Pacheco e Lira elogiam nota de Bolsonaro; Doria chama presidente de 'rato'

Chefe do Executivo agora fala que não quis agredir Poderes e diz ter atacado 'no calor do momento'

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Brasília

Uma hora após a divulgação da nota em que Jair Bolsonaro recua de seus ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que a manifestação do chefe do Executivo vai ao encontro do que a maioria dos brasileiros espera.

Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se manifestou em entrevista ao apresentador José Luiz Datena na TV Bandeirantes e qualificou o aceno de Bolsonaro como o recomeço de um movimento em direção aos Poderes.

Por outro lado, adversários declarados do presidente da República aproveitaram o recuo para criticá-lo. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chamou Bolsonaro de “rato”.

Dois dias após atacar o STF com ameaças golpistas, o presidente Jair Bolsonaro divulgou nota nesta quinta-feira (9) na qual recua e afirma que nunca teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes".

"A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", afirmou o presidente.

Nos últimos meses, Bolsonaro fez seguidos ataques ao STF e xingou ministros da corte em uma estratégia para convocar seus apoiadores para os atos do 7 de Setembro, quando repetiu as agressões e fez uma série de ameaças à corte e a seus integrantes.

Na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não cumpriria decisões judiciais do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Pacheco foi um dos primeiros a se manifestar sobre a nota oficial do presidente da República, elogiando a postura de Bolsonaro.

"A declaração à nação do presidente Jair Bolsonaro, afirmando inclusive que a 'harmonia entre os Poderes é uma determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar', vai ao encontro do que a maioria dos brasileiros espera", escreveu o presidente do Senado, em suas redes sociais.

"Respeito entre os Poderes, obediência à Constituição e compromisso de trabalho árduo em favor do desenvolvimento do país. É disso que o Brasil precisa e que vamos continuar defendendo", completou.

Assim como os chefes dos outros Poderes, Pacheco havia criticado a escalada das tensões após os atos de 7 de Setembro e as falas golpistas de Bolsonaro. ​O presidente do Senado fez um pronunciamento na quarta-feira (8) para falar que o Brasil era um país em "crise real" e que a solução não estava em "autoritarismo" e nem em "arroubos antidemocráticos".

Lira disse nesta quinta em entrevista a Datena que tudo o que aconteceu "fora do script" nos atos de 7 de Setembro "a gente pode colocar como fervor da política, emoção do momento".

"Mas o presidente da República, acertadamente, serena os ânimos. Ele recomeça um movimento em direção aos Poderes, porque o país é maior do que qualquer instituição, do que qualquer presidente de Poder, do que qualquer... até mesmo o presidente da República", afirmou.

Lira disse ainda que "não é momento, em hipótese nenhuma, para desarranjos instituições, briga entre Poderes". O presidente da Câmara justificou seu discurso no dia anterior, no qual escalou o tom contra Bolsonaro, mas pregou conciliação entre as instituições.

"A nossa fala foi uma fala pensada, discutida, para trazer a bola para o chão. Justamente isso. Não se jogar gasolina no fogo. Nós precisamos de todos os atores que ocupam cargos de destaque na nação imbuídos de trabalhar no sentido de que nós tenhamos tranquilidade, previsibilidade e paz, porque precisamos continuar trabalhando para que 2021 termine de maneira mais tranquila, mais produtiva."

Lira elogiou também a participação do ex-presidente Michel Temer (MDB) no gesto de conciliação de Bolsonaro e "todo procedimento de recomeço de relacionamento". "E nós esperamos que, com muita tranquilidade, nós possamos ordenar cada P oder no seu espaço, na sua circunscrição."

Por meio de redes sociais, o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, afirmou que o gesto de Bolsonaro, ao divulgar a nota, demonstra que "estamos unidos no trabalho".

"A harmonia e o diálogo entre os poderes compõem as bases nas quais se sustenta nosso país. O gesto do presidente Jair Bolsonaro demonstra que estamos unidos no trabalho pelo que mais importa, a recuperação do nosso país e o cuidado com os brasileiros", escreveu Nogueira.

Nos bastidores, aliados de Lira afirmam que a mudança do tom do presidente atende também a pedidos do presidente da Câmara e do ministro da Casa Civil. Ambos vinham pedindo ao mandatário que ele cessasse os ataques aos Poderes.

Para esses interlocutores, Bolsonaro colocou em risco votos de eleitores moderados em meio a um cenário de inflação em alta, crise hídrica e aumento dos preços de combustíveis. Por isso precisava reagir.

Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) avaliam que o presidente da República percebeu que seu isolamento chegara a um nível inédito e precisava recuar sob o risco de ter perdas eleitorais.

Por outro lado, adversários de Bolsonaro aproveitaram o recuo para atacá-lo. João Doria, também em suas redes sociais, escreveu que o presidente virou um rato.

“O leão virou um rato. Grande dia”, escreveu o governador, acrescentando em seu post a imagem de um rato.

Aliado do presidente, o pastor Silas Malafaia, também criticou o recuo do presidente da República e disse que o ministro Alexandre de Moraes “continua a ser um ditador”.

“Continuo aliado, mas não alienado! Bolsonaro pode colocar a nota que quiser, Alexandre de Moraes continua a ser um ditador da toga que rasgou a Constituição e prendeu gente inocente. Minhas convicções são inegociáveis”, escreveu em redes sociais.

À Folha Malafaia diz ainda não falou com o presidente a respeito, mas fez uma suposição.

"Como Temer é quem indicou Alexandre, quer dizer, tem uma comunhão muito grande --estou supondo, hein?--, pode ser um acordo: Bolsonaro dá um passo atrás para Alexandre de Moraes encerrar esses inquéritos. Estou supondo, tá? Se não for isso, aí vou dizer pra você que o presidente vai ficar em maus lençóis com a base dele."

O blogueiro bolsonarista Allan Santos foi outro aliado a se manifestar nas redes sociais.

"A realidade: a nota foi horrorosa e uma confissão de bravata. A mentira: que desejo ver o presidente fora do poder. A lição: não defenda seu sentimento contra a realidade, mesmo que isso custe caro, cumpra o que você promete".

Vice-presidente da CPI da Covid, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), tantas vezes atacado por Bolsonaro, se mostrou cético sobre as intenções do presidente ao divulgar a nota.

“Torço para que isso seja refletido na prática, e que não sejam apenas palavras ao vento. Continuaremos vigilantes”, afirmou.

O presidenciável do PDT Ciro Gomes também comentou o recuo do presidente nas redes sociais. Segundo ele, a nota "que Bolsonaro divulgou há pouco é a rendição mais ridícula e humilhante de um presidente em toda história mundial. E a prova de que ele não tem mais autoridade política nem moral de governar o país".

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