Descrição de chapéu

Com passado conturbado, MBL busca mudança de patamar em ato contra Bolsonaro

Movimento surgido em 2014 é principal organizador do ato na Paulista pelo impeachment

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O ato deste domingo (12) na avenida Paulista representa para o MBL (Movimento Brasil Livre) uma espécie de cerimônia de formatura.

Criado há sete anos quase como uma ação estudantil, o movimento busca cada vez mais ser visto como um ator político relevante, que demonstra pragmatismo e capacidade de adaptação conforme mudam as circunstâncias.

Protesto organizado pelo MBL (Movimento Brasil Livre) faz projeção na fachada do Ministério da Economia - Pedro Ladeira/Folhapress

Não é um processo totalmente novo, na verdade, mas o ápice de uma opção feita a partir de 2019, quando o MBL anunciou uma virada em sua estratégia de ação.

Até aquele momento, o movimento comportava-se como um adolescente birrento, que grita para chamar a atenção de um público mais velho –no que, aliás, foi bem-sucedido.

O grupo ainda hoje ostenta como uma medalha no peito seu papel na mobilização pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Até marcha a Brasília seus líderes fizeram.

Esse barulho, porém, assumia formas desagradáveis, da agressividade desmedida contra adversários políticos ao constrangimento público de quem discordasse do movimento, passando pela hostilidade aberta contra a imprensa.

Ainda estão frescos na memória desatinos como a ação para barrar a mostra Queermuseu, em Porto Alegre, em 2017, por causa de algumas obras de arte com temática LGBTQIA+.

A máquina de memes do MBL era temida, ruidosa e econômica com a verdade.

A brecha para a mudança de estilo se apresentou na chance de se diferenciar da militância bolsonarista, que se mostrava cada vez mais fanatizada pelo “mito” Jair Bolsonaro.

Em uma entrevista à Folha em julho de 2019, Renan Santos, um dos coordenadores nacionais do movimento, fez autocrítica sobre o papel do MBL na polarização, admitiu o erro de apoiar Jair Bolsonaro em 2018 e prometeu um novo tipo de militância.

“A gente tem uma responsabilidade num agravamento do discurso público? Temos. Temos que fazer esse mea culpa”, disse, na ocasião.

Se os antigos métodos não desapareceram totalmente, é fato que o movimento tem buscado desde então maior respeitabilidade.

A manifestação de agora é o grande teste. Embora o ato tenha outros pais, nenhum movimento colocou tanta energia e capital político nele. Para todos os efeitos, 12 de setembro é o dia do “ato do MBL”.

O movimento sabe que lotar toda a Paulista é uma ilusão, mas conta com uma manifestação que tenha peso político relevante.

Para isso, abriu mão de antigas linhas vermelhas e aceitou engolir sapos, como é da praxe política. Aceitou dividir palanque com esquerdistas e antigos desafetos, como Ciro Gomes (PDT).

Nos últimos dois anos, em parte por causa da pandemia, o MBL afastou-se das ruas. O movimento aproveitou o tempo para formar quadros, atingir a estabilidade financeira e colocar-se no debate de forma institucional, por meio dos parlamentares que elegeu.

Agora, retorna à mesma Paulista onde sua marca se firmou durante as manifestações pelo impeachment, em 2015 e 2016. Mas a condição não poderia ser mais diversa.

Embora haja um esforço compreensível para que a manifestação não seja encarada como representando a “terceira via”, seu eventual sucesso terá inevitavelmente o efeito de mostrar a força de uma parte do eleitorado que não quer optar por Lula ou Bolsonaro.

Nesse caso, o MBL terá papel relevante na construção de um projeto alternativo, com diploma de político profissional na mão.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.