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Boca Aberta, cassado pelo TSE, diz que Lira pediu seu voto, prometeu proteção e depois sumiu

Deputado federal cassado afirma ser vítima de um golpe articulado pelo tribunal e pela Câmara

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Rio de Janeiro

Após ter tido o mandato de deputado federal cassado, Emerson Petriv, o Boca Aberta (Pros), afirma ter sido procurado no início do ano pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que teria prometido protegê-lo em troca de seu voto para a Presidência da Casa.

Boca Aberta diz que Lira não cumpriu o combinado e sumiu depois que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassou o seu diploma, há um mês. “Para pedir voto, ligava toda hora, zap e tal. Ganhou a eleição, sumiu”, afirma à Folha. Na última semana, a mesa diretora da Câmara confirmou a decisão do tribunal.

O deputado cassado Boca Aberta, durante sessão na Câmara dos Deputados em 2019 - Pedro Ladeira/Folhapress

O TSE julgou quatro recursos em desfavor de Boca Aberta e considerou que ele estava inelegível nas eleições de 2018, quando teve mais de 90 mil votos.

Cassado na Câmara de Londrina (PR) em 2017, ele concorreu com base em uma liminar que foi revogada antes das eleições. A cassação do mandato prevê inelegibilidade de oito anos.

Boca Aberta diz que é vítima de um golpe e relaciona a decisão do TSE à sua posição favorável ao voto impresso.

Afirma, ainda, que as dezenas de processos que responde na Justiça por calúnia e difamação são como “um troféu da Champions League”. “Sabe por quê? São oriundos de políticos safados, tudo bandido.”

Lira nega ter feito promessa ao deputado. Em nota enviada à Folha, diz que "são infundadas as afirmações". "Vale ressaltar que no dia 16 de setembro, a Mesa da Câmara dos Deputados apenas formalizou a perda de mandato do ex-deputado Boca Aberta, cassado pela Justiça Eleitoral", diz Lira.

O que o sr. gostaria de dizer aos seus eleitores? O que aconteceu tanto no TSE como na Câmara dos Deputados foi um golpe, um tapetão. Todo candidato tem que passar pelo crivo do TRE do seu estado. Não concorri sub judice, concorri com o crivo dos sete desembargadores do TRE.

Quando eu era vereador em Londrina, fui cassado pelo meu caráter. Registramos candidatura e conseguimos uma liminar. Os desembargadores deferiram o registro. Quando ganhamos a eleição e fomos diplomados, esses adversários, Osmar Serraglio [PP], Valdir Rossoni [PSDB] e Evandro Roman [Patriota], entraram com recurso.

Mas aquela liminar havia sido revogada. A eleição foi no dia 7 de outubro de 2018. A liminar foi revogada no dia 4, ou seja, antes do voto, mas recebemos a intimação só no dia 15 de outubro, depois de o povo ter votado. Ela não tinha eficácia. E o TJ não pode revogar decisão do mesmo colegiado. Tem que ser uma instância superior. O órgão responsável seria o STJ.

Eu não era parte nessa revogação porque a Câmara dos vereadores, que entrou com a reclamação, não me colocou como pólo passivo. Então como a gente ficaria sabendo que a liminar havia sido revogada? Só teria validade quando eu fosse intimado.

O TSE também entendeu que o sr. estava inelegível em função de uma condenação em segunda instância por denunciação caluniosa. O que é uma mentira. Por isso, já recorremos com efeito suspensivo para o TSE e para o STF. Tomei uma condenação porque denunciei uma vereadora vagabunda aqui do Paraná.

Entrei com habeas corpus no STJ e foi extinta a punibilidade pelo próprio ministro Reynaldo Fonseca. Ele viu que no primeiro grau não atentaram que a própria Câmara tinha arquivado a denúncia e que, então, o Judiciário não teria competência.

Depois de quase três anos, o TSE veio julgar agora falando que eu não poderia ser candidato. Como? Se eu estava elegível, concorri com a candidatura deferida. Não existe isso. O TSE aplicou um tapetão. Eu votei para o voto impresso, e o TSE naquela briga com o Bolsonaro...

O sr. está dizendo que foi perseguido porque é apoiador do presidente? Não é que sou apoiador do presidente. Sou apoiador do povo, se o projeto é bom para o povo, vou votar favorável e elogiar.

Osmar Serraglio foi ministro da Justiça do Michel Temer. Antes do julgamento do dia 24 [quando o TSE cassou seu diploma], Serraglio [suplente que assume com a vaga aberta por Boca Aberta] estava nos corredores do TSE, tenho informação sobre isso, despachando com o ministro Alexandre de Moraes, com o ministro Barroso [Luís Roberto]. Ele tem trânsito fácil, onde passa as portas vão se abrindo.

Este seria um indício suficiente para dizer que houve um golpe para te afastar? É um indício suficiente porque à luz da lei eu seria deputado hoje. Eles julgaram o meu caso à margem da lei. Eu concorri com a candidatura deferida.

Entendo o que o sr. está dizendo, mas entendo também que há duas interpretações jurídicas. Não há. No julgamento no plenário, no qual sete desembargadores me conferiram a candidatura deferida, eles julgaram todos esses itens que foram objeto de recurso contra a expedição do diploma. Já estava sanado no TRE. Como que depois de três anos fala que eu não estava [elegível]?

A estratégia da sua defesa é buscar o esgotamento dos recursos, como argumentar que o acórdão não havia sido publicado e que, por isso, o sr. estava elegível. Isso vai de encontro à sua postura punitivista. O sr. já disse que é a favor da prisão em primeira instância. Não é uma contradição? Não acho que seja uma incoerência porque eu sou a favor da prisão em primeira instância, mas para alguns crimes. Por exemplo, contravenção penal não é crime. Jogo do bicho é contravenção penal, vê se tem algum bicheiro preso. Calúnia, injúria e difamação são crimes de pequeno potencial ofensivo. Agora peculato, improbidade, aí sim.

