Descrição de chapéu Eleições 2022 Natal

Lula corteja Garibaldi no RN, e conversa de petista com MDB chega a oito estados

Afastados desde impeachment de Dilma, em 2016, PT e MDB ensaiam reaproximação nos estados do Nordeste

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Luiz Henrique Gomes João Pedro Pitombo
Natal e Salvador

Em mais uma articulação em sua viagem pelo Nordeste, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva jantou nesta terça-feira (24) em Natal com o ex-senador Garibaldi Alves (MDB) e o filho dele, o deputado federal Walter Alves (MDB).

A conversa teve como pauta o tabuleiro político nacional e local para as eleições do próximo ano. Lula tenta atrair apoios para além da esquerda para sua provável candidatura e também para o palanque da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, que vai concorrer à reeleição no próximo ano.

O interesse de Lula na aliança com o MDB no Rio Grande do Norte foi externado publicamente em uma entrevista do ex-presidente a uma rádio local, na tarde desta terça. “Eu tive muitas relações com o PMDB. Pretendo continuar tendo”, respondeu, ao ser questionado sobre a aliança.

Com a aproximação com o MDB potiguar, já chega a sete os estados do Nordeste com os quais Lula negocia o apoio dos emedebistas. Também há um movimento de aproximação no Pará.

MARANHAO - 19/08/2021 - O presidente Lula participou da assinatura do projeto de lei do Estatuto Estadual dos Povos Indígenas no Maranhão com o governador Flávio Dino e Sonia Guajajara. (Foto: Brunno Carvalho @pt.brasil no Facebook)

No jantar com os emedebistas, Lula voltou a falar sobre o desejo de contar com o MDB nas eleições de 2022. A aliança tem a simpatia do emedebista Garibaldi Alves, que foi presidente do Senado de 2007 a 2009, durante o segundo mandato do petista na Presidência da República, e tem forte influência local.

Entretanto os emedebistas presentes no encontro afirmaram que devem conversar com as bases do partido antes de fechar qualquer apoio.

“Foi uma conversa inicial. É claro que existem algumas arestas que precisam ser quebradas. Mas política é a arte do diálogo e o ex-presidente Lula manifestou o desejo de aprofundar as conversas com o MDB”, diz o deputado federal Walter Alves.

Em entrevista à imprensa nesta quarta-feira (25) em Natal, Lula foi questionado sobre a parceria com Garibaldi mesmo depois de ele ter apoiado o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 e disse que vê a situação com naturalidade.

"Eu não posso pensar com fígado. Eu preciso pensar de forma civilizada como é que a gente vai manter relações com todas as forças políticas porque você precisa, se candidato, ganhar as eleições. E ,se ganhar as eleições, precisa governar o país", afirmou.

Lula também comentou sobre o perfil do vice que pretende ter em 2022 e fez referências à experiência de Dilma com o então vice-presidente Michel Temer, que ascendeu à Presidência após o impeachment.

"Quero uma pessoa que pense ideologicamente próximo daquilo que penso. [...] Mas não quero alguém que pense em dar golpe. É como se estivesse escolhendo uma mulher para casar. É algo muito importante, sobretudo depois do Temer", disse.

As conversas com os emedebistas no Nordeste devem ser amarradas à formatação dos palanques locais e estão mais avançadas em Alagoas e Piauí. Mas há conversas em curso no Maranhão, Ceará, Pernambuco, Paraíba e, agora, também no Rio Grande do Norte.

A estratégia, segundo interlocutores petistas, é conquistar o apoio do MDB nos estados mesmo sem o apoio nacional no primeiro turno, já que os emedebistas trabalham com a ideia de lançar candidatura da senadora Simone Tebet (MS) ao Planalto.

O presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi (SP), tem dito que o apoio a Lula dentro do partido é residual e que o partido defende uma alternativa entre Lula e Bolsonaro.

No estado potiguar, o interesse do MDB na aliança passa principalmente pelo futuro político de Walter Alves, filho do ex-senador e atual deputado federal. Walter, que viu seus votos nas eleições reduzirem de 191 mil em 2014 para 79,3 mil em 2018, busca força para a disputa do ano que vem.

