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Aliados de Doria desconfiam de app para voto nas prévias, mas PSDB não tem plano B

Ferramenta só será usada com aval de Doria, Eduardo Leite e Virgílio, o que gerou impasse sobre votação e judicialização

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São Paulo

A menos de duas semanas das prévias presidenciais do PSDB e com a disputa acirrada entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), a votação por aplicativo é considerada passível de fraudes pelos paulistas, mas é chancelada pelos gaúchos e pelo terceiro participante, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.

O partido, porém, não tem um plano B e deve, portanto, usar a ferramenta. Dirigentes da legenda afirmam que, caso os aliados de Doria realmente vetem o uso do aplicativo, devem arcar com o custo político de inviabilizar ou adiar sem prazo a votação marcada para o próximo dia 21.

MONTAGEM
Os competidores nas prévias do PSDB João Doria, Arthur Virgílio e Eduardo Leite - Governo do Estado de São Paulo, Lucas Seixas/Folhapress e Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

Nos bastidores, aliados do governador de São Paulo afirmam que a insegurança do aplicativo pode levar à judicialização do resultado das prévias.

O prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado, que representa a campanha de Doria nos temas referentes ao aplicativo, afirma, porém, ter otimismo.

"Apesar de o aplicativo se encontrar em fase de desenvolvimento, acredito que as equipes responsáveis encontrarão o melhor caminho para garantia da votação. Seguimos confiantes que esta inovação promovida pelo PSDB será capaz de garantir uma enorme festa da democracia interna", disse à Folha.

"A utilização ou não do dispositivo será uma decisão absolutamente conciliada e combinada entre a direção do partido e os candidatos. A única possibilidade descartada é a volta a algo mais vulnerável e grave: o voto na cédula", diz o presidente do PSDB, Bruno Araújo.

Segundo as regras do partido, todos os filiados podem votar pelo aplicativo –o cadastro tem que ser feito até o próximo domingo (14). No entanto haverá urnas eletrônicas em Brasília para prefeitos, deputados, senadores, governadores e ex-presidentes da sigla que queiram votar presencialmente.

Na avaliação de tucanos da ala histórica do PSDB, não usar ou limitar o uso do aplicativo a apenas alguns grupos significa um prejuízo na isonomia do processo, uma manobra que beneficiaria Doria.

O aplicativo seria a ferramenta para democratizar a votação, com possibilidade de participação em todo o país.

A votação em locais físicos exige uma coordenação logística que o diretório paulista do PSDB tem, mas outros não. São Paulo, estado que concentra 25% dos tucanos do país, teria mais condições de levar os eleitores até a urna.

A vantagem organizacional de São Paulo fica clara em relação à proporção de filiados do PSDB cadastrados no aplicativo –61,4% dos cadastrados até terça são paulistas.

O Rio Grande do Sul representa 9,75% dos cadastrados e outros dos principais diretórios que apoiam Leite (MG, BA, SC, PR e MS) somam 16,8%.

No total, apenas cerca de 22 mil tucanos (1,64%) se cadastraram entre os mais de 1,3 milhão de filiados no país. São Paulo está acima da média: 4,56% dos filiados do estado se cadastraram, enquanto 2,31% dos tucanos gaúchos o fizeram.

As campanhas de Doria e de Leite vêm promovendo encontros regionais e eventos para o cadastramento geral de filiados, mas os tucanos admitem que a capilaridade de São Paulo é maior.

Entre quem votará presencialmente, São Paulo corresponde a 43% das mais de 660 passagens emitidas pelo partido para mandatários que querem ir até Brasília.

O pano de fundo da discussão em torno do aplicativo, que ainda deve se arrastar até o fim da semana, são as auditorias realizadas pela empresa especialista em segurança cibernética Kryptus, que apontaram fragilidades na ferramenta desenvolvida pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Em reunião nesta terça (9) entre as equipes de cada campanha, a fundação afirmou que resolveu 11 das 12 vulnerabilidades encontradas –sendo que a última foi minimizada.

"O sistema estará apto para ser usado com total segurança na data marcada para a realização das prévias", afirma a fundação. A Kryptus respondeu que não iria comentar o caso por restrição contratual.

Para aliados de Leite, o aplicativo está satisfatório para desempenhar a função no dia da votação com segurança. O entorno do gaúcho vê na celeuma do aplicativo mais uma tentativa de aliados de Doria de conturbar o processo diante do temor de uma derrota.

Já membros da equipe de Doria, que projetam uma vitória do paulista, lembram que o relatório da Kryptus foi incisivo com relação à possibilidade de fraude em massa e que o próprio documento fala em brecha para judicialização.

Os tucanos esperam chegar a um consenso até o fim de semana, quando se encerram as inscrições no aplicativo.

"Acredito que até a próxima sexta-feira (12), teremos um relatório definitivo proferido pela Kryptus, que venha garantir a segurança cibernética e atestar a transparência no processo de votação", afirma Machado.

"As eventuais falhas foram detectadas por auditoria contratada pelo próprio PSDB. A segurança do sistema não pode ser comparada com a das urnas eletrônicas brasileiras, com décadas de desenvolvimento e centena de milhões de reais em investimentos. O aplicativo do PSDB, por sua vez, foi desenvolvido em poucos meses e com valores muito mais modestos", diz Araújo.

Para minimizar o efeito de eventuais fraudes no aplicativo, aliados de Doria chegaram a sugerir que apenas filiados e vereadores pudessem usar a ferramenta –os demais mandatários que podem ir até Brasília só teriam a opção de votar presencialmente ou não votar. Mas essa restrição entre os grupos de votantes foi descartada.

Na avaliação dos paulistas, isso também justificaria os gastos do partido com evento em Brasília e com a emissão de passagens –que não têm razão de ser, dizem, se todos podem votar pelo aplicativo.

Tucanos que acompanham as prévias de perto não arriscam ainda palpitar sobre um vencedor, o cenário é apertado. Doria leva vantagem em São Paulo, estado que concentra os tucanos, e tem maior capacidade de mobilização, mas é visto com antipatia em outros estados.

Leite tem o apoio de mais diretórios estaduais, mas que, como visto, não têm o tamanho de São Paulo. Entre os estados com mais tucanos, depois de São Paulo, Leite é apoiado por Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Santa Catarina e obteve o apoio recente de Mato Grosso do Sul.

O apoio dos diretórios não significa votação unânime. No Rio Grande do Sul, Doria tem o apoio da ex-governadora Yeda Crusius, de um ex-presidente do diretório de Porto Alegre e do prefeito e de filiados de Vacaria.

O governador paulista também avançou no Ceará, estado do senador Tasso Jereissati, que apoia Leite. O diretório do Ceará apoia Leite, mas Doria tem o apoio de um deputado federal, dois estaduais, um prefeito e cinco vereadores.

Leite tem em São Paulo aliados ligados a Geraldo Alckmin, como três ex-dirigentes tucanos, além do apoio de dois vereadores da capital e de prefeitos, como o de Santo André e de São José dos Campos.

A votação das prévias será indireta e por grupos –cada um representa 25% do peso dos votos. O primeiro grupo é de filiados.

O segundo reúne 4.367 vereadores e 68 deputados estaduais (com 12,5% para cada). Há ainda o grupo de prefeitos e vices, com cerca de 1.000 membros. O último grupo tem cerca de 50 pessoas entre deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o presidente atual.

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