Descrição de chapéu ameaça autoritária

Doria critica Lira por ignorar impeachment de Bolsonaro e fala em descompromisso com a democracia

Governador de SP, que passou a defender o impeachment de Bolsonaro, cobrou ações do presidente da Câmara

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São Paulo

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou lamentar a declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que não mencionou o impeachment de Jair Bolsonaro nesta quarta-feira (8), o que foi lido como uma resistência em pautar o tema.

Doria afirmou que Lira não tem compromisso com a democracia e cobrou que ele dê andamento aos pedidos de impeachment contra o presidente.

"Eu lamento que ele não tenha compromisso com a democracia, porque, se tivesse, estaria colocando em pauta o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Lamento sinceramente a postura, a atitude e o descompromisso do presidente da Câmara Federal com a democracia brasileira", afirmou o tucano nesta quarta.

Durante entrevista à imprensa, Doria recuperou a fala de Lira, feita minutos antes em pronunciamento, de que é "hora de dar um basta à escalada de bravatas" de Bolsonaro.

"Se esta de fato é a posição, ele que faça o encaminhamento de um dos pedidos de impeachment. Não é apenas na palavra, mas na atitude que se faz democracia", cobrou Doria.

"Depois dos arroubos, depois do afrontamento que tivemos ontem [terça, 7] à Constituição, à democracia, à Suprema Corte, o mínimo que poderia se esperar de um presidente da Câmara era submeter aos seus parlamentares —já que a decisão não é dele, não é monocrática, é da Câmara e do Senado— que pudesse submeter e dar andamento ao pedido de impeachment", completou.

​A defesa do impeachment de Bolsonaro voltou a ganhar força entre partidos e políticos de oposição, na esquerda e na direita, após as falas golpistas e as ameaças ao STF do presidente nas manifestações de 7 de Setembro em Brasília e São Paulo.

Na terça, diante dos atos pró-Bolsonaro no Dia da Independência, Doria defendeu pela primeira vez que seu partido, o PSDB, apoie um pedido de impeachment de Bolsonaro. A sigla se reuniu nesta quarta para discutir o caso. e decidiu colocar-se formalmente como oposição ao presidente Bolsonaro.

"Nossa posição em São Paulo é de que o PSDB deve ser oposição ao governo e apoiar o impeachment", afirmou à Folha o tucano.

Os tucanos consideram "gravíssimas" as declarações golpistas de Bolsonaro no ato do 7 de Setembro em Brasília. Doria é o principal rival estadual do presidente e disputa as prévias do PSDB com Eduardo Leite (RS) para ser o candidato do partido ao Planalto em 2022.

Doria falou ainda sobre as manifestações do próximo domingo (12) a favor do impeachment de Bolsonaro e convocadas por grupos de oposição à direita, como MBL e Vem Pra Rua. O governador disse avaliar se irá comparecer.

"Como cidadão, como brasileiro, defendo e apoio todos que se manifestarão, seja em São Paulo ou seja em qualquer cidade do país, no próximo dia 12, a favor da democracia, da liberdade, da Constituição e, principalmente, da maioria expressiva dos brasileiros", disse.

Com as ruas tomadas por manifestações recentes pró-Bolsonaro e contra o presidente, sendo essas mobilizadas pela esquerda e, consequentemente, demonstrando apoio a Lula (PT), o próximo ato tem sido identificado como um espaço da chamada terceira via —embora os organizadores reforcem o mote único contra Bolsonaro e defendam a participação de todos os setores.

"Não se trata aqui de grupos simpáticos a mim ou não. Mas sim grupos que defendem a democracia, defendem a Constituição e defendem a liberdade, como eu defendo", disse Doria sobre o protesto.

Na coletiva, Doria também foi questionado sobre eventual adesão do PSDB à iniciativa da presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), de reunir partidos de oposição para discutir os próximos passos da campanha pelo impeachment.

O governador de São Paulo afirmou que cabe ao presidente do seu partido, Bruno Araújo, avaliar a questão. "É uma questão partidária. A minha posição já foi expressa em relação à forte reprovação que fiz [...] contra os arroubos autoritários do presidente Bolsonaro, ameaçando a Suprema Corte, um dos ministros nominalmente, a democracia, as instituições no Brasil."

A respeito da posição de governadores, disse que vários se manifestaram contra Bolsonaro. "É uma decisão que cabe a cada governador", afirmou.

Em meio a sua fala em defesa da democracia, Doria afirmou que São Paulo garante segurança ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, ameaçado por Bolsonaro e a outros dois ministros que vivem no estado.

"Lamento que o presidente da República continue flertando com autoritarismo. Aqui em São Paulo ele não terá eco junto ao governo do estado para prosseguir falando o inadequado", disse.

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