Já que o sr. falou em peculato, seu filho [o deputado estadual Matheus Petriv, o Boca Aberta Júnior] é investigado por suspeita de 'rachadinha' no gabinete. Isso é uma mentira. Esse promotor que acusou a minha família me persegue há um tempo. Uma promotora bêbada bateu o carro e, em vez de ligar para a polícia, ligou para ele. Ele foi lá como se fosse o dono da lei. Não deixou a imprensa filmar nem ela soprar o bafômetro. Eu o denunciei há dois anos nesse caso. Denunciei que ele é um promotor maconheiro. Anda armado, ameaça testemunha com pistola .40.

A Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Paraná diz que as palavras do sr. não encontram respaldo na realidade. E que força de lei tem essa nota de repúdio? Eu pego e jogo na lata do lixo ou na privada. Por que o MP-PR, com algumas bananas podres, é a verdade absoluta? Qual é a verdade absoluta? Sabe quem tem? Deus.

O sr. já foi condenado algumas vezes por calúnia, difamação, denunciação caluniosa. Não foram algumas vezes, foram dezenas de vezes. Eu tenho essas condenações como um troféu da Champions League. Sabe por quê? São oriundos de políticos safados, tudo bandido.

Vamos então voltar ao seu filho. Ele teve os bens bloqueados depois que foi denunciado por um suposto desvio de kits esportivos. Essa informação foi confirmada por diretores das escolas [que deveriam receber o material]. É a mesma coisa, uma ação fake news. O meu filho entregou todos os kits a todas as escolas. Depois de um ano, a escola veio falar que foi entregue com itens faltando. Eles assinaram, conferiram. Foram arrebanhados por este bandido travestido de promotor.

Depois que o deputado Alexandre Leite (DEM), relator do seu processo, recomendou sua cassação, o sr. o seguiu e o xingou: "Você é um ordinário, seu cafajeste. Vamos pro pau ali no plenário". O sr. não acha que essa é uma postura agressiva, sendo uma figura pública? Alexandre Leite não tem um pingo de moral para cassar sequer um cachorro sarnento em fase terminal. Ele encheu o rabo de cachaça, pegou o carro, bateu, arrancou um poste. Chegaram os policiais, ele deu carteirada. Fugiu do local sem soprar o bafômetro. Está sendo investigado no STF por compra de votos.

Mas não estou perguntando sobre o histórico do deputado, estou perguntando sobre o seu modo de agir. Meu modo de agir é muito certo. Quando eles roubam o dinheiro do povo, eles não têm dó. Político bandido tem que ser amarrado em praça pública, deixar pelado e dar uma camaçada de pau. Não me arrependo de nada, faria tudo de novo ao quadrado. Se eu sou o errado, tudo de ruim que você está falando, como que o povo votou em mim?

O Lira poderia muito bem levar meu caso ao plenário da Câmara, mas não levou. Não querem um deputado igual a mim, que não tenha amarras com o sistema. Eu votei no Lira para presidente da Câmara. Ele me ligou e falou: ‘Boca, aqui é o Lira, candidato a presidente. Preciso falar com você, quero o seu voto. Pode conversar comigo?’ Falei ‘posso’. ‘Pode ir no meu apartamento?’

Cheguei lá à noite. Ele estava me esperando de bermuda e chinelo, e falou: ‘Boca, eu preciso do seu voto. O que você está precisando?’ Eu falei: ‘Não preciso de nada, só preciso ser ouvido, que dê a palavra para mim, não quero perseguição’. Ele falou: ‘Boca, dá o seu voto de confiança em mim que eu garanto que ninguém vai mexer com você, e na comissão de Ética eu seguro’. Ué, você não quer cargo? Não quero emenda, nada, só ter a liberdade de falar para o povo.

Eu votei nele, mostrei o vídeo do voto. Deu três meses os caras estavam cassando o meu mandato. Falei: ‘Ô, Lira, você está de brincadeira com a minha cara?’

O sr. falou isso para ele? Falei. Falei: 'Lira, me atende'. Para pedir voto, ligava toda hora, zap e tal. Ganhou a eleição, sumiu. Falei Lira, os caras querem cassar meu mandato, eu não cometi crime. Ele não atendia. Peguei o carro e fui na residência oficial, falei: ‘Quero falar com o presidente’. ‘Vai segurar lá ou não?’ R$ 51 milhões de reais no apartamento e ninguém cassou o Geddel. Agora vai cassar o meu mandato? Ele falou: ‘Não, Boca, vou segurar’. Segurou nada.

Quais os planos a partir de agora? Meus planos são os planos de Deus. Se Deus der vida e saúde, e não mandarem nos matar até lá, somos pré-candidatos a deputado federal.

Mas o TSE entendeu que o sr. está inelegível. Como vai ser isso? Eles entenderam que eu não estava elegível em 2018. Hoje não há nenhum impedimento, como não tinha à época. O TSE julgou só o recurso contra a expedição do diploma, não os meus direitos políticos. Não julgou se estou elegível ou não.

Se o sr. se candidatar novamente, o TRE vai julgar seu registro outra vez. E vai julgar de novo deferido. Nós vamos voltar, pode ficar tranquila. Se Deus quiser.

RAIO-X

Emerson Petriv, 50

Foi deputado federal (2019-2021) pelo Pros e vereador em Londrina (2017-2017). Estudou até a quarta série do ensino fundamental

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