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Mulher de Arthur Lira ganha cargo em governo de aliado de Bolsonaro

Apontada como fantasma em Alagoas, Angela Lira foi nomeada para atuar em Brasília como secretária-adjunta de Roraima

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São Paulo

A mulher do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ganhou um cargo estadual em Brasília de um dos governadores mais próximos do presidente Jair Bolsonaro.

Angela Maria Gomes de Almeida Lira foi nomeada em julho pelo governador de Roraima, Antonio Denarium, como secretária-adjunta da Representação Estadual no Distrito Federal, com salário líquido mensal de R$ 14 mil.

Segundo o governo estadual, a pasta tem a atribuição de interlocução com as diferentes instituições com as quais o governo se relaciona na capital federal.

Denarium, ex-PSL e hoje sem partido, é um dos poucos governadores aliados de Bolsonaro, tendo inclusive participado de atos de raiz golpista no 7 de Setembro.

Eleito neste ano para comandar a Câmara com apoio do presidente, Lira vem barrando nos últimos meses a apreciação dos mais de cem pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Cabe a ele decidir sobre eventual abertura de processo de afastamento a ser analisada pela Casa.

A mulher de Lira já chegou a ser envolvida em uma acusação judicial contra seu marido na Assembleia de Alagoas, por suspeita de ser funcionária-fantasma.

Homem e mulher em pé
O deputado federal Arthur Lira com Angela Maria Lira, em foto publicada em rede social em 2020 - Reprodução Instagram @oficialarthurlira

No Governo de Roraima, Angela Lira, 43, tem como superior imediato uma apoiadora de Bolsonaro, Gerlane Baccarin, secretária responsável pela pasta da Representação Estadual.

Candidata derrotada na eleição municipal de Boa Vista em 2020 pelo PP, Baccarin é mulher do deputado federal Hiran Gonçalves, do mesmo partido. Gonçalves, também bolsonarista, é amigo de Lira.

A indicação de Angela Lira foi divulgada pelo site Roraima em Tempo. A Folha questionou o governo estadual sobre as qualificações da secretária-adjunta para o cargo e sobre suas ligações com o estado.

A resposta foi que ela é uma "administradora experiente, já tendo passado por várias instituições como Banco do Nordeste e Assembleia Legislativa de Alagoas, além de ter excelente trânsito em Brasília".

A passagem da mulher de Lira nos anos 2000 pela Assembleia alagoana, porém, a envolve em uma das principais pendências judiciais do marido.

Em depoimento no âmbito da Operação Taturana, da Polícia Federal, sobre desvios na Assembleia de Alagoas, Angela afirmou que foi incluída por ele na folha de pagamento do Legislativo estadual, sem desempenhar um trabalho de fato.

Lira foi deputado estadual de 1999 a 2011, quando assumiu mandato no Congresso. O depoimento de Angela consta em uma das ações de improbidade contra Lira derivadas da Operação Taturana.

Os promotores escreveram: "Lira também proporcionava a inserção na folha de pagamentos de pessoal da ALE/AL de funcionários que nunca trabalharam de fato, como é o caso de sua namorada Angela".

Um trecho da peça transcreve o depoimento tomado pela Polícia Federal da mulher do deputado, no qual ela contou ter sido nomeada em 2006, com salário de R$ 3.000 mensais. "Em razão de seu relacíonamento amoroso foi inserida na folha de pagamentos da ALE/AL; Que nunca exerceu de fato função alguma na ALE/AL".

Ela também afirmou: "Nunca declarou sua renda à Receita Federal, uma vez que não auferia renda; Que
a ALE/AL nunca descontava IR (Imposto de Renda) ou INSS de sua remuneração; Que somente em janeiro de 2008 passou a ser descontado IR e INSS."

Na época da deflagração da investigação, a Justiça de Alagoas chegou a determinar o afastamento de todos os nomeados da Casa, desde a Constituição de 1988, que não tivessem prestado concurso e cujos atos não estivessem publicados no Diário Oficial.

Lira, que foi integrante da Mesa Diretora da Casa, também ficou afastado da Assembleia de Alagoas, com outros colegas, por decisão judicial naquela época.

A ação de improbidade que menciona a nomeação de Angela foi rejeitada em primeira instânca em abril deste ano, mas ainda não houve decisão definitiva.

O presidente da Câmara está condenado em outras duas ações de improbidade derivadas do caso da Assembleia, nas quais está recorrendo.

A reportagem procurou a assessoria de Lira desde a semana passada para comentar o assunto, mas não obteve resposta. O deputado tem negado as acusações decorrentes da Operação Taturana. Em ação penal derivada dessa investigação, argumentou que houve nulidades na apuração.

Ao ser questionado pela reportagem, o Governo de Roraima afirmou que "Angela Maria não tem nenhuma condenação em seu histórico de vida pública".

Também afirmou que as nomeações para o primeiro escalão "atendem a critérios técnicos relacionados a necessidade da secretaria, autarquia ou presidência em questão".

Angela Maria também possui participação nos negócios privados rurais de Lira. Ela consta como "administradora" da empresa D'Lira Agropecuária e Eventos, que pertence ao deputado e ao pai dele, também político Benedito de Lira.

No comando da Câmara desde fevereiro, Lira não tem dado sinais de que dará início ao processo de impeachment.

Após os atos do 7 de Setembro, por exemplo, ele não mencionou essa possibilidade e fez um discurso pelo apaziguamento.

Por enquanto, Lira não tem tomado nenhuma decisão sobre os pedidos de afastamento —nem de rejeição nem de aceitação. Ele também não tem um prazo para expedir esses despachos.

Na Câmara, o deputado tem tentado priorizar, entre outros projetos, uma pauta simpática a seu grupo político, como as das propostas já aprovadas do novo Código Eleitoral e de mudanças na Lei de Improbidade, enviadas ao Senado.

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