'PAC do Doria' é ampliado para R$ 50 bi de olho na disputa para 2022

Aumento será arma de tucano nas prévias do PSDB e plataforma para candidatura do vice Garcia

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São Paulo

O governo João Doria (PSDB) ampliou o pacote de investimentos do estado de São Paulo previsto até o fim de 2022 para R$ 50 bilhões, um recorde na história recente.

O número redondo, acima dos R$ 47,5 bilhões previstos anteriormente, servirá como argumento na disputa interna que o governador trava no PSDB contra o gaúcho Eduardo Leite nas prévias que decidirão o candidato do partido ao Planalto.

O vice-governador Rodrigo Garcia e o governador João Doria, ambos do PSDB, em reunião no Palácio dos Bandeirantes, em SP
Rodrigo Garcia e João Doria, ambos do PSDB, em reunião no Palácio dos Bandeirantes, em SP - Divulgação - 23.jun.2021/Governo do Estado de SP

Além disso, o valor, incluído no apelidado "PAC do Doria", o programa Pró-SP, servirá como um dos pilares da prevista campanha do atual vice do tucano, Rodrigo Garcia (PSDB), ao Palácio dos Bandeirantes no ano que vem.

Pelo plano de Doria, Garcia assume seu lugar em abril, quando o governador quer deixar o cargo para iniciar a disputa pela vaga hoje presumida de Jair Bolsonaro (sem partido) no segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ser mantido o cenário aferido hoje em pesquisas.

O vice foi nomeado gerente do Pró-SP, assim como a desconhecida Dilma Rousseff (Casa Civil) assumiu o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em 2007, de olho na eleição que venceria em 2010 para suceder a Lula.

Garcia irá anunciar os detalhes da proposta orçamentária estadual, que será enviada nesta quinta (30) para a Assembleia Legislativa paulista.

O número mágico foi atingido na rubrica de investimentos do documento: serão R$ 27,5 bilhões, ante R$ 25 bilhões previstos antes.

De 2015 a 2017, São Paulo teve investimentos de R$ 16,9 a R$ 18,5 bilhões, caindo em 2018 para R$ 13,7 bilhões. Isso tudo refletiu os efeitos da crise econômica terminal do governo Dilma.

Em 2019, Doria e Garcia assumiram acusando o que chamam de herança maldita de Márcio França (PSB), o vice de Geraldo Alckmin (PSDB) que assumiu o governo e tentou a reeleição. Tanto ele como o tucano, que disputou a Presidência, fracassaram.

Os investimentos caíram a R$ 11,8 bilhões em 2019. A pandemia afetou a arrecadação estadual no ano seguinte, e no número permaneceu estável, em R$ 12,4 bilhões). Para este ano, saltou 81% e chegou a R$ 22,5 bilhões.

O governo credita a evolução aos efeitos combinados de medidas de saneamento administrativo e da reforma previdenciária estadual, além da volta da arrecadação, o que acirra ainda mais a disputa federal em torno do preço dos combustíveis.

Bolsonaro quer espetar nos governadores a responsabilidade pelos altos preços —o ICMS, principal imposto estadual, responde contudo por 16% do valor do simbólico botijão de gás.

O dinheiro extra para engordar a conta de investimentos de 2022 saiu de gastos correntes (R$ 1,5 bilhão) e operações financeiras (R$ 1 bilhão), e deverá ir basicamente para obras de mobilidade, como a linha 6-laranja do Metrô paulistano e recuperação de rodovias.

Elas são parte central do Pró-SP, que serve de guarda-chuvas para 8.000 obras, incluindo projetos como a finalização do Rodoanel e a despoluição do rio Pinheiros.

Agora, como é óbvio, o desafio da dupla tucana é tornar os números vistosos em realidade. Projetos de infraestrutura são notoriamente complexos, com processos que se arrastam por meses ou anos, e o propalado programa de privatizações de Doria vai a passos lentos.

Assim, há dúvidas se a meta de gastar R$ 22,5 bilhões ainda neste ano é exequível. Garcia já disse que sim, citando execuções de licitações que viriam em cascata nessa reta final do ano. Mas até setembro o governo só tinha conseguido aplicar menos de R$ 5 bilhões deste valor.

Enquanto Doria tenta se viabilizar em seu partido, a condição de Garcia, que deixou o DEM e entrou no PSDB em maio, é mais tranquila: caso o governador deixe mesmo o cargo, como combinado, ele tem legenda garantida.

A disputa, contudo, será acirrada. Alckmin ainda não decidiu para qual partido vai, provavelmente o PSD de Gilberto Kassab ou a fusão DEM-PSL, mas conta com seu "recall" e lidera a corrida hoje.

A esquerda vem com mais força, com o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) e/ou Guilherme Boulos (PSOL), a depender de arranjos nacionais.

Já Bolsonaro quer emplacar o ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura) como candidato, e ele obteve índices de saída semelhantes aos de Garcia, ao redor de 5%, no mais recente levantamento do Datafolha.

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