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Datafolha: Aumenta parcela dos que preveem mais corrupção, agora em 61%

Só 11% veem diminuição do problema; apoiadores de Bolsonaro se dizem mais otimistas

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São Paulo

Mais brasileiros acreditam que a corrupção no país vai aumentar daqui para frente, segundo pesquisa do Datafolha.

Levantamento aponta que 61% da população considera que o problema vai aumentar, ante 11% que entendem que vai diminuir. Para 24%, a situação continuará como está, e 3% não souberam responder.

O Datafolha fez 3.667 entrevistas de 13 a 15 de setembro em 190 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

Os números mostram um aumento do pessimismo em relação à pesquisa anterior, feita em julho, embora a taxa atual não seja um recorde.

Há dois meses, 56% enxergavam uma perspectiva de piora nessa mazela, e 13% consideravam que haveria uma melhora. Antes, em março, 67% viam a corrupção em ascensão, e apenas 8% em queda.

Os números refletem a derrocada enquanto bandeira de um dos principais temas da vitoriosa campanha do presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2018. O presidente se elegeu impulsionado por uma onda antipolítica surgida na esteira da Operação Lava Jato, que havia atingido em cheio rivais políticos como PT, PSDB e MDB.

Em discurso na Assembleia-Geral da ONU, Bolsonaro disse nesta terça-feira (21) que o Brasil está "há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção", mas há diversas investigações em curso envolvendo, inclusive, aliados e familiares do presidente, em crises que abarcam até a pandemia —caso do escândalo da Covaxin, em que há suspeitas de corrupção na compra da vacina indiana.

Já antes da posse, Bolsonaro enfrentou desgaste com a revelação de que o ex-assessor Fabrício Queiroz, que trabalhava para o seu filho Flávio, repassou cheques para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, dentro de um suposto esquema de "rachadinha" no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Ao formar sua equipe inicial, no fim de 2018, Bolsonaro indicou para o Ministério da Justiça o maior símbolo da Lava Jato, o então juiz Sergio Moro, que abandonou a magistratura para assumir o cargo.

A passagem de Moro pelo governo, porém, durou menos de um ano e meio. Em abril de 2020, o então ministro pediu demissão acusando o presidente, em benefício próprio, de intervir irregularmente na Polícia Federal.

Nas pesquisas seguintes do Datafolha, o rompimento com o lavajatismo provocou estragos para Bolsonaro. A partir de agosto de 2020, a expectativa de piora no quesito corrupção ficou acima dos 50%, enquanto ao longo de 2019 permaneceu na casa dos 40%.

Além do escanteamento do combate aos desvios pelo atual governo, em paralelo também houve o ostracismo dos trabalhos da Lava Jato, que desde fevereiro deste ano não atua mais como uma força-tarefa no Ministério Público.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, nomeado por Bolsonaro, entrou em choque com as equipes responsáveis pelas investigações no Paraná, no Rio e em São Paulo e mudou o modelo de trabalho.

A Lava Jato do Paraná deflagrou poucas novas frentes de investigação em 2021. Presos que cumpriam pena já tinham sido liberados a partir da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que barrou a detenção de réus condenados em segunda instância.

Além disso, processos antigos da operação, já sentenciados, têm sido revistos. O caso mais recente foi o do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), que conseguiu anular na semana passada, no STF, ação penal que já tinha sido julgada em segunda instância.

Mais conhecido alvo da Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve duas condenações anuladas por ordem do Supremo, em março, e recuperou seus direitos políticos.

Segundo o Datafolha, o pessimismo em relação à corrupção é maior entre mulheres, jovens de 16 a 24 anos e pessoas com escolaridade de nível fundamental.

No recorte regional, a preocupação é maior no Nordeste (com 65%) do que no Sul (59%).

Entrevistados que veem "muita chance" de um golpe de Estado no país estão entre os mais pessimistas quanto ao aumento da corrupção: 78% consideram que o problema crescerá.

É possível observar nas respostas uma correlação significativa entre a percepção do problema e a preferência política do entrevistado.

Para 70% daqueles que declaram voto em Lula em 2022, a corrupção vai piorar. Já entre os eleitores de Bolsonaro, a resposta fica entre 38% e 40%, dependendo do cenário pesquisado.

Os pessimistas também somam 40% entre aqueles que avaliam o atual governo como ótimo ou bom.

Em 2020, durante uma cerimônia em Brasília, Bolsonaro afirmou: "Acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo".

Neste ano, porém, a imagem de sua gestão tem se desgastado com as revelações da CPI da Covid. Entre outros pontos, a comissão do Senado apura suspeitas envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin e também um suposto pedido de propina feito por um ex-diretor do Ministério da Saúde.

Também em 2021, um outro filho do presidente, Jair Renan, 23, se tornou investigado em relação à atuação junto ao governo federal de uma empresa criada por ele. A apuração começou após representação de parlamentares da oposição.

Assim como Flávio, seu irmão, Carlos, que é vereador no Rio de Janeiro, também é alvo de suspeitas sobre contratações em seu gabinete.

O Ministério Público fluminense investiga se houve a contratação de funcionários fantasmas na Câmara Municipal. Flávio, em investigação sobre prática de "rachadinha", foi denunciado em novembro de 2020.

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