Descrição de chapéu ameaça autoritária

Centro-direita aguarda atos do 7 de Setembro para discutir reação a Bolsonaro

Eventual ação dependerá do tamanho e tom da manifestação, além do discurso adotado pelo presidente

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Brasília

Partidos e grupos políticos que não estão alinhados à esquerda ou ao bolsonarismo adotaram um compasso de espera diante da mobilização preparada por Jair Bolsonaro e aliados para este feriado de 7 de Setembro.

A avaliação entre políticos do DEM, MDB, PSDB e PSD, a maioria de centro-direita e de direita, é a de que o volume das manifestações será considerável em São Paulo e em Brasília, devido à estratégia bolsonarista de promover caravanas para esses locais.

Eles dizem, porém, ser necessário aguardar ainda o tom dos protestos e os recados que o presidente dará nesse dia.

Como não há atos marcados pela esquerda, a reação mais palpável até o momento será o protesto contra Bolsonaro organizado pelo MBL e o Vem pra Rua para o dia 12.

Embora partidos digam que ela deve ser menor que o do bolsonarismo, integrantes do PSDB próximos do governador João Doria atuam para que a mobilização seja maior em São Paulo, ao menos, o que teria um peso simbólico relevante.

"A nossa expectativa é que a manifestação [do dia 12] seja grande, porque tem uma mobilização semanal que a gente está fazendo para divulgar, com adesivaço, e tem comparecido algumas centenas de pessoas, o que é uma mobilização que a gente nunca teve. Nas redes, também, a resposta tem sido muito boa", diz o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), coordenador do MBL.

De acordo com o deputado, diferentemente das manifestações de rua anteriores da esquerda, a liderada pelo MBL vai doer em Bolsonaro porque o foco são os eleitores de centro, centro-direita e direita.

"O nosso foco é o sujeito que não quer o Bolsonaro nem o Lula, que é o eleitorado com quem o Bolsonaro se importa porque ele sabe que é o que deu a vitória para ele na eleição e que ele está perdendo agora cada vez mais com o desastre da pandemia e com o desastre econômico também", afirma Kataguiri, segundo quem o objetivo é "fazer a maior manifestação anti-Bolsonaro de todas" e já marcar as próximas.

Líderes do centrão, o grupo de siglas de centro-direta que dão sustentação a Bolsonaro no Congresso, dizem acreditar que o presidente da República não busca ruptura, mas um ato que consiga ao menos barrar seu derretimento político e eleitoral.

Alguns lembram, porém, que não será nenhuma surpresa se, mais uma vez, Bolsonaro contrariar as orientações e expectativas de moderação do grupo.

Na esquerda, há divisões. Embora tenha realizado mobilizações de rua expressivas contra Bolsonaro em maio, junho e julho, alguns partidos orientaram sua militância a não ir aos protestos contra o presidente em 7 de Setembro para evitar conflito.

Apesar disso, nesse dia haverá manifestações da esquerda, entre elas o tradicional Grito dos Excluídos.

"O Grito dos Excluídos, que são as pastorais libertárias, que estão sempre com o povo nas pautas do povo, por alimentação, por emprego, por moradia, sempre fazem no dia 7 de setembro suas manifestações", afirma o líder da bancada do PT na Câmara, Bohn Gass (RS).

"A frente brasil popular e o PT estão reforçando essas mobilizações país afora, incluindo na reivindicação de pautas sociais também a pauta do 'fora, Bolsonaro', porque cada dia mais que ele está na Presidência mais gente morre e mais o país fica subalterno."

De acordo com o petista, não importa se o protesto da esquerda for, dessa vez, menor do que o do bolsonarismo.

"As pessoas sabem que essa manifestação [do bolsonarismo] tem dinheiro do grande agronegócio, tem dinheiro de rachadinha, tem dinheiro de corrupção, deve ter dinheiro da propina para comprar remédio da saúde. Esse ato está sendo financiado exatamente por aqueles que são contra a democracia no Brasil", diz.

Bohn Gass afirma que certamente a esquerda promoverá de forma unificada outros atos de rua, mas ainda não há data.

Apesar de o MBL ter sido um dos líderes das mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, o petista diz ver com bons olhos o protesto organizado pelo grupo e afirma que ele será bem-vindo nos que a esquerda está programando.

"É muito bom que mesmo aqueles que sustentaram o Bolsonaro e ajudaram a elegê-lo, ao acordarem e verem o fiasco que foi apoiar o presidente, façam suas manifestações. Todas as manifestações são bem-vindas, porque a sociedade brasileira precisa dizer não a esse genocídio e à corrupção do governo."

Já o PSB deliberou por orientar a sua militância a não ir às ruas no feriado da Independência.

"As manifestações contrárias ao presidente e seu governo são legítimas e fundamentadas. (...) Cabe, no entanto, uma ponderação sobre a oportunidade que deve ser feita com inteligência política e a partir de uma leitura tática", diz posicionamento divulgado pela sigla.

"O fato inegável é que o bolsonarismo deseja o confronto, se move por ele e almeja a ocorrência de incidentes nas manifestações de 7 de setembro, pelo simples fato de que virulência fascista depende da invenção e rotulação de inimigos para se propagar", prossegue a nota, acrescentando não questionar, porém, a legitimidade de manifestações como a do Grito dos Excluídos".

De acordo com o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), o presidente e seus aliados prepararam uma armadilha para buscar um pretexto para a radicalização.

"O momento exige prudência e responsabilidade. Não podemos cair na armadilha preparada por Bolsonaro e seus apoiadores, que torcem por algum pretexto para dar início em uma escalada de violência no país. Não podemos dar a desculpa que eles esperam.“

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