Bolsonaristas lotam hotéis na região da Paulista na véspera de ato com presidente

Em 7 de 8 hotéis no entorno da avenida consultados pela reportagem, não havia mais quartos disponíveis

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São Paulo

Não está fácil encontrar vaga em um hotel na região da avenida Paulista, que será palco para atos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro neste feriado de 7 de Setembro.

A rede hoteleira de bairros paulistanos como Consolação e Cerqueira Cesar está em boa parte ocupada por bolsonaristas de diversos estados brasileiros, muitos dos quais chegaram à capital paulista em caravanas e ônibus fretados.

Na recepção de 7 em 8 hotéis consultados pela reportagem, foi informado que não havia mais quartos disponíveis.

Apenas um deles, o Ibis da Paulista, tinha vagas, mas a diária com o menor preço era de R$ 340 por pessoa, sem café da manhã —o recepcionista explicou que a taxa cresce conforme a ocupação.

Na unidade da mesma marca na rua da Consolação, a lotação era completa, e carros com imagens de Bolsonaro ou adesivos com o nome do presidente saíam e entravam da garagem.

Segundo a Agência de Transporte do Estado de São Paulo, só no último domingo (5), 262,5 mil automóveis chegaram à cidade de São Paulo, se considerados os fluxos das rodovias Anchieta-Imigrantes, Anhanguera, Bandeirantes, Ayrton Senna, Raposo Tavares e Castello Branco.

Elaine, 48, estava em um desses automóveis, um ônibus. Ela é professora e veio de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.

"Nossa caravana veio para São Paulo, para a Paulista mesmo. Mas tem mais cinco ou seis ônibus que estão indo para Brasília e estão saindo hoje [segunda, de Campo Grande]. A gente veio ontem [domingo]", disse. Sua pauta, conta ela, é defender o governo Bolsonaro e a liberdade de expressão. Elaine se opõe à prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), que fez apologia do AI-5 em vídeo contra o STF (Supremo Tribunal Federal).

"A gente não quer o fechamento do STF nem do Congresso", afirma a professora, que estava na Paulista acompanhada pela consultora de empresas de cosméticos Edite Camargo, 66. Questionada sobre o que pensava a respeito dos manifestantes favoráveis a essas duas pautas, ela respondeu: "Não é liberdade o que a gente está querendo? Vá para a rua e peça o que você quer".

As duas amigas dizem que o hotel onde estão hospedadas está cheio de "gente do bem". Elas avaliam que as ações de Bolsonaro para conter a pandemia de Covid-19 foram "excelentes", e acham que o presidente "foi impedido de trabalhar".

"Ele era favorável à proibição do Carnaval [em 2020]", afirma Elaine, citando o que seriam medidas do presidente contra a pandemia. Alertada de que essa informação não era verídica, a entrevistada insistiu na afirmação. "Você não soube?"

Em maio deste ano, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou em depoimento na CPI da Covid que Bolsonaro nunca agiu no sentido de determinar o cancelamento do Carnaval em 2020, pouco antes dos primeiros casos da doença serem notificados no Brasil.

Na porta de um hotel na rua Frei Caneca, uma mulher que chegava de Goiás se negou a falar com a Folha, por acreditar que o jornal "fala muita mentira". Outras pessoas vestidas de verde e amarelo, abordadas em centros comerciais e na rua, também se recusaram a conceder entrevistas.

O administrador Vinícius Rothsahl topou conversar com a reportagem. Ele diz que veio de Florianópolis "só por causa do ato". "Duas cidades vão comandar isso: São Paulo e Brasília."

Rothsahl diz que preferiu a manifestação de São Paulo em vez do ato na capital catarinense porque "querendo ou não, São Paulo não é conduzida, conduz". Ele pretende usar o ato na Paulista para se opor ao Supremo e também para "acabar com essa esquerda". Ele se hospedou no Meliá e diz que procurou vaga em outros dois hotéis, ambos lotados.

Para responder aqueles que acusam o ato de ser antidemocrático, o administrador questiona: "Como pode ser antidemocrático com 2 milhões de pessoas na Paulista?". A estimativa é feita por sites bolsonaristas e de organizadores do ato em São Paulo.

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