Ex-presidente Lula ao lado de Hilton Acioli, autor do jingle "Lula lá", em Natal (RN), nesta terça (24)
Ex-presidente Lula ao lado de Hilton Acioli, autor do jingle "Lula lá", em Natal (RN), nesta terça (24) - Luana Tayze

Segundo interlocutores do emedebista, o cargo mais discutido para o atual deputado federal seria o de vice-governador na chapa de Fátima Bezerra. No caso de uma composição para o Senado, o nome mais forte seria o do próprio Garibaldi Alves.

No entanto, algumas alas do PT são resistentes a ceder os cargos para a aliança. De um lado, o atual senador Jean Paul Prates, que assumiu a cadeira após a renúncia de Fátima Bezerra para assumir o governo estadual em 2019, se articula para ser candidato à reeleição no ano que vem.

Do outro, a própria governadora quer um nome de maior confiança para o cargo de vice-governador.

A resistência à aliança local também acontece dentro do MDB, principalmente na ala mais próxima do ex-ministro Henrique Alves, primo de segundo grau de Walter Alves. A aliança com o PT desagrada a base do partido próxima ao ex-ministro devido ao trauma nas eleições locais de 2014.

Em 2014, o PT decidiu apoiar Robinson Faria (PSD) na disputa do governo estadual, contra Henrique Alves. Alves perdeu a eleição no segundo turno e, na avaliação do MDB, o apoio de Lula a Robinson foi crucial para o resultado. A falta de apoio desagradou o ex-ministro, que até então era próximo ao PT.

As costuras com o MDB também avançaram em outros estados durantes esta visita aos estados do Nordeste. No Maranhão, Lula se reuniu com a ex-governadora Roseana Sarney e o ex-presidente José Sarney, ambos do MDB.

Também houve movimentos de aproximação com o senador Marcelo Castro (MDB) no Piauí, com o deputado federal Raul Henry (MDB) em Pernambuco e com o ex-senador Eunício Oliveira (MDB) no Ceará.

Na próxima vinda ao Nordeste, a expectativa é que o ex-presidente visite o governador Renan Filho (MDB) em Alagoas e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) na Paraíba.

O MDB da Bahia e Sergipe permanecem como incógnitas. No diretório sergipano, Lula tende a ter o apoio do ex-governador Jackson Barreto (MDB), com quem tem uma relação histórica.

Por outro lado, o deputado federal Fábio Reis, presidente do diretório estadual, tem maior proximidade com Jair Bolsonaro (sem partido) e votou com o presidente até nas pautas mais polêmicas, como a PEC do Voto Impresso.

Na Bahia, PT e MDB voltaram a conversar após mais de 10 anos de rompimento. Nos últimos meses, houve conversas do ex-deputado Lúcio Vieira Lima (MDB) com o governador Rui Costa (PT) e com o senador Jaques Wagner (PT). Contudo, ainda não há indicativo de retomada da aliança.

Na tarde desta quarta-feira, Lula desembarcou em Salvador onde participou de uma reunião com líderes de movimentos sociais. Na chegada, foi alvo de protesto de um pequeno grupo de apoiadores de Bolsonaro. Houve um princípio de tumulto entre bolsonaristas e petistas.

Em discurso, Lula disparou críticas ao governo Bolsonaro, disse que o povo brasileiro não irá aceitar golpe e criticou os “generais de pijama” que ficam “dando palpite” na política brasileira.

“Nunca antes na história do Brasil tanto general de pijama deu tanto palpite como agora [...] Se general quer dar palpite, saia doe Exército, se aposente e fale o que quiser”, afirmou o petista.

Lula ainda disse que o papel institucional das Forças Armadas é garantir a segurança do Brasil contra inimigos externo e não “ameaçar politicamente a sociedade brasileira”.

“É importante que eles tomarem juízo porque eles não podem continuar dando trela a um presidente genocida, que foi expulso das Forças Armadas e que tentou fazer greve e soltar bomba nos quartéis. Hoje, quando eu vejo general batendo continência para ele eu fico pensando em que país estamos”.

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