Descrição de chapéu Folhajus

Evangélicos encontram Bolsonaro e peregrinam em 'batalha final' por André Mendonça ao STF

Segundo líderes, presidente diz que não vai retirar indicação; presidente do Senado é alvo de cobrança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo e Brasília

Líderes evangélicos escutaram do presidente Jair Bolsonaro que, ao menos por ora, ele não está disposto a retirar sua indicação “terrivelmente evangélica” para o STF (Supremo Tribunal Federal).

Seu ex-ministro da Justiça e ex-advogado-Geral da União, André Mendonça, continua sendo a aposta do presidente para a vaga desocupada em julho na corte, ainda que Davi Alcolumbre (DEM-AP) esteja adiando indefinidamente a sabatina do nomeado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), sob sua guarda.

Mendonça foi inclusive convidado por Bolsonaro a se juntar à reunião que ele teve com pastores nesta quarta (15), no Palácio do Planalto.

A chamada contava com Silas Malafaia, Estevam Hernandes e César Augusto, trio que esteve ao lado do presidente no ato do 7 de Setembro em São Paulo polvilhado com ameaças ao STF. Foram unânimes em dizer que “não existe outro nome” que não o do ex-AGU, que é pastor presbiteriano e foi um soldado do bolsonarismo em sua passagem pelo governo.

A peregrinação de evangélicos por Brasília, num momento em que a nomeação de Mendonça se segura por um fio, foi encarada como a “batalha final”, nas palavras de um pastor que esteve lá.

Já passaram mais de dois meses desde que Bolsonaro apontou o nome dele para a cadeira de Marco Aurélio Mello, e está na hora de resolver essa situação, dizem. Até para pensarem num plano B, também evangélico —hipótese que só admitem nos bastidores, caso a tentativa de emplacar Mendonça vá a pique.

“O presidente [prometeu um evangélico no STF] na campanha eleitoral e depois dela. Nós não botamos faca no pescoço, foi a palavra dele”, disse Malafaia.

“Não temos outro nome, todos estão fechados com o André”, afirmou o apóstolo Estevam Hernandes, idealizador da Marcha para Jesus, que em 2019 recebeu pela primeira vez um presidente da República —Bolsonaro.

César Augusto, da igreja Fonte da Vida, seguiu o script: “O presidente reafirmou que não tem outra opção, a opção é o André, só o André. Estavam todos os líderes aqui. Foi muito positivo, muito positivo mesmo”.

Mais cedo, parlamentares evangélicos se reuniram com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e fizeram questão de divulgar o retrato do encontro em suas redes sociais. Quatro senadores do bloco religioso sentaram-se à mesa: Zequinha Marinho (PSC-PA), Eliziane Gama (Cidadania-MA), Vanderlan Cardoso (PSD-GO) e Carlos Viana (PSD-MG).

Pacheco escutou a mesma mensagem que depois ecoaria no Planalto: eles não vão desistir de Mendonça. Os líderes e parlamentares pediram ao presidente do Senado que ajude a destravar a indicação do ex-AGU, uma vez que o grupo não trabalha com a hipótese da escolha de um novo nome para o Supremo.

Ainda de acordo com Malafaia, Pacheco disse que iria ajudar o ex-AGU. “Vai falar com o Alcolumbre, vai pautar para resolver logo essa história.”

Apesar dos acenos tanto de Bolsonaro quanto do presidente do Senado, não há qualquer previsão ainda para a sabatina de Mendonça, que já bate recorde de espera na Casa.

Parlamentares da base aliada de Bolsonaro, dentro e fora dos círculos políticos evangélicos, passaram a discutir nos últimos dias a possibilidade de sugerir ao presidente a substituição de Mendonça por outro indicado. Voltaram a circular os nomes do procurador-geral Augusto Aras e dos ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Luis Felipe Salomão e Humberto Martins. Até Marcos Pereira, presidente do Republicanos e bispo licenciado da Igreja Universal, entrou na bolsa de apostas.

A ideia não ganhou tração, graças à resistência dos evangélicos à substituição. Aras não é evangélico. Tampouco Martins, na visão de muitos pastores —ele é da Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma linha cristã que muitos evangélicos descartam como parte do segmento.

Outro dado que pesa contra Martins: é preciso ter menos de 65 anos para poder ser nomeado para a corte, e ele completa essa idade no dia 7 de outubro. Seria, no mínimo, uma corrida contra o tempo.

No encontro, Pacheco relatou ainda que recebeu sinalizações de atuais ministros do STF de que o nome de Mendonça seria bem recebido no tribunal e que havia uma cobrança dos integrantes da corte para que a vaga fosse preenchida logo. Há mais de dois meses, o plenário do Supremo funciona com apenas 10 das 11 cadeiras ocupadas.

O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), aliado de Malafaia que assumirá a liderança da bancada evangélica no ano eleitoral de 2022, diz que há formas de pressionar Alcolumbre a analisar a indicação de Mendonça. A Casa, afinal, depende do Executivo para o pagamento de emendas extras.

“Se ele não comprar essa briga com o Senado, ele compra com o segmento evangélico”, afirmou o deputado. “Nosso candidato passou a ser o Mendonça, e não abrimos mão.”

Se Mendonça, quando foi escolhido por Bolsonaro, buscou afugentar a ideia de que sua única credencial era ser evangélico, hoje ele se agarra aos religiosos para dar sobrevida à sua indicação.

A resistência, contudo, não é só de Alcolumbre. Segundo ministros de Bolsonaro, outros senadores também não morrem de amores por Mendonça.

Ainda que Bolsonaro insista no nome do ex-ministro da Justiça, o governo não fez uso, ainda, de artilharia mais pesada para garantir apoio ao indicado: ameaçar com ​emendas e cargos.

Uma das principais missões de Ciro Nogueira, ao assumir a Casa Civil, foi tentar pacificar a indicação de Mendonça no Senado. Ainda sem resultado.

“Querem dar chumbo no André, [Bolsonaro] vai indicar outro evangélico. É isso que vocês têm que entender. Não adianta isso que estão fazendo com o André”, diz Malafaia. “Se derem chumbo, vai botar outro evangélico. E aí, vão fazer o quê?”

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.