundial. Dedicou toda a sua longa vida intelectual ao pensamento. Tinha a capacidade de mudar de visão, quando se convencia que era o que devia fazer. Realmente um grande intelectual. Brilhante. O Brasil perde um extraordinário pensador. Gostava muito dele, intelectual e pessoalmente. Muito triste com esta perda. Lançou um livro poderoso no ano passado, aos 90 anos, “Heidegger/ Wittgenstein: Confrontos”, um livro que era bem o Giannotti, polêmico, ousado e que sempre sabia muito do que falava

Sérgio Abranches, sociólogo

Sobre a morte de Giannotti

À imensa dor que todos sentimos acrescentam-se de imediato a consciência de uma perda irreparável, o reconhecimento de uma figura ímpar, a visão, nestas terras brasileiras por vezes tão pantanosas, de um gigante moral e intelectual que tomba como um herói homérico que lutou incansavelmente em prol da reflexão, em nome da verdade, que honrou como ninguém a integridade ética de um pensamento altamente exigente e, ao mesmo tempo, exuberante

Marco Zingano, professor titular do Departamento de Filosofia da USP

Sobre a morte de Giannotti

É uma perda enorme para o pensamento brasileiro, para os estudiosos do marxismo. E é uma perda muito grande para os amigos também. Ele foi meu primeiro professor na USP. Tinha uma personalidade impositiva, momentos de grande fúria diante da ignorância dos alunos. E, ao mesmo tempo, uma exigência filosófica que só um grande pensador pode ter

Marilena Chaui, professora emérita da Faculdade de Filosofia da USP

Sobre a morte de Giannotti

Foi pessoa de enorme paixão pelas ideias, que defendia as ideias com grande entusiasmo e alguma agressividade. Convivi bastante bastante com ele. Sempre me impressionou a força do debate de ideias que o movia. Foi um intelectual no sentido mais pleno da palavra

Maria Hermínia Tavares, professora titular aposentada de ciência política da USP

Sobre a morte de Giannotti

O país perdeu seu maior filósofo, uma figura ímpar, pela inteligência, pela erudição, pela capacidade criadora. Eu perdi o mestre intelectual e o amigo querido

Angela Alonso, professora de sociologia da USP e pesquisadora do Cebrap

Sobre a morte de Giannotti

O Brasil e a comunidade uspiana perdem um de seus grandes filósofos. Além de vasta obra, Giannotti deixa para nós um grande exemplo de como conciliar rigor intelectual e compromisso com o país

Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP

Sobre a morte de Giannotti

Giannotti era dotado de uma energia intelectual inigualável. Uma usina de ideais originais que marcou a ciência social brasileira. Vai fazer uma falta danada

Fernando Limongi, cientista político

Sobre a morte de Giannotti

Fui da primeira turma do programa de bolsistas do Cebrap, de 1986 a 1988, idealizado e liderado pelo Giannotti. Tivemos uma formação interdisciplinar na área de ciências humanas. Estudamos Kant e Hegel com Giannotti. Foi uma experiência extraordinária. Ele era um apaixonado pelo conhecimento e nos contagiava com isso

Sérgio Fausto, cientista político e superintendente da Fundação FHC

Sobre a morte de Giannotti

Aos 91 anos, falece Arthur Gianotti, um dos principais nomes da filosofia brasileira. Em tempos sombrios de ignorância como vocação, sua memória se faz ainda mais importante

Ivan Valente, deputado federal (PSOL-SP)

Sobre a morte de Giannotti

Conheço José Arthur Giannotti desde o começo da minha carreira na Brasiliense. Era um ser humano especial, de uma inteligência e liderança incomparáveis. Foi sempre muito generoso comigo, um editor que conheceu ainda muito jovem. Sinto muitíssimo sua morte

Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras

Sobre a morte de Giannotti

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