Descrição de chapéu Eleições 2022

App tem instabilidade e prévias do PSDB viram impasse entre Doria e Eduardo Leite

Presidente do PSDB minimizou problemas, mas não descartou que processo acabe judicializado pelo perdedor

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Brasília

A eleição das prévias presidenciais do PSDB entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) ocorre neste domingo (21) marcada por instabilidade no aplicativo de votação destinado aos filiados. O processo acabou suspenso e só será retomado o quanto antes após ajustes no programa.

Para tentar uma solução, os candidatos, incluindo Arthur Virgílio (AM), discutiram, em reunião com a direção do PSDB, adiar ou prorrogar as prévias. A questão é quando a ferramenta estará com os problemas superados.

O problema agravou a briga entre as campanhas de Leite e de Doria.

Doria e Leite nas prévias do psdb
Doria e Leite em evento das prévias do PSDB, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Por causa das falhas, o governador do RS pediu, no início da tarde, a reunião para discutir os erros identificados na biometria facial, que travam a ferramenta.

​A votação originalmente ocorreria das 7h às 15h. O prejuízo à imagem do partido a partir do vexame do aplicativo é outra leitura comum entre membros do PSDB.

Segundo a Folha apurou, um dos problemas com a ferramenta foi a compra em quantidade insuficiente de licenças de uso de um software para reconhecimento facial.

Os diretórios de São Paulo, aliado a Doria, e do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, aliados a Leite, emitiram notas reclamando do processo de votação. ​

O aplicativo custou cerca de R$ 1,3 milhão ao PSDB, mas os custos das prévias são maiores —incluem a realização de evento em Brasília, neste domingo, e a verba para cada campanha, que foi de mais de R$ 1 milhão. Sem contar as passagens e hospedagens para que prefeitos de todo o Brasil fossem à capital federal.

O app é destinado ao voto de filiados sem mandato e vereadores. Já a votação presencial por meio de urnas eletrônicas, em Brasília, da qual puderam participar prefeitos, vices e parlamentares, também ocorreu em clima de tensão e terminou por volta das 15h.

Auxiliares de Leite e de Doria se concentraram em torno da cabine destinada a parlamentares para acompanhar a votação.

Deputados que originalmente optaram por votar pelo aplicativo acabaram comparecendo ao evento para votar presencialmente e garantir seu voto, uma vez que a ferramenta segue inviável. Essa estratégia gerou confusão e possibilidade de que os deputados votassem duas vezes, pelo aplicativo e pela urna.

Em um arranjo de última hora, os deputados que chegaram para votar foram sendo autorizados, um a um, a depositar seu voto na urna mediante aval das duas campanhas rivais —e sua opção de voto no aplicativo seria anulada.

A possibilidade de erros e judicialização é crescente. Parlamentares pró-Leite e parlamentares pró-Doria passaram a ressaltar as vulnerabilidades da votação.

A avaliação geral é de que as dificuldades no aplicativo prejudicam a imagem do PSDB e que a direção nacional, que bancou a ferramenta, tem que tomar providências.

Houve uma briga quando a deputada federal Mara Rocha (AC) chegou para a votação e precisou da autorização. A deputada afirmou ser bolsonarista e que estaria de mudança para o PL, mas que votaria em Leite.

Diante da resistência da equipe de Doria em autorizar o voto da deputada, ela afirmou que houve tentativa de comprar seu voto para Doria.

Ao longo da tarde, o entusiasmo da abertura do evento, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com espaço para 4.000 pessoas, deu lugar ao clima de fim de festa. Políticos e filiados deixaram o local, sem saber se as prévias terminariam no domingo.

A melancolia foi interrompida por um grito inesperado de um dos poucos militantes ainda presentes, como se comemorasse um gol. João Vitor dos Santos, da Juventude do PSDB de Belém, celebrava, na verdade, ter conseguido votar, às 16h. Ele tentava desde as 7h30.

Apoiador de Doria, saiu exibindo o comprovante de votação como um troféu.

O militante João Vitor Santos exibe comprovante de votação após mais de 8 horas tentando votar pelo app
O militante João Vitor Santos exibe comprovante de votação após mais de 8 horas tentando votar pelo app - Carolina Linhares/Folhapress

Em nota, Marco Vinholi, presidente estadual do PSDB-SP, e Fernando Alfredo, presidente municipal do PSDB-SP, disseram que, das 8h às 12h, o aplicativo apresentava instabilidade, o que impossibilitou votação. "Somente em São Paulo são cerca de 26 mil (62% do total) credenciados que, neste momento, não conseguem acesso ao voto", diz em nota.

O diretório do Rio Grande do Sul, ao solicitar a reunião da executiva nacional, fala em decidir quais providências devem ser tomadas "para garantir a legitimidade do processo eleito.

A ferramenta começou a travar em todo o país por volta das 8h30. O uso do aplicativo foi definido pelo PSDB mesmo após as campanhas de Doria e Leite apontarem falhas e fragilidades. Sem um plano B, o partido apostou na correção desses problemas até a votação.

O pano de fundo da discussão foram as auditorias realizadas pela empresa especialista em segurança cibernética Kryptus, que apontaram fragilidades na ferramenta desenvolvida pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Pela manhã, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, minimizou a questão. "Se o aplicativo está sendo demandado, é porque há envolvimento", disse. Ele afirmou ainda não descartar que o processo de votação acabe judicializado pelo perdedor, embora diga não esperar isso.

Ao todo, 44,7 mil tucanos (cerca de 3% do 1,3 milhão de filiados) se inscreveram para a votação indireta, em que cada grupo representa 25%: filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o atual.

Como mostrou a Folha, a menos de duas semanas do pleito, aliados do governador de São Paulo já afirmavam nos bastidores que a insegurança do aplicativo poderia levar à judicialização do resultado das prévias.

Naquele momento, dirigentes do PSDB avaliavam que não usar ou limitar o uso do aplicativo a apenas alguns grupos significaria um prejuízo na isonomia do processo, uma manobra que beneficiaria Doria, porque a votação presencial exige uma coordenação logística que o diretório paulista do PSDB tem, mas outros não.

Além de brigas devido ao uso do aplicativo, a campanha das prévias também teve acusações da equipe de Leite a respeito de filiação extemporânea de prefeitos aliados a Doria e de pressões do governador paulista, por meio de demissões e verba de convênios, para angariar votos no estado.

As críticas vinham sendo ácidas em debates até que, na última semana, os candidatos resolveram baixar a temperatura. Num gesto de paz, Leite e Doria se reuniram em Porto Alegre e falaram em união.

Apesar das diferenças, Leite e Doria acumulam incômodos em comum. O primeiro é o apoio a Bolsonaro em 2018, que ambos consideram agora um erro. O gaúcho e o paulista também miraram no presidente e no PT durante as prévias.

O baixo patamar nas pesquisas de opinião (por volta de 5% no último Datafolha) também atinge aos dois. Leite ressalta ter menor rejeição, enquanto Doria espera que a população reconheça seu empenho pela vacina contra Covid.

De maneira geral, os candidatos avaliam que as prévias serviram para dar destaque ao PSDB.​

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