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Governadores ampliam base de prefeitos de olho nas eleições de 2022

Ao menos 93 prefeitos mudaram de legenda já no início do mandato, de janeiro a abril deste ano

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Salvador e São Paulo

Enquanto as negociações para eleições seguem publicamente em banho-maria, governadores e potenciais candidatos a governos estaduais no próximo ano articulam politicamente e ampliam a suas bases de prefeitos aliados.

Levantamento da Folha aponta que ao menos 93 prefeitos eleitos em 2020 mudaram de partido nos quatro primeiros meses de mandato, de janeiro e abril deste ano.

A revoada de prefeitos impulsionou principalmente os partidos de governadores e legendas alinhadas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), indicando um movimento na direção das benesses do governismo.

De acordo com a legislação eleitoral vigente, os prefeitos podem mudar de partidos sem sofrer sanções em qualquer momento ao longo do mandato, prescindindo da janela eleitoral.

PL e PSD foram as duas legendas que mais avançaram em número de prefeitos após as migrações partidárias. O PL saiu de 348 eleitos no ano passado para 365 em abril deste ano.

Já o PSD avançou de 659 para 672 prefeituras. A conta ainda não inclui ainda o único prefeito de capital a trocar de legenda até o momento: Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, trocou o DEM pelo PSD no final de maio.

No caso do PL, o crescimento do número de prefeitos foi puxado principalmente pelo estado do Rio de Janeiro, movimento que culminou com a filiação ao partido do governador Claudio Castro.

Eleito vice-governador em 2018 pelo PSC, Castro assumiu definitivamente o governo do Rio de Janeiro em maio deste ano após o impeachment do então governador Wilson Witzel (PSC). Dias após a posse, migrou para o PL.

Nos meses anteriores, prefeitos de dez municípios também migraram para o PL, incluindo cidades como São Gonçalo, Arraial do Cabo, Armação de Búzios e Casimiro de Abreu.

O PL, que venceu as eleições em nove cidades no Rio em 2020, passou a ter 19 prefeitos após as migrações partidárias, passando a governar 20% das cidades do estado. Mas a meta é ainda mais ousada: o partido quer chegar em 2022 com entre 35 e 40 prefeitos no estado.

“O partido saiu vitorioso das eleições municipais, intensificou a articulação política e, por isso, começou a receber prefeitos de outros partidos. Temos outros que ainda não vieram, mas estão apalavrados”, afirma o deputado federal Altineu Côrtes, presidente estadual do PL.

Côrtes diz considerar o PL um partido de centro, mas parte dos prefeitos que migraram para o partido do Rio são do campo conservador. É o caso de Capitão Nelson, prefeito de São Gonçalo, segunda maior cidade do Rio.

Ele foi eleito com apoio no segundo turno de Bolsonaro, que chegou a gravar um vídeo endossando a sua candidatura. Na época, estava filiado ao Avante, mas migrou para o PL em fevereiro.

A migração dos prefeitos consolida o PL, comandado por Valdemar da Costa Neto, como uma das principais forças políticas no Rio de Janeiro: além do governador, o partido também tem nos seus quadros os senadores Romário e Carlos Portinho.

Movimento semelhante foi registrado, em menor proporção, em estados como São Paulo, Goiás, Alagoas, Santa Catarina e Tocantins.

Em São Paulo, o PSDB de João Doria filiou prefeitos de quatro pequenas cidades do interior do estado: Bernardino Campos, Rubiácea, Manduri e Timburi.

Por outro lado, a sigla acabou perdendo o comando da capital paulista após a morte, em maio deste ano, do prefeito Bruno Covas. Em seu lugar, assumiu o então vice-prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Apesar do crescimento em São Paulo, o PSDB foi o partido que mais perdeu prefeitos eleitos em 2020 no país nos quatro primeiros meses do ano. A legenda tinha 523 prefeitos e agora tem 512.

As principais baixas aconteceram nos estados de Santa Catarina e Goiás. No caso de Goiás, o partido vem enfrentando um processo de esvaziamento desde as eleições de 2018, marcada pela derrota do grupo político do ex-governador Marconi Perillo, réu em um processo por suspeita de corrupção.

Os tucanos perderam espaço em Goiás para o DEM, partido do governador Ronaldo Caiado. O DEM tinha apenas 10 prefeitos em Goiás em 2016 e cresceu para 62 nas eleições do ano passado. Agora tem 68.

Caiado deve disputar a reeleição no próximo ano amparado por uma ampla frente de partidos. Já o PSDB tentará retomar seu espaço no estado, mas carece de um candidato competitivo para a disputa.

O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), também conseguiu encorpar a sua base com a filiação de seis novos prefeitos e a perda de um. Com isso, o MDB ampliou ainda mais a sua hegemonia no estado.

O partido já havia eleito 37 prefeitos em 2020 e chegou a 42, passando a governar quase metade dos 102 municípios alagoanos. Dos seis novos prefeitos, dois vieram de partidos do campo da oposição.

Esta base considerada crucial por aliados do governador, que já foi reeleito e tentará fazer o seu sucessor no próximo ano. O grupo governista não possui um nome natural para a disputa.

Além dos partidos de governadores, também houve crescimento no número de prefeitos em legendas de potenciais candidatos a governador. É o caso, por exemplo do PL de Santa Catarina, liderado pelo senador Jorginho Mello, um dos mais fiéis aliados de Bolsonaro na CPI da Covid.

O partido conseguiu atrair cinco novos prefeitos, sendo quatro deles eleitos pelo PSDB. Mello é pré-candidato ao governo de Santa Catarina no próximo ano e tenta se viabilizar como nome do campo bolsonarista para a disputa.

Movimento semelhante ocorreu no Tocantins, onde o PSD do senador Irajá filiou 20 novos prefeitos desde o início do ano. "É um reflexo do trabalho que temos feito para levar mais obras e serviços para a população. A defesa do municipalismo é uma das minhas principais bandeiras", diz o senador.

Os principais alvos foram prefeitos do DEM, partido que ficou esvaziado no estado após a desfiliação do governador Mauro Carlesse, que foi para o PSL.

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