Ciro retoma candidatura após votos de deputados do PDT contra PEC

Presidenciável tinha deixado campanha suspensa alegando insatisfação com colegas de partido que votaram a favor do calote nos precatórios

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São Paulo

O presidenciável Ciro Gomes (PDT) anunciou nesta quarta-feira (10) a retomada de sua pré-candidatura ao Planalto em 2022, que foi suspensa na semana passada após a crise aberta pelos votos favoráveis de deputados federais de seu partido à PEC dos Precatórios.

"Estou de volta, sim. Eu volto à luta porque o meu partido, os companheiros da bancada, me deram um sinal muito generoso e corajoso. Só fazem esse tipo de gesto aqueles que têm compostura", afirmou Ciro em entrevista à CNN Brasil.

A decisão veio um dia depois do recuo da bancada do partido, que no segundo turno da votação da PEC, nesta terça-feira (9), orientou voto contrário à medida de interesse do governo Jair Bolsonaro (sem partido, a caminho do PL). Ciro se disse agora "mais fortalecido do que nunca" para seguir a campanha.

O pedetista afirmou à CNN que "em nenhuma hipótese" cogitou abandonar a candidatura à Presidência, mesmo com o desempenho nas pesquisas estagnado, e disse manter o seu projeto, apesar das dificuldades. "Eu confio no povo brasileiro, sou um velho ganhador de eleições", comentou.

"Eu não desisti da minha pré-candidatura. Eu suspendi, como um ato de luta. Porque eu não posso tomar bola nas costas", disse. O apoio de parlamentares pedetistas foi considerado determinante para a aprovação em primeiro turno da PEC, já que o placar foi apertado.

O presidenciável repetiu que a justificativa dada por parte da bancada para dar aval ao projeto foi na intenção de "diminuir os danos, dado que o fato era consumado" e disse ter ouvido dos colegas de partido o discurso de que não se pode fazer uma oposição irresponsável.

O entendimento foi o de que a viabilização do valor de R$ 400 para o Auxílio Brasil seria justificativa para marcar sim ao projeto, que, além do calote em dívidas judiciais da União, permite a expansão de despesas públicas, ao driblar o teto de gastos.

"Quando se viu, a surpresa desagradável, foi que os votos dados significaram a verdadeira vitória da coisa. Isso é intolerável. Um partido como o nosso não pode dar mensagens dúbias. Nós movemos uma oposição intransigente ao governo corrupto, genocida, incompetente e trágico do senhor Jair Messias Bolsonaro", disse Ciro.

Na semana passada, o apoio de deputados dissidentes da oposição, principalmente do PDT e PSB, foi crucial para a vitória do Palácio do Planalto, com acordos costurados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O PDT deu 15 votos a favor da PEC, e o PSB, 10.

Depois da votação em primeiro turno, Ciro afirmou ter suspendido sua candidatura a presidente da República em razão da postura da bancada na Câmara. O enquadro nos colegas de sigla foi uma maneira de pressionar pela mudança de posição e buscar unidade interna em torno de sua campanha.

Apesar da ameaça, correligionários e também opositores trataram com descrédito a posibilidade de o pedetista retirar seu nome da disputa presidencial, a quarta em que ele pretende se envolver. O descompasso evidenciou a lista de obstáculos para o projeto eleitoral do ex-ministro.

Diante da crise, a cúpula do partido atuou para reverter o apoio dos deputados à PEC, que é vista como uma medida de fortalecimento da campanha de Bolsonaro à reeleição.

O trabalho deu resultado. No PDT, 11 deputados mudaram de voto, e passaram a se posicionar contra a PEC no segundo turno da votação, nesta terça. Ainda assim, cinco parlamentares da legenda marcaram sim à proposta. A expectativa na sigla é que esse grupo se desfilie até o ano que vem.

Nesta quarta, Ciro agradeceu publicamente à bancada federal do partido, "que entendeu a necessidade de reavaliar [o assunto], por sua própria consciência" e ao presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que tem lhe dado "toda segurança". Lupi atuou nos últimos dias para reverter os votos favoráveis à PEC.

A mais recente pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial, de setembro, mostra Ciro com 9% das intenções de voto no primeiro turno em um cenário liderado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 44%, seguido de Bolsonaro, com 26%.

João Doria (PSDB) tem 4% e Luiz Henrique Mandetta (DEM), 3%.

Ao comentar o cenário das pesquisas, nesta quarta, o pedetista disse que o Brasil vive uma grave crise econômica e social. "Não podemos deixar que estas eleições sejam um jogo de 'Chico contra Manoel', assentados nos ódios e paixões superficiais, como o Lula e o Bolsonaro preferem."

Para ele, "nenhum dos dois resiste àquilo que precisa ser discutido", as consequências de um modelo de desenvolvimento econômico já superado. O ex-ministro relacionou os problemas a heranças das gestões do PT e de Bolsonaro. "A solução para a tragédia do presente não pode ser uma volta ao passado."

Ciro disse que, diante do quadro complexo, não se pode entregar "o poder a estagiários completamente incapazes, como é o caso do [ex-juiz Sergio] Moro, que acabou de se filiar [ao Podemos]", nesta quarta, em Brasília, com a perspectiva de concorrer ao Planalto em 2022.

O pré-candidato do PDT disparou contra Moro, falando que o ex-ministro da Justiça da gestão Bolsonaro "quer usar a nação brasileira, no momento da sua pior crise, como uma espécie de psiquiatra para resolver a sua brutal crise de identidade [...], de político juiz e juiz político".

Ciro chamou o eventual adversário de despreparado e criticou a atuação dele como magistrado ("disfarçado de juiz, fazia política") e como auxiliar de Bolsonaro. "Nunca foi, no caso brasileiro, um cara como o Sergio Moro capaz de entender o Brasil. Qual é a experiência desse senhor?"